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Novo coronavírus existia no Brasil em novembro

O novo coronavírus já estava no Brasil em novembro de 2019, conforme apontam pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina

Estadão Conteudo
Estadão Conteúdo
03/07/2020 às 08:03.
Atualizado em 28/03/2022 às 23:44
O novo coronavírus detectado no esgoto de Florianópolis é, até o momento, o primeiro caso das Américas (istock Images)

O novo coronavírus detectado no esgoto de Florianópolis é, até o momento, o primeiro caso das Américas (istock Images)

O novo coronavírus já estava no Brasil em novembro de 2019, conforme apontam pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foram encontrados registros de RNA do vírus no esgoto de Florianópolis. As duas amostras que compõem o primeiro registro da doença nas Américas foram colhidas em 27 de novembro de 2019, dois meses antes do primeiro caso clínico ser relatado no Brasil, e foram acessadas pelos pesquisadores em 9 de junho deste ano. O primeiro caso identificado pelo Ministério da Saúde foi no fim de janeiro deste ano. As amostras estavam congeladas e o resultado da pesquisa foi divulgado ontem. A descoberta inédita é descrita na pesquisa SARS-CoV-2 in human sewage in Santa Catarina, Brazil, November 2019, de pesquisadores da instituição federal no Estado, da Universidade de Burgos (Espanha) e da startup BiomeHub. O artigo científico passa por revisão e teve versão preliminar distribuída pelo site MedRxiv. A pesquisadora Gislaine Fongaro, do Laboratório de Virologia Aplicada da universidade, explicou que a descoberta não significa que a pandemia teve origem no Brasil, mas que ela começou antes do que se imagina. Ela lembra que estudos semelhantes encontraram o SAR-CoV-2 no esgoto de Wuhan, na China, em outubro, e na Itália no início de dezembro, antes do vírus ser descrito, em 31 de dezembro de 2019. "Devemos, sim, olhar para amostras retroativas de pacientes também, se tivermos essas amostras, para entender o fluxo do vírus", indicou Gislaine. A pesquisadora diz que o desconhecimento da doença mundialmente antes de dezembro pode ter impedido o diagnóstico correto em pacientes. "Antes da descrição do vírus, não se tinha como desconfiar porque não se sabia que o vírus existia. Talvez com esse estudo a gente consiga, agora, olhar para amostras retroativas também de pacientes para saber desde quando o vírus circulava. É possível que pacientes com problemas pneumônicos ou outros problemas respiratórios poderiam estar com SAR-CoV-2, mas não se buscava ele", explicou ela em coletiva realizada na tarde de ontem. O estudo também é o primeiro nas Américas a analisar o esgoto de forma retrospectiva, como já ocorreu na Europa e Ásia. Em quatro coletas seguidas, o estudo também apontou um avanço na presença de genomas do vírus nas amostras analisadas. A carga constatada em 27 de novembro foi considerada baixa: 100 mil cópias de genoma do vírus por litro. Depois disso, em 11 de dezembro e 20 de fevereiro, as amostras deram positivo em doses mais elevadas. Até que em 4 de março a carga de SARS-CoV-2 chegou a um milhão de cópias de genoma por litro de esgoto. "As pessoas não precisam ficar apavoradas com a contaminação. O esgoto só é uma representatividade do que já tem na população", disse a pesquisadora. Ela pondera que as pessoas podem ou não ter ficado doentes neste período, e ter atribuído algum sintoma a outras doenças. Amostras colhidas em 30 de outubro e 6 de novembro, por exemplo, não apresentaram traço do vírus, o que poderia delimitar um marco temporal aos avanços da pesquisa. Coletas no esgoto As coletas foram realizadas em pontos de transporte do esgoto sanitário da capital catarinense e, segundo a pesquisadora, indica que o vírus já circulava até 20 dias antes do primeiro registro apontado pela pesquisa. "Quando você já está excretando o vírus, significa que ele já passou pelo sistema respiratório, pelo sistema gastrointestinal. São pessoas que já estão 15 ou 20 dias com o vírus, é o que tem apontado as pesquisas".

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