ARQUIPÉLAGO

Nova Caledônia diz não à independência

A Nova Caledônia votou neste domingo (4) "não" à independência e optou por permanecer na França

AFP
04/11/2018 às 10:10.
Atualizado em 05/04/2022 às 22:39

A Nova Caledônia votou neste domingo (4) "não" à independência e optou por permanecer na França, ao final de um referendo histórico neste estratégico território do Pacífico de 270.000 habitantes. De acordo com resultados parciais, após a apuração de 128.618 votos, o "não" à independência vencia com 59,68% dos votos contra 40,32% a favor do "sim", segundo a autoridade eleitoral. A participação foi massiva, cerca de 80% dos eleitores. Os 175 mil habitantes desse arquipélago francês, localizado cerca de 1.500 quilômetros a leste da Austrália, tiveram que decidir se queriam que "a Nova Caledônia aderisse à plena soberania e fosse independente". As pesquisas já previam uma clara vitória do "não", com entre 63% e 75%. Os resultados ainda pendentes da capital Nouméa devem ampliar o voto pelo não à independência. Vários carros foram incendiados e pedras foram jogadas no domingo à noite, de acordo com fontes locais. Os principais líderes políticos já haviam avisado que uma vitória do "não" poderia incitar os jovens canacos (locais) e marginalizados a gerar tumultos. O referendo neste arquipélago do Pacífico, onde a França se estabeleceu em 1853 e que dispõe de uma das maiores reservas de níquel do mundo, foi seguido de perto por Paris, a 18.000 km de distância. O presidente francês, Emmanuel Macron, fará um discurso às 23h00 (10h00 no horário de Brasília), após o anúncio dos resultados. Para garantir o desenvolvimento adequado do plebiscito, o Estado enviou 250 delegados, além de contar com a presença de observadores da ONU nas seções eleitorais. Macron manteve oficialmente uma posição neutra e não quis "tomar partido" durante a campanha do referendo. No entanto, disse que "a França seria menos bonita sem a Nova Caledônia", durante uma visita em maio à Nouméa, uma declaração que reflete a natureza estratégica deste arquipélago. Para o primeiro-ministro francês, Edouard Philippe, este referendo marca "o começo da Nova Caledônia que quer construir um futuro". Campanha muito tranquila O referendo previsto após o acordo de Nouméa de 1998 também deve servir para reconciliar os canacos, que representam menos de 40% da população, e os caldoches de origem europeia. Durante os anos 1980, houve uma sucessão de confrontos violentos na Nova Caledônia, cujo episódio mais trágico foi a tomada de reféns na ilha de Ouvea em maio de 1988, no qual 25 pessoas morreram, incluindo 19 separatistas canacos. Por outro lado, a calma prevaleceu durante a campanha do referendo. Enquanto as províncias do Norte e as Ilhas da Loyauté, de maioria independentista, se encheram de bandeiras separatistas, os defensores da unidade com a França praticamente não penduraram bandeiras. "Este é um momento histórico que todos esperavam, mas, paradoxalmente, perdeu sua intensidade", explicou Pierre-Christophe Pantz, PhD em geopolítica. "A campanha tem sido muito tranquila, o referendo não atraiu muita atenção", diz Pantz, que destaca que "os caledonianos acham que isso não mudará sua vida cotidiana". Grande desigualdade social Soumynie Mene, militante idependentista, de 38 anos, considerou "uma pena que as pessoas não sintam um grande interesse em um referendo que preparamos há 30 anos" e que lhes permitiria "virar a página da colonização". O FLNKS, principal partido pró-independência, defendeu que uma vitória do "Sim" não representaria uma ruptura total com a França, mas manteria uma relação privilegiada com este país. As formações que defendem a permanência, com fortes divisões internas, lembram que Paris contribui com ajudas anuais de 1,3 bilhão de euros (cerca de 1,4 bilhão de dólares) para o arquipélago. Apesar de trinta anos em que a autonomia da Nova Caledônia progrediu e o reconhecimento da identidade dos canacos, continuam a haver grandes desigualdades econômicas, educacionais e trabalhistas entre a população de origem europeia este povo originário."Ainda há problemas de integração e um sentimento de injustiça presente na sociedade", diz Paul Fizin, doutor em História.

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