As primeiras negociações iemenitas desde 2016, que começarão nesta quinta-feira (6), na Suécia, são uma grande oportunidade para levar à paz um país devastado, avaliam especialistas em um momento em que as grandes potências pressionam ao máximo para deter a guerra
As primeiras negociações iemenitas desde 2016, que começarão nesta quinta-feira (6), na Suécia, são uma grande oportunidade para levar à paz um país devastado, avaliam especialistas em um momento em que as grandes potências pressionam ao máximo para deter a guerra. O mediador da ONU, o britânico Martin Griffiths, chegou na terça a Estocolmo, acompanhado de uma delegação de rebeldes. Os representantes do governo do presidente iemenita, Abd Rabbo Mansur Hadi, partiram de Riad nesta quarta (5) rumo ao país escandinavo. Até o momento, fracassaram todas as tentativas de pôr fim a quatro anos de guerra, mas estas negociações trazem um certo otimismo. A guerra opõe os rebeldes huthis xiitas, apoiados pelo Irã, e os partidários do governo de Hadi, apoiados militarmente por uma coalizão encabeçada pela Arábia Saudita. Segundo a ONU, o conflito arrastou o país mais pobre da Península Arábica à beira da fome e provocou a pior crise humanitária do mundo. Imagens de crianças com desnutrição severa e magras demais para se mover deram a volta ao mundo. "Agora, temos a oportunidade - provavelmente a melhor em meses - de ter, por fim, negociações de paz", disse à AFP Elizabeth Dickinson, analista do International Crisis Group (ICG). A Arábia Saudita parece disposta a avançar, devido à pressão exercida sobre o país após o assassinato em 2 de outubro do jornalista saudita Jamal Khashoggi no consulado do país em Istambul. Apesar das declarações de boas intenções, persistem dúvidas de se a pressão externa para que as partes negociem seriamente será suficiente, afirma Dickinson. - "Momento oportuno" -"Agora existe uma oportunidade para a paz no Iêmen", proclamou há um mês o secretário-geral da ONU, António Guterres. "Se formos capazes de deter a guerra no Iêmen, poderemos parar o pior desastre humanitário que enfrentamos no mundo", reforçou em 28 de novembro. Em setembro, negociações de paz fracassaram devido à recusa dos huthis a viajar a Genebra sem garantias do retorno à capital do Iêmen, Sanaa, e da evacuação de rebeldes feridos a Omã. A rodada de conversações celebrada em 2016 no Kuwait terminou em fracasso após 108 dias e os delegados rebeldes permaneceram bloqueados no sultanato de Omã por três meses. Desta vez, sua presença na Suécia foi fortalecida por duas medidas de confiança: a evacuação na segunda-feira de 50 rebeldes feridos para Omã e um acordo de troca de centenas de prisioneiros. Segundo Neil Partrick, especialista no Golfo, este é o "momento mais propício para pôr fim aos combates" desde a intervenção militar da coalizão liderada por Riad, em março de 2015. O assassinato de Jamal Khashoggi levou os Estados Unidos e o Reino Unido a pressionarem os sauditas. O especialista em Iêmen Franck Mermier, do centro francês de pesquisas CNRS, adverte que o caminho para a paz será longo. Segundo ele, as pressões não poderão "forçar a Arábia Saudita a instaurar um cessar das hostilidades sem obter vantagens importantes no campo militar". E os huthis - avalia - não vão querer renunciar ao poder e "suas concessões serão mínimas". A guerra destroçou o Iêmen. Segundo o Banco Mundial (BM), o conflito provocou a ruína da economia, com uma contração maciça do PIB de 50% desde 2015. O desemprego supera os 30%, a inflação beira os 42% e a maioria dos funcionários públicos não recebe salário.