Oito anos após o início do conflito na Síria, os opositores, dentro do país, ou no exílio, estão frustrados com a resistência do governo Bashar Al-Assad e afirmam que foram abandonados pela comunidade internacional
Oito anos após o início do conflito na Síria, os opositores, dentro do país, ou no exílio, estão frustrados com a resistência do governo Bashar Al-Assad e afirmam que foram abandonados pela comunidade internacional.O poder do presidente Assad parece mais forte do que nunca em um país devastado pela guerra. Graças ao apoio do Irã e da Rússia, o regime multiplicou suas vitórias contra os rebeldes e contra os extremistas, recuperando dois terços do território nacional."Hoje estou procurando uma pátria", diz, desapontado, Chadi Matar, um jovem opositor sírio nascido em Daraya, perto de Damasco, refugiado na Turquia desde 2017.O militante de 27 anos participou das manifestações pró-democracia iniciadas em março de 2011."Não poderei voltar para a Síria, enquanto o regime continuar de pé. E a maioria dos países que diziam apoiar o povo fechou suas fronteiras para os sírios", explica à AFP.O conflito na Síria se tornou mais complexo ao longo dos anos e com a participação de países estrangeiros. Até agora, mais de 360.000 pessoas morreram, e todas as tentativas diplomáticas de paz falharam.Além disso, o regime está conseguindo romper seu isolamento no mundo árabe. Emirados Árabes Unidos e Bahrein já anunciaram a reabertura de suas embaixadas em Damasco.Ambos faziam parte do grupo de cinco países do Golfo que romperam relações diplomáticas com Assad em 2012."Para os países do Golfo, suas relações com a oposição acabaram. Agora estão com o regime", diz o ativista Bilal Bayouch, da província de Idleb, o último grande reduto rebelde do noroeste da Síria.Mesmo os líderes da oposição no exílio, que participam das negociações patrocinadas pela ONU em Genebra, reconhecem que o momento é complicado."Enquanto o povo sírio morre de frio nos campos de refugiados inundados pelas chuvas de inverno, alguns dos nossos irmãos árabes estão competindo para se aproximar do criminoso", declarou o chefe dos negociadores da oposição, Nasr Hariri, na sexta-feira.No início da guerra, vários países do Golfo, como Arábia Saudita e Catar, apoiaram ativamente a rebelião com dinheiro e armas, mas seu envolvimento diminuiu bastante."Sim, Bashar, o criminoso, pode sair vitorioso. Pode ganhar diante de uma comunidade internacional cúmplice, mas nunca poderá vencer a vontade do povo sírio livre", ressaltou Hariri.As negociações de paz em Genebra foram ofuscadas pelo chamado processo de Astana, iniciado em 2017 e patrocinado por Rússia, Irã e Turquia.- "Revolução órfã" -"A oposição política e militar está passando por sua pior fase", diz Nawar Oliver, especialista em Síria do centro Omran, com sede na Turquia.Para os especialistas, o regime poderia recuperar totalmente os territórios controlados pela comunidade curda após sua implantação, na sexta-feira, na região de Manbij (norte).Idleb continua a ser a única grande fortaleza insurgente que não é controlada pelo governo. A região é dominada por jihadistas, mas também abriga vários grupos rebeldes.Em Idleb, há uma relativa calma desde o acordo firmado em setembro entre Rússia e Turquia para criar uma "zona desmilitarizada", separando os territórios insurgentes das regiões do governo.Para Naji Mustafa, porta-voz da Frente Nacional de Libertação (FNL), uma coalizão rebelde apoiada pela Turquia, as conquistas dos insurgentes não devem ser minimizadas."A revolução resistiu por oito anos, contra as grandes potências que lutam no terreno", diz ele, referindo-se ao Irã e à Rússia.Mustafa, que foi capitão do Exército do regime, desertou em 2012 para se juntar aos rebeldes na província de Aleppo (norte).Aos 38 anos, ele está determinado a continuar a luta, mesmo ciente da realidade."É uma revolução órfã. Foi abandonada pelo mundo inteiro", aponta.bur-rh-tgg/hj/pc/zm/mr/tt