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Noite de protestos termina em mais de 200 detidos na Tunísia

Mais de 200 pessoas foram detidas, e dezenas ficaram feridas em várias cidades da Tunísia - relatou o Ministério tunisiano do Interior nesta quarta-feira (10), após uma segunda noite de distúrbios causados por medidas de austeridade, sete anos depois da chamada "Primavera Árabe"

AFP
10/01/2018 às 18:40.
Atualizado em 22/04/2022 às 10:43

Mais de 200 pessoas foram detidas, e dezenas ficaram feridas em várias cidades da Tunísia - relatou o Ministério tunisiano do Interior nesta quarta-feira (10), após uma segunda noite de distúrbios causados por medidas de austeridade, sete anos depois da chamada "Primavera Árabe".As manifestações pacíficas e esporádicas haviam começado na semana passada contra o aumento dos preços e medidas de austeridade em vigor desde o dia 1º e que incluem um aumento dos impostos.Os protestos degeneraram em distúrbios na segunda-feira à noite, especialmente em Túnis e Teburba, a oeste da capital, onde um homem faleceu durante uma manifestação.Durante uma visita nesta quarta-feira a El Battan, perto de Teburba, o primeiro-ministro tunisiano, Yusef Shahed, condenou os atos de vandalismo, que, segundo ele, "servem aos interesses das redes de corrupção para enfraquecer o Estado" e acusou a Frente Popular, um partido de esquerda que se opõe ao orçamento. Na segunda noite de enfrentamentos, 49 policiais ficaram feridos e 206 pessoas foram detidas, informou nesta quarta-feira o porta-voz do Ministério, Khlifa Chibani."Há saques e roubos, mas também uma mensagem política de uma parte da população que não tem nada a perder e que se sente ignorada pelo governo", sete anos após a Primavera Árabe exigindo emprego e dignidade, aponta o cientista político Selim Jarrat.Ele destaca que muitos edifícios públicos, símbolos do Estado, foram atacados, e que o governo "ainda não se posicionou com firmeza contra os manifestantes".- Saques -Um supermercado na periferia sua de Túnis da rede Carrefour do sul da capital foi saqueado por jovens que levaram dinheiro e mercadorias, de acordo com Mohamed Baccuche, diretor-adjunto da rede. En Sidi Buzid, cidade no centro do país, onde em dezembro de 2010 começaram os protestos que marcaram o início da Primavera Árabe, grupos de jovens fecharam estradas e lançaram pedras na polícia, que respondeu com bombas de gás lacrimogêneo durante boa parte da noite.Também houve incidentes em Gafsa (sul), Kasserin (centro), Jedaida (norte) e outros bairros populares de Túnis, constataram jornalistas da AFP. Mas o país estava mais calmo na manhã desta quarta-feira.Em Tebourba, 30 km ao oeste da capital, centenas de jovens tomaram as ruas após o enterro de um homem de 45 anos morto nos distúrbios da noite anterior.O ministro de Saúde, Imed Hamami, garantiu que o resultado da autópsia será publicado nesta quinta-feira.Persiste a polêmica sobre as causas da morte desse homem que está sendo considerado um "mártir" pelos manifestantes. Os resultados da necropsia feita ontem não foram divulgados.O Ministério do Interior negou que ele tenha morrido nas mãos da Polícia e destacou que ele não apresentava qualquer sinal de violência. O porta-voz Khlifa Chibani disse apenas que o indivíduo tinha "problemas respiratórios".Esses incidentes acontecem em um contexto de reivindicações sociais no país contra as medidas de austeridade previstas pelo governo.Após vários anos de marasmo econômico e contratações em massa de funcionários, a Tunísia enfrenta dificuldades financeiras significativas.A inflação ultrapassou 6% no final de 2017, enquanto a dívida pública e o déficit comercial atingiram níveis preocupantes.Os ativistas da campanha "Fech Nestannew" ("O que estamos esperando"), lançada no início do ano contra o aumento dos preços, convocaram uma manifestação em massa na sexta-feira.O mês de janeiro é tradicionalmente marcado por protestos na Tunísia desde a revolução de 2011. O contexto é especialmente tenso este ano, em vista da celebração em maio das primeiras eleições municipais desde a Primavera Árabe.

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