ESCOLAS

Número de supervisores de ensino cai em SP

Hoje, há um supervisor para cada 14 escolas, em média. Os dados foram obtidos pela reportagem por meio da Lei de Acesso à Informação

Estadão Conteúdo
14/06/2016 às 08:29.
Atualizado em 22/04/2022 às 23:59

O número de supervisores escolares caiu na gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). Além de não acompanhar a expansão das unidades de educação infantil - foram celebrados 342 convênios terceirizados entre 2013 e 2016 -, a falta de concurso público fez o número de funcionários responsáveis por fiscalizar todas os equipamentos escolares no Município passar de 320, em 2012 - último ano da gestão Gilberto Kassab (PSD) -, para 249 neste ano. Hoje, há um supervisor para cada 14 escolas, em média. Os dados foram obtidos pela reportagem por meio da Lei de Acesso à Informação. O supervisor escolar é o responsável por orientar, acompanhar e avaliar a implementação das diretrizes da política educacional do Município nas redes direta, conveniada, indireta (com prédio próprio da Prefeitura, mas administrada por uma entidade terceirizada) e em creches da rede privada. Esse profissional deve monitorar a qualidade de serviços como alimentação, programa político-pedagógico e condições físicas do espaço. As informações coletadas são repassadas aos chefes das 13 Diretorias Regionais de Ensino. A Prefeitura, por meio de nota, informou que as vagas ociosas foram preenchidas temporariamente por profissionais deslocados da direção de outras unidades. Segundo a gestão Haddad, foi feito concurso público para o cargo de supervisor no fim do ano passado e os servidores devem ser nomeados neste ano. O último concurso havia sido feito em 2005 e os servidores foram nomeados no ano seguinte. Queixas Apesar de a Prefeitura alegar que não há falta de profissionais, o número reduzido de supervisores concursados tem causado reclamações na rede. Com a diminuição da quantidade de profissionais, as funções do cargo estão mais limitadas. "Hoje, o supervisor acaba fazendo só o serviço burocrático de checar livro de ponto, ausência e frequência. Quase não há suporte pedagógico", diz o secretário-geral do Sindicato dos Profissionais em Educação no Ensino Municipal de São Paulo (Sinpeem), Cleiton Gomes da Silva. De acordo com Silva, o problema afeta não só o trabalho administrativo, mas os alunos. "Há uma sobrecarga nos supervisores e isso faz com que eles só conversem com os diretores e coordenadores. Eles não conseguem fazer uma interferência mais ativa na unidade. Só quando já existe um problema deflagrado, uma denúncia, mau uso de alguma coisa. O supervisor acaba funcionando como uma espécie de bombeiro", explica. De acordo com uma supervisora ouvida pelo Estado sob condição de anonimato, o aumento da rede conveniada e a obrigatoriedade de atendimento de alunos de 4 e 5 anos neste ano dificultou o trabalho dos profissionais. "Se você fica com muita demanda pulverizada, aquele tempo necessário para sentar e aprofundar na análise de uma escola, para ajudar o aluno, fica comprometido. Fica tudo muito objetivo, reduzido. Não dá para sentar e discutir um projeto para melhorar o desempenho dos alunos. Isso nos preocupa", aponta. "Dependendo da região, você encontra supervisores atendendo até 17 escolas. Dá para ir duas vezes por mês e é preciso priorizar uma ou outra unidade." Demanda De todas as diretorias regionais da capital, só duas mantiveram o número de supervisores ao longo da gestão - Butantã, na zona oeste, e Penha, na zona leste. Em outras, fatores como aposentadoria dos servidores e afastamento por motivos de doença dificultaram o atendimento às unidades, especialmente na periferia. São Mateus, na zona leste, é a que mais perdeu supervisores - eram 26 em 2012, ante 10 em 2016. Além disso, a falta de monitoramento faz creches recentemente conveniadas não receberem o acompanhamento necessário. O Estado já mostrou que a gestão Haddad foi a que mais firmou convênios com creches terceirizadas, parte delas sem infraestrutura adequada. Em algumas unidades há falta de mesa para os professores, banheiros sem divisórias e até parques dentro de salas de aula. "É impossível para os supervisores fazerem acompanhamento pedagógico de qualidade. O tempo deles é muito escasso", disse o gerente de uma creche conveniada em São Miguel Paulista, Adriano Oliveira. "Eles passam, cumprem tabela, assinam a papelada e vão embora. Aqui ainda dei a sorte de ter um supervisor muito bom, que procura passar uma vez a cada dez dias. Mas tem lugar que eles passam uma vez por mês", disse. Outro problema é o "efeito cascata": para suprir a demanda crescente, a Prefeitura tem deslocado diretores e coordenadores pedagógicos - há, no momento, 86 funcionários deslocados de funções. Os profissionais devem ter pelo menos três anos em algum cargo de gestão educacional e seis de Magistério. "É o cobertor curto. Você tira o coordenador para ser supervisor e coloca um professor no lugar dele. E aí a escola fica sem professor", critica Silva.

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