A Major League Soccer, em outra época considerada um 'cemitério' de grandes jogadores, vem lutando com sucesso contra esse estigma aos olhos do mundo
A Major League Soccer, em outra época considerada um 'cemitério' de grandes jogadores, vem lutando com sucesso contra esse estigma aos olhos do mundo. Graças ao forte investimento, a uma torcida crescente e à parceria com o futebol sul-americano, pode gritar orgulhosa que está se aproximando das grandes ligas.Grandes estrelas como o inglês David Beckham, o colombiano Carlos Valderrama ou o espanhol Raúl aterrissaram na MLS para dar os últimos lampejos da carreira antes de pendurarem as chuteiras.Este ano, o sueco Zlatan Ibrahimovic e o inglês Wayne Rooney seguiram esses passos. Mas a MLS já não era a mesma que seus predecessores haviam encontrado em solo americano.- Juventude -O modelo do campeonato mudou, apostando mais em futuras estrelas do que em estrelas em fim de carreira. Enquanto no passado a MLS importava lendas consagrados do futebol, nesta temporada a idade média dos jogadores que chegaram aos Estados Unidos foi abaixo dos 25 anos pela primeira vez na história.E boa parte da responsabilidade pertence ao Atlanta United, do técnico argentino Gerardo 'Tata' Martino.Tata Martino recebeu a missão de liderar em 2016 o novo projeto do Atlanta United e, em apenas dois anos, conquistou o título nacional ao derrotar por 2 a 0 na final o Portland, apostando em jovens talentos como o venezuelano Josef Martínez ou o paraguaio Miguel Almirón.Além disso, o argentino Ezequiel Barco se tornou há alguns meses a contratação mais cara da MLS ao ser recrutado pelo Atlanta por cerca de 15 milhões de dólares junto ao Independiente. Isso aos 18 anos e depois de se tornar campeão da Copa Sul-Americana como um dos destaques do clube argentino, na vitória sobre o Flamengo na decisão.Em outra época, o destino de uma promessa desse quilate seria a Europa, mas Barco escolheu a MLS para ganhar experiência antes de cruzar o Atlântico para jogar no Velho Continente, assim como já havia feito Almirón.- Sócio sul-americano -Os elencos dos finalistas da MLS contaram com um total de 17 jogadores latino-americanos e 9 sul-americanos como titulares, uma comunhão perfeita que elevou o nível geral do futebol apresentado em campo."Nos olhos da América do Sul, a MLS tem cada vez mais credibilidade e agora cada vez mais gente olha para a MLS como um destino, enquanto antes as prioridades eram outras", declarou antes da final o técnico do Portland Timbers, o venezuelano Giovanni Savarese, que passou a maior parte da carreira em equipes americanas."Acredito que a MLS é uma boa proposta para meu tipo de jogo e acredito que isso vai me ensinar muito (...) Vim para cá para continuar melhorando, isso vai me ajudar muito", explicou à AFP o uruguaio Diego Rossi, que decidiu jogar no Los Angeles FC, aos 20 anos, antes de partir para uma aventura na Europa.Com mais de 100 jogadores latino-americanos integrando os elencos das equipes, a MLS mudou seu foco e seu modelo de crescimento para os vizinhos continentais."Veremos uma das melhores ligas do mundo no futuro", garantiu o brasileiro Kaká, que jogou no Orlando City nos últimos três anos da carreira.- Crescimento -Em 2005, o campeonato contava com apenas 14 equipes. Este ano, 23 clubes participaram e outros quatro estão na lista de espera para poder competir na MLS nos próximos anos."Em 2005, eu não acredito que alguém teria dito que chegaríamos à posição em que estamos agora. Há dezenas de grupos interessados em ter uma equipe de expansão", afirmou na sexta-feira o comissário da MLS, Don Garber."Não há limites em relação ao que a MLS pode se tornar. Quando foi fundada, tínhamos uma visão do que poderia ser (...) e o que aconteceu é uma declaração de que nosso país e um verdadeiro país do futebol", completou.O primeiro passo para este crescimento: a construção de estádios dedicados exclusivamente ao futebol. A MLS, com a estreia na próxima temporada da nova casa do Minnesota United, contará com 20 estádios onde só se jogará "soccer".E todos os pacotes de ingressos para a próxima temporada foram esgotados."Quando cheguei (em 1999), era uma liga que havia sido fundada para contrapor a temporada da NFL com as equipes dividindo o estádio. Nos demos conta rapidamente que esse não era um bom modelo", explicou Garber.O Atlanta, porém, rema contra essa corrente, e com sucesso: o dono do clube, Arthur Blank, construiu o Mercedes-Benz Stadium como a casa do United e dos Falcons, sua equipe na NFL, a liga de futebol americano. E o estádio pulverizou todos os recordes de público para jogos de futebol nos Estados Unidos, chegando aos 73.000 espectadores na final e com média superior aos 50.000 durante a temporada.Para isso, Blank investiu mais de 1 bilhão de dólares no estádio e no centro de treinamento da equipe.O Atlanta United é hoje o clube mais valioso da MLS, com valor de mercado avaliado em 330 milhões de dólares. O valor médio de uma franquia da MLS é de 240 milhões de dólares, um aumento de 7,6% em relação a 2017.Assim, o Atlanta United se tornou a primeira equipe a acolher mais de um milhão de pessoas em seu estádio durante a temporada regular, enquanto o campeonato registrou a melhor média de público de sua história.Em 1994, os Estados Unidos sediaram a Copa do Mundo pela primeira vez, mas o evento não foi capaz de popularizar de verdade o "soccer" no país do basquete, do beisebol e do futebol americano.Em 2026, os Estados Unidos voltarão a organizar a Copa, desta vez em conjunto com México e Canadá. Até lá, quem sabe, as grandes ligas do planeta já estarão vendo a MLS no retrovisor.prz/ma/am