Oposição turca se reúne após anulação de sua vitória em Istambul

O prefeito de Istambul, cuja vitória nas eleições municipais foi anulada após um pedido do partido do presidente Recep Tayyip Erdogan, se reúne nesta terça-feira com líderes da oposição para definir sua estratégia.Ekrem Imamogul deve se encontrar em Ancara com o líder do seu partido, o CHP (social-democrata), Kemal Kiliçdaroglu, e com a líder do partido Iyi (conservador), Meral Aksener.Imamoglu (48 anos) disputou as eleições municipais de 31 de março sob uma candidatura comum destas duas formações, e conseguiu derrotar o candidato do partido presidencial, AKP (conservador-islâmico), o ex-primeiro-ministro Binali Yildirim. Mas na segunda-feira, a Autoridade Eleitoral da Turquia (YSK) anulou sua vitória e ordenou a convocação de eleições para 23 de junho, depois que Erdogan denunciou "irregularidades" e exigiu sua anulação.O CHP condenou esta decisão e denunciou um "golpe contra as urnas", afirmando que a Turquia está mergulhando em uma "ditadura".Por sua vez, Erdogan considerou a decisão como "o melhor passo" para "fortalecer nossa determinação de resolver problemas dentro da estrutura da democracia e da lei".A derrota do AKP nesta megalópole, que governava por 25 anos, foi um grande revés para Erdogan, que declarou em várias ocasiões que "quem ganha em Istambul, ganha na Turquia".Para conseguir a anulação da votação, o AKP apresentou uma série de recursos perante as autoridades eleitorais, enquanto Erdogan solicitou reiteradamente a realização de novas eleições. "Acreditamos sinceramente que as eleições foram marcadas por abusos cometidos de maneira organizada", declarou Erdogan nesta terça-feira, evocando "uma usurpação da vontade popular".O AKP de Erdogan também perdeu a capital Ancara, uma derrota justificada principalmente pela tempestade econômica que varre o país, com a primeira recessão em 10 anos, uma inflação de 20% e uma moeda desvalorizada.O YSK anunciou que a nova votação em Istambul vai acontecer no dia 23 de junho e será disputada entre Imamoglu e Binali Yildirim, que foi derrotado por uma diferença de menos de 13.000 votos.Para Imamoglu, que venceu apesar das condições amplamente desequilibradas de campanha em favor de seu adversário, a anulação da votação soa como um golpe.Apesar de tudo, quis tranquilizar e seus partidários e se mostrar combativo na segunda-feira à noite, pedindo a seus seguidores reunidos em Istambul para "não se desesperar". "Nós nunca vamos desistir", disse ele.Vários milhares de simpatizantes do Imamogul protestaram na segunda-feira à noite em Kadiköy, um distrito na costa asiática de Istambul, contra a decisão da Autoridade Eleitoral."É o colapso da democracia já em declínio na Turquia. O processo que virá está condenado a ser ainda pior", lamentou Ali Yamaç, um partidário de Imamoglu.A decisão de anulação da votação pode reforçar as acusações de autoritarismo contra Erdogan, quando organizações de defesa dos direitos Humanos traçam um retrato cada vez mais sombrio da Turquia desde o golpe fracassado de 2016, que foi seguido de expurgos em massa.Para o centro de análise Soufan Center, "a recente interferência nas eleições é um sinal claro que Erdogan está determinado a alcançar um poder absoluto a qualquer preço".Após a decisão da YSK, a União Europeia pediu na segunda-feira que as autoridades turcas autorizem observadores internacionais para a nova votação em junho. Por sua vez, o ministro alemão das Relações Exteriores, Heiko Maas, descreveu como "incompreensível" a anulação da vitória e exortou "o respeito pelos princípios democráticos básicos, em condições eleitorais transparentes". gkg/ezz/jvb/zm/mr