Pesquisadores da missão ANITA, apoiada pela NASA, detectam emissões que não se encaixam em partículas conhecidas como neutrinos e levantam novas perguntas sobre fenômenos subglaciais
(Reprodução)
Pesquisadores envolvidos na missão ANITA (Antena Impulsiva Transiente Antártica), projeto financiado pela NASA, detectaram sinais de rádio incomuns vindos de regiões profundas sob o gelo da Antártida. A descoberta, considerada inesperada, foi registrada por instrumentos transportados por um balão estratosférico a cerca de 40 quilômetros de altitude, e ainda não possui explicação confirmada.
Originalmente projetado para detectar neutrinos de alta energia vindos do espaço, o experimento registrou ondas que pareciam surgir do interior da Terra, a cerca de 30 graus abaixo da superfície da camada de gelo. O fenômeno chamou a atenção porque esses sinais, segundo os pesquisadores, precisariam atravessar milhares de quilômetros de rocha sólida, o que teoricamente os faria ser completamente absorvidos.
A descoberta foi descrita em um artigo publicado na revista Physical Review Letters sob o título "Busca pelos Eventos Anômalos Detectados pela ANITA Usando o Observatório Pierre Auger", assinado por A. Abdul Halim e colaboradores da Colaboração Pierre Auger (Rev. Lett 134, 121003; doi: 10.1103/PhysRevLett.134.121003). O artigo foi baseado em informações do comunicado de imprensa da Penn State University.
De acordo com o material, os sinais não condiziam com as características esperadas de interações de neutrinos, partículas subatômicas conhecidas por atravessarem a matéria com extrema facilidade e por serem difíceis de detectar. Apesar disso, os ângulos e a natureza dos sinais registrados não correspondiam ao comportamento esperado dessas partículas.
A hipótese de se tratar de neutrinos foi descartada após análises que cruzaram os dados com informações de dois outros experimentos, entre eles o Observatório Pierre Auger. Nenhuma correspondência foi encontrada que confirmasse a detecção de eventos típicos de neutrinos.
Desde então, a equipe passou a considerar outras possibilidades, como interações ligadas à matéria escura ou até mesmo comportamentos ainda desconhecidos das ondas de rádio ao redor do gelo e do horizonte. Nenhuma dessas hipóteses, porém, foi confirmada.
O isolamento geográfico da Antártida e a baixa interferência de sinais de rádio externos tornam a região ideal para esse tipo de experimento. Mesmo assim, os dados levantaram questionamentos sobre fenômenos ainda não compreendidos no ambiente subglacial.
Os pesquisadores reforçam que são necessários mais estudos e experimentos para compreender a origem dos sinais detectados. Por enquanto, o fenômeno permanece um mistério científico.
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