PRÊMIO

Nobel de Literatura para a canadense Alice Munro

O júri considerou Munro uma "mestra da narrativa breve contemporânea" e elogiou "sua sutil narrativa"

France Press
10/10/2013 às 10:48.
Atualizado em 25/04/2022 às 00:46
A vencedora do Prêmio Nobel de literatura em 2013, a escritora canadense Alice Munro (France Press)

A vencedora do Prêmio Nobel de literatura em 2013, a escritora canadense Alice Munro (France Press)

A canadense Alice Munro, de 82 anos, foi coroada nesta quinta-feira com o Prêmio Nobel de Literatura por seus contos curtos que exploram com sutileza as complexas relações entre homens e mulheres, a memória e a velhice. Munro, nascida em Ontario em 1931, é a primeira pessoa de nacionalidade canadense e a 13ª mulher a receber o mais importante prêmio da literatura mundial desde 1901. Em 1976, Saul Below, nascido no Canadá mas de nacionalidade americana, também recebeu o prêmio. A Academia de Estocolmo considerou Munro uma "mestra da narrativa breve contemporânea" e elogiou "sua sutil narrativa, que se caracteriza pela clareza e o realismo psicológico". "Estou incrivelmente surpresa", declarou Munro ao receber a notícia do prêmio. "Eu sabia que estava na disputa, sim, mas nunca pesei que venceria", disse Munro ao canal CBC. Os temas e o estilo da autora de "Felicidade Demais", "Fugitiva" e "O Amor de uma Boa Mulher", marcados por silêncios e pela presença de um narrador que explica o sentido dos acontecimentos, valeram a menção de "Chekhov do Canadá", em referência ao escritor russo Anton Chekhov. Entre suas obras figuram "Who Do You Think You Are?" (1978), "The Moons of Jupiter" (1982), "Runaway" (Fugitiva, 2004), "The View of Castle Rock" (2006) e "Too Much Hapiness" (Felicidade Demais, 2009). Em 2012, publicou sua última obra, "Dear Life". "Escreve sobre as mulheres e para as mulheres, mas não demoniza os homens", disse David Homel, escritor, tradutor e crítico literário americano que mora em Montreal. Esta é primeira vez, em 112 anos, que a academia sueca premia um autor que escreve apenas contos. Com Munro, 27 escritores de língua inglesa venceram o Nobel. "Suas histórias se desenvolvem geralmente em cidades pequenas, onde a luta por uma existência decente gera muitas vezes relações tensas e conflitos morais, ancorados nas diferenças de geração ou de projetos de vida contraditórios", destacou a Academia. "Encontramos geralmente em seus textos descrições de acontecimentos cotidianos mas decisivos, uma espécie de epifanias, que esclarecem a história e iluminam as questões existenciais", completou o júri do Nobel. Alice Munro foi escritora por toda sua vida. Publicou as primeiras obras quando era estudante e, desde então, trabalha sem descanso em Clinton (Ontario), 175 km ao oeste de Toronto, afastada da agitação da imprensa. Nascida em 10 de julho de 1931 em Wingham, oeste da província de Ontário, conheceu de perto a sociedade rural. Seu pai, Robert Eric Laidlaw, era um criador de raposas e aves de curral e sua mãe foi professora. Aos 11 anos decidiu que seria escritora, profissão que nunca abandonou desde então. "Não tenho nenhum outro talento, não sou uma intelectual e tenho um desempenho ruim como dona de casa. Nada poderia vir a perturbar o que eu faço", disse Munro há alguns anos. No período como estudante universitária conheceu James Munro, com quem casou em 1951 e se mudou para Vancouver (oeste do Canadá). O casal teve quatro filhos. Em 1963, a família se mudou para Victoria e abriu a livraria 'Munro's Books', um local que ganhou fama no Canadá e Estados Unidos. Alice Munro recebeu o prêmio 'Governor General' por sua primeira coleção de contos, "Dance of the Happy Shades", editada em 1968. Recebeu outros prêmios em vários anos de carreira no exterior. Após o divórcio em 1972 se instalou como "escritora residente" na Universidade de Western Ontario. Em 1976 casou com Gerald Fremlin, um geógrafo falecido em abril de 2013. Sete contos de sua autoria foram levados ao cinema, com desta que para "Longe Dela", no qual Julie Christie interpreta uma mulher com mal de Alzheimer. A escritora canadense receberá oito milhões de coroas suecas (1,24 milhão de dólares, 915.000 euros). A cerimônia de entrega acontecerá em Estocolmo em 10 de dezembro, aniversário da morte do fundador do prêmio, Alfred Nobel. Em 2012, o Nobel de Literatura foi vencido pelo romancista chinês Mo Yan. "Maravilhoso" A escritora canadense Alice Munro disse estar "incrivelmente surpresa", mas também muito feliz, por ter vencido o Prêmio Nobel de Literatura. "Eu sabia que estava na disputa, sim, mas nunca pesei que venceria", disse Munro à agência The Canadian Press em Victoria. Ela chamou o prêmio de "maravilhoso", segundo o jornal Toronto Star. Munro foi acordada pela filha, que deu a notícia sobre o prêmio concedido pelo Comitê do Nobel na Suécia, contou a escritora ao canal CBC. Ela disse que sempre considerou a possibilidade de vencer o Nobel como "um sonho impossível, algo que poderia acontecer, mas que provavelmente não ocorreria". "Estamos no meio da noite aqui e havia esquecido totalmente, com certeza", contou. Contos curtos   A escritora canadense Alice Munro, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, ficou famosa ao escrever relatos curtos sobre mulheres e baseados na vida rural em Ontário, o que a levou a ser comparada a Chekhov. Apesar do sucesso e de vários prêmios literários nos últimos 40 anos, a autora de "Felicidade Demais", "Fugitiva" e "O Amor de uma Boa Mulher", entre outros, sempre manteve a discrição, assim como seus personagens, essencialmente mulheres. Nos textos, ela nunca destaca a beleza física, provavelmente um reflexo das influências puritanas que marcaram sua infância. "Não é uma escritora mundana, raramente é vista em público, não comparece aos lançamentos de livros", comentou David Homel, escritor, tradutor e crítico literário americano que mora em Montreal. Munro, portanto, é completamente distinta de Margaret Atwood, a outra grande dama da literatura anglófona canadense. Nascida em 10 de julho de 1931 em Wingham, oeste da província de Ontário, conheceu de perto a sociedade rural. Seu pai, Robert Eric Laidlaw, era um criador de raposas e aves de curral e sua mãe foi professora. Na adolescência, decidiu que seria escritora, um caminho do qual não desviou ao longo da vida. "Não tenho nenhum outro talento, não sou uma intelectual e tenho um desempenho ruim como dona de casa. Nada poderia vir a perturbar o que eu faço", disse Munro há alguns anos. Seu primeiro livro, "The Dimensions of Shadow", foi publicado em 1950, quando era estudante da Universidade Western Ontario. Chekhov do Canadá No período como estudante universitária conheceu James Munro, com quem casou em 1951 e se mudou para Vancouver (oeste do Canadá). O casal teve quatro filhos. Em 1963, a família se mudou para Victoria e abriu a livraria 'Munro's Books', um local que ganhou fama no Canadá e Estados Unidos. Alice Munro recebeu o prêmio 'Governor General' por sua primeira coleção de contos, "Dance of the Happy Shades", editada em 1968. Recebeu outros prêmios e láureas no exterior, enquanto seus contos curtos, geralmente baseados na vida simples do condado de Huron, em Ontário, foram publicados em revistas de prestígio como The New Yorker e The Atlantic Monthly. "Ela escreve sobre mulheres e para mulheres, mas não amaldiçoa os homens", afirma David Homel. Seus temas e seu estilo, marcado pela presença de um narrador que explica o sentido dos acontecimentos, a levaram a ser chamada de "nosso Chekhov" pela escritora americana de origem russa Cynthia Ozick. Após o divórcio em 1972 se instalou como "escritora residente" na Universidade de Western Ontario. Em 1976 casou com Gerald Fremlin, um geógrafo falecido em abril de 2013 e com quem viveu em sua província de origem. Uma de suas histórias, "Away from Her", foi adaptada para o cinema pela atriz e diretora Sarah Polley em 2007 e teve como protagonista Julie Christie. "Longe Dela" (no Brasil) recebeu duas indicações ao Oscar: atriz e roteiro adaptado. Em 2009 recebeu o prestigioso Man Brooker Internacional Prize antes de revelar que havia derrotado um câncer, doença que afetou uma de suas heroínas em um relato publicado em fevereiro de 2008 na revista New Yorker. "Alice Munro é conhecida sobretudo como uma autora del relato curto, mas ela apresentou tanta profundidade, sabedoria e precisão em cada história como o fazem a maior parte dos romancistas em toda sua obra", justificou o júri do Nobel. "Ao ler Alice Munro cada vez se aprende alguma coisa que você não havia pensado antes", completou o comitês. Com grande lucidez, aos 82 anos, Munro publicou em 2012 "Dear Life", que pode ser a 14ª e última compilação de contos, disse ela, após explicar que desejava seguir o exemplo do americano Philip Roth. Veja também Nobel de Física para os pais do 'Bóson de Higgs' Também conhecido como a "partícula de Deus", o bóson de Higgs é uma partícula subatômica Nobel vai para dois americanos e um alemão Foram premiados por suas descobertas sobre o sistema de transporte no interior da célula

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por