COMPORTAMENTO

O fim da publicidade de refrigerantes para crianças

De acordo com a associação, muitas marcas de bebidas não-alcoólicas fabricadas no Brasil já adotaram totalmente a suspensão

Inaê Miranda
08/03/2016 às 14:20.
Atualizado em 23/04/2022 às 01:48
Ana Paula incentiva os filhos Giovani e Isabele a manter rotina saudável na alimentação; família mantém horta de onde colhem verduras e legumes consumidos (Patrícia Domingos)

Ana Paula incentiva os filhos Giovani e Isabele a manter rotina saudável na alimentação; família mantém horta de onde colhem verduras e legumes consumidos (Patrícia Domingos)

As propagandas de refrigerantes e outras bebidas adocicadas voltadas para o público infantil estão com os dias contados. As indústrias do setor foram orientadas pela Associação Brasileira de Refrigerantes e de Bebidas não Alcoólicas (Abir) a suspender a veiculação da publicidade para crianças menores de 12 anos. Entre os associados da Abir estão Coca-Cola, Pepsi, Brasil Kirin, Ambev e Danone. Ainda não há prazos para a suspensão. A associação diz que respeitará os calendários próprios de cada associado e trabalha nos ajustes de um texto final do compromisso. Em Campinas, profissionais da saúde, escolas e pais afirmam que a medida é um avanço. Os associados da Abir, que respondem por 85% da produção de refrigerantes, sucos, chás, isotônicos e águas no País, já vêm reduzindo o volume de publicidade e de promoções voltadas para as crianças. De acordo com a associação, muitas marcas de bebidas não-alcoólicas fabricadas no Brasil já adotaram totalmente a suspensão. Em 2013, a Coca-Cola anunciou um compromisso global de combate à obesidade que incluía o fim da publicidade a menores de 12 anos em qualquer lugar do mundo, oferta de produtos em embalagens menores, de produtos com baixa caloria e sem caloria e exposição do conteúdo calórico em suas embalagens. A iniciativa que visa a suspensão total da publicidade direcionada às crianças está, segundo a Abir, “em linha com compromissos internacionais já assumidos”. “O tema tem sido debatido desde 2015 pelos membros da Abir e há um consenso da diretoria sobre o assunto, falta apenas fechar o documento final do compromisso e definir o monitoramento para eficácia na decisão”, informa. Doenças Em 2010, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou a redução da exposição das crianças à propaganda de alimentos, sobretudo aqueles com alto teor de açúcar, sal e gordura numa tentativa de frear a epidemia de obesidade e doenças crônicas em crianças. A medida adotada pela Abir está também em consonância com a resolução 163 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), que considera abusiva toda publicidade direcionada às crianças com a intenção de persuadi-la para o consumo de qualquer produto ou serviço, por meio de aspectos como linguagem infantil, excesso de cores; trilhas sonoras de músicas infantis ou cantadas por vozes de criança. Nutricionista e doutora em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Daniela de Assumpção afirma que a Abir “toma uma iniciativa louvável para a redução de danos à saúde das crianças e dos adolescentes”. Ela ressalta que os índices de obesidade e sobrepeso em crianças e adolescentes no Brasil são altos. Dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares de 2008-09, apontam que entre as crianças de 5 a 9 anos, o excesso de peso chega a 33,5% e a obesidade a 14,3%; Entre os adolescentes de 10 a 19 anos, o excesso de peso atinge uma prevalência de 20,5% e a obesidade 4,9%. “As crianças e os adolescentes se encontram em uma fase de crescimento físico, de construção da identidade e formação do hábito alimentar. Por isso, a propaganda pode ocasionar danos à saúde das crianças e dos adolescentes, uma vez que influencia as crianças e os pais a comprarem produtos pobres em nutrientes e fibras e que afetam a aceitação de alimentos saudáveis pelos jovens”, diz. Lena Cypriano, diretora pedagógica do Colégio Progresso, afirma que as crianças são mais suscetíveis à propaganda e ressalta que além da suspensão é necessário também o trabalho de conscientização das famílias sobre a importância de uma alimentação saudável. Ela diz que a escola adota a prática de não vender refrigerantes nas cantinas pela preocupação com o controle da obesidade e outras doenças crônicas. “Nossa nutricionista orienta para alguns sucos com menor teor de açúcar.” Hábito A cirurgiã dentista Ana Paula Clemente, mãe do Giovani, de 11 anos, e da Isabele, de 8 anos, procura manter os filhos afastados das bebidas açucaradas. A alimentação em casa é balanceada com direito a verduras e frutas colhidas da horta. Refrigerante só eventualmente. “Eles têm uma alimentação saudável, comem todos os tipos de legumes, verduras”, diz. Para Ana Paula, a medida já deveria ter sido adotada pela Abir há tempos. “Acho que a criança hoje é totalmente ligada à publicidade, seja na internet, na TV, no rádio. É uma geração muito consumista e fica instigada pela imagem. E a indústria, antes de querer ter lucro, tem que saber que a saúde das pessoas está envolvida”, completa.

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