Em relato devastador para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, afirmou categoricamente nesta quinta-feira, diante do juiz Sérgio Moro, que "o apartamento era do presidente Lula"
Em relato devastador para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, afirmou categoricamente nesta quinta-feira, diante do juiz Sérgio Moro, que “o apartamento era do presidente Lula”. O executivo se referia ao triplex 164-A do Edifício Solaris, no Guarujá, Litoral Sul de São Paulo. “O sr. entende que deu a propriedade do apartamento para o presidente?”, indagou o advogado de Lula Cristiano Zanin Martins. “O apartamento era do presidente Lula. Desde o dia que me passaram para estudar os empreendimentos da Bancoop já foi me dito que era do presidente Lula e sua família e que eu não comercializasse e tratasse aquilo como propriedade do presidente”, afirmou o empreiteiro. Durante o depoimento, Zanin questionou Léo Pinheiro sobre a chave do apartamento. “Não existia a chave, porque não existia o andar feito”, afirmou. A denúncia do Ministério Público Federal (MPF) sustenta que Lula recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio — de um valor de R$ 87 milhões de corrupção — da empreiteira OAS, entre 2006 e 2012. As acusações contra Lula são relativas ao recebimento de vantagens ilícitas da empreiteira OAS por meio do triplex no Guarujá, no Solaris, e ao armazenamento de bens do acervo presidencial, mantido pela transportadora Granero de 2011 a 2016. O Edifício Solaris era da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), a cooperativa fundada nos anos 1990 por um núcleo do PT. Em dificuldade financeira, a Bancoop repassou para a OAS empreendimentos inacabados, o que provocou a revolta de milhares de cooperados — eles protestam na Justiça que a empreiteira cobrou valores muito acima do previso contratualmente. O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto foi presidente da Bancoop. A ex-primeira-dama Marisa Letícia (morta neste ano) assinou Termo de Adesão e Compromisso de Participação com a Bancoop e adquiriu “uma cota-parte para a implantação do empreendimento então denominado Mar Cantábrico”, atual Solaris, em abril de 2005. Em 2009, a Bancoop repassou o empreendimento à OAS e deu duas opções aos cooperados: solicitar a devolução dos recursos financeiros integralizados no empreendimento ou adquirir uma unidade da OAS, por um valor pré-estabelecido, utilizando, como parte do pagamento, o valor já pago à cooperativa. Em 2015, Marisa Letícia pediu a restituição dos valores colocados no empreendimento. Léo Pinheiro, da OAS, também declarou em interrogatório ao juiz federal Sérgio Moro, que para bancar a reforma no triplex — cuja propriedade a Lava Jato atribui ao ex-presidente Lula — “usou dinheiro de propina”. Foi uma resposta ao questionamento do advogado do petista, Cristiano Zanin Martins. “O sr. usou valores provenientes da Petrobras para fazer alguma reforma nesse imóvel?”, perguntou o defensor. “Não, não, não”, respondeu o empreiteiro, já condenado na Lava Jato a 26 anos de prisão e que negocia delação premiada com a Procuradoria-Geral da República. “Usei valores de pagamento de propinas para poder fazer encontro de contas.” Em nota, Martins afirmou que “Léo Pinheiro no lugar de se defender (...) contou uma versão acordada com o MPF como pressuposto para aceitação de uma delação premiada que poderá tirá-lo da prisão. Ele foi claramente incumbido de criar uma narrativa que sustentasse ser Lula o proprietário do chamado triplex do Guarujá. É a palavra dele contra o depoimento de 73 testemunhas, inclusive funcionários da OAS, negando ser Lula o dono do imóvel”, disse em um dos trechos. Petista teria orientado destruição de provas Léo Pinheiro, da OAS, também declarou ontem ao juiz federal Sérgio Moro que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, réu da Lava Jato, o teria orientado a destruir provas de pagamentos via caixa dois ao PT no Exterior. “Se tiver destrua!”, foi a ordem do petista, segundo o empresário. “Eu tive um encontro com o presidente em junho (de 2014), bom isso tenho anotado na minha agenda”, disse Pinheiro. “São vários encontros onde o presidente, textualmente, me fez a seguinte pergunta. ‘Léo’, até notei que ele tava um pouquinho irritado, ‘Léo, você fez algum pagamento ao João Vaccari no Exterior?’ Eu disse: “não presidente, eu nunca fiz pagamento dessas contas que temos com Vaccari no Exterior’”, continuou o sócio da OAS. Lula insistiu, ainda de acordo com as revelações do empreiteiro. “Como é que você está procedendo os pagamentos para o PT através do João Vaccari?” “Estou fazendo os pagamentos através de orientação do Vaccari, de caixa 2, de doações diversas que fizemos a diretórios.” E Lula, então, deu a ordem, segundo o empreiteiro. “Você tem algum registro de encontro de contas, de alguma coisa feita com Vaccari com você? Se tiver destrua.” “Acho que quanto a isso não tem dúvida”, afirmou Léo Pinheiro. Todas as declarações do executivo foram rebatidas pela defesa de Lula. (EC)