Cientistas reunidos em conferência sobre a doença no Canadá garantem que o cenário atual de pesquisa é mais animador do que nunca
Embora a cura do HIV continue distante, os cientistas garantem que o cenário atual de pesquisa é mais animador do que nunca - diante de novas perspectivas divulgadas durante a conferência internacional sobre a Aids realizada esta semana no Canadá. Entre os trabalhos apresentados, informações sobre os progressos em terapias genéticas e o uso de anticorpos para neutralizar o HIV, assim como investigações sobre porque algumas pessoas infectadas são capazes de se manter em remissão sem medicação após tratamentos e uma hipótese de que as vacinas - ainda por serem inventadas - poderiam ser usadas para "chocar e matar" o vírus. "O conhecimento sobre o vírus, sua evolução e a resposta do corpo ao HIV está ajudando a limitar e centralizar o enfoque sobre a cura do HIV na agenda de pesquisa", afirmou Françoise Barre-Sinoussi, do Instituto Pasteur da França, prêmio Nobel e ex-presidente da conferência.Uma pesquisa divulgada por Christopher Peterson, do centro de pesquisa em câncer Fred Hutchinson de Seattle, Washington (noroeste dos Estados Unidos), divulgou descobertas de um estudo sobre células-tronco modificadas em macacos. Os especialistas "editaram" com sucesso as células para bloquear a entrada do HIV no sistema de células imunes através de corredores de receptores conhecidos como "cavalo de Troia", informou o estudo. "Com um número suficiente de células protegidas, o vírus não deveria ser capaz de se expandir e estaríamos diante de uma cura funcional", afirmou Peterson a jornalistas durante a 8ª Conferência sobre a Patogênese do HIV, em Vancouver, por onde passaram cerca de 6 mil pesquisadores e especialistas em HIV. Outro estudo, liderado por John Mascola, do US National Institutes of Health, administrou anticorpos monoclonais HIV-1 a oito pessoas infectadas com o vírus.Três meses após receber os anticorpos, a carga viral em seis deles "decresceu aproximadamente entre dez e 50 vezes", afirmou o relatório de Mascola. As outras duas pessoas tinham uma cepa resistente ao anticorpo utilizado, agregou. Os anticorpos podem ter vários usos para tratar a Aids, inclusive a possibilidade de ajudar a "matar o reservatório vital" que se esconde nas células dos infectados, explicou Mascola em coletiva de imprensa. - Mais perguntas - Nenhuma das novas descobertas levou a tratamentos práticos e todos "todos geraram mais perguntas do que respostas", afirmou Steven Deeks da Universidade da Califórnia, San Francisco.Mas Deeks argumentou que as descobertas levarão a "maiores estudos, que podem falhar, mas continuarão levando a novos trabalhos. É assim que a ciência funciona". Asier Saez-Cirion, do Instituto Pasteur, dirigiu uma pesquisa em uma jovem francesa de 18 anos que nasceu infectada com o HIV cuja família suspendeu o tratamento durante vários anos e mesmo assim a doença se manteve em remissão durante 12 anos. Nunca antes se havia sabido de um caso no qual uma criança infectada pelo HIV tenha se beneficiado com uma remissão a longo prazo, embora ainda não se saiba como a jovem conseguiu controlar a infecção. Ainda "precisamos de muita pesquisa de base", explicou Saez-Cirion. Os pesquisadores convidaram a seguir financiando a busca por uma cura, ainda que as pesquisas não mostrem resultados imediatos. "Menos de 1% do financiamento (global) para a Aids é para a investigação de uma cura", enfatizou o pesquisador australiano Sharon Lewin.Lewin disse à AFP que o sucesso no tratamento de pessoas infectadas pode fazer com que as autoridades e as pessoas pensem que "a Aids e o HIV não são grande coisa, que é uma questão resolvida, quando a realidade é que ainda há dois milhões de novos infectados, 1,5 milhões de mortes a cada ano e 35 milhões de pessoas vivendo com HIV". O próximo passo nas investigações inclui testes clínicos para ajudar os infectados a se manterem em remissão - após suspender o tratamento com antirretrovirais -, tratamentos de "choque e cura" e reforçar o sistema imunológico dos pacientes.