INTERNACIONAL

Miguel Díaz-Canel se prepara para substituir Raúl Castro em Cuba

O número dois do governo em Cuba, Miguel Díaz-Canel, de 57 anos, se prepara para suceder Raúl Castro na presidência de Cuba, uma substituição que abrirá o caminho para uma nova geração na revolução da ilha

AFP
18/04/2018 às 19:10.
Atualizado em 27/04/2022 às 12:59

O número dois do governo em Cuba, Miguel Díaz-Canel, de 57 anos, se prepara para suceder Raúl Castro na presidência de Cuba, uma substituição que abrirá o caminho para uma nova geração na revolução da ilha."Cabe-me a honrosa missão, em nome da Comissão de Candidaturas Nacional, de propor-lhes para presidente dos Conselhos de Estado e Ministros da República de Cuba o companheiro Miguel Mario Díaz-Canel Bermúdez", disse nesta quarta-feira (18) a sua presidente, Gisela Duarte, ante a Assembleia Nacional.Após o anúncio, Díaz-Canel e Raúl Castro se abraçaram. Minutos antes, haviam entrado juntos e ocupado seus assentos como deputados no Palácio das Convenções de Havana. Atrás deles estavam Ramón Machado Ventura e Ramiro Valdés, históricos da revolução e vice-presidentes de Cuba.A proposta, submetida a voto do plenário na Assembleia Nacional, também inclui como candidato o primeiro vice-presidente o sindicalista afro-cubano Salvador Valdés Mesa, de 72 anos. Na chapa constam, ainda, as propostas únicas para cinco vice-presidentes, um secretário e os outros 23 membros do Conselho de Estado.O resultado da votação, que será revelado na sessão de 19 de abril, não deixa espaço para dúvidas. A data é simbólica: corresponde ao 57º aniversário da vitória na Baía dos Porcos (Playa Girón), quando foram derrotadas as tropas anticastristas, treinadas e financiadas pelos Estados Unidos em 1961.Os 31 cargos do Conselho de Estado são nomeados entre os 605 deputados que integram a Assembleia Nacional, eleita por votação popular em março. O novo Parlamento também empossou na quarta-feira e manteve na presidência Esteban Lazo, no cargo desde 2013.O Conselho de Estado renovará 13 de seus 31 membros. Combatentes históricos como Ramón Machado Ventura (87 anos) e Álvaro López Miera (76) deixam o grupo, mas permanecem Ramiro Valdés (85) e Guillermo García (90).- Nascido depois da revolução -Após o triunfo da revolução em 1959 e da eleição de Fidel Castro como presidente em 1976, Cuba só teve uma transição real, quando em 2006 ele ficou doente e passou o comando para seu irmão mais novo.Fidel morreu no final de 2016 e agora é Raúl, de 86 anos, que cederá seu assento a um representante da nova geração.Díaz-Canel continuará com as reformas econômicas iniciadas por seu antecessor e levará a política na ilha frente o aprofundamento do embargo dos Estados Unidos e o retorno de Washington a uma linguagem que, para Havana, lembra a Guerra Fria. Em 2015, Cuba e Estados Unidos retomaram as relações diplomáticas após meio século de ruptura, e no ano seguinte Barack Obama visitou a ilha. Entretanto, a chegada de Donald Trump deteve essa aproximação.Díaz-Canel, nascido depois do triunfo da revolução, percorria nos anos 1990 seu bairro em Villa Clara, a leste de Havana, montado em uma bicicleta e em plena escassez de combustível após a queda de sua fornecedora, a desaparecida União Soviética. "Díaz-Canel me impressiona um pouquinho por sua semelhança com o ator americano (Richard Gere), por sua estatura, por seus cabelos brancos (ri). Não se pode negar que é um homem interessante", diz Yani Pulido, de 27 anos, garçonete em uma cafeteria de Havana Velha."Se o compararmos com Fidel, e é difícil não fazê-lo, fica aquém. Mas dizem que está muito preparado e está há vários anos ocupando cargos de responsabilidade no governo", acrescenta.- Tarefa difícil -Este militante proveniente das pedreiras do Partido Comunista de Cuba (PCC) terá uma difícil missão.Pela primeira vez em décadas, o presidente não será um membro histórico da revolução de 1959, não vestirá o uniforme verde oliva, nem será o líder do governante PCC, único autorizado a existir na ilha.Mas poderá suprir essas carências com o apoio de Raúl Castro, que continuará na liderança do PCC até 2021. De lá, pode assegurar o apoio da velha guarda, percebida em sua maioria como resistente às mudanças."Ele não é nem Fidel nem Raúl, e as pessoas não vão ter com ele a mesma relação (de comando). Tem que se mostrar mais capaz de fazer coisas", considerou o cientista político cubano Arturo López-Levy.Mas "essa transição não é improvisada, e sim muito bem estudada a partir da experiência que eles admitem como bem-sucedida, de Fidel a Raúl", declarou.Para agir, deverá ter em conta os alinhamentos aprovados pelo PCC e pelo Parlamento, que traçaram as orientações políticas e econômicas até 2030."O governo que estamos escolhendo vai ser devido ao povo, o povo vai participar das decisões", declarou Díaz-Canel depois de votar nas últimas eleições legislativas.As reformas apontam para reativar uma economia que cresceu 1,6% em 2017, altamente dependente das importações e da ajuda de seu aliado, hoje enfraquecido, Venezuela.A tarefa mais urgente é a unificação das moedas nacionais que circulam no mercado, além da eliminação das taxas de câmbio preferenciais para empresas estatais - que são a maioria na ilha -, uma situação que gera distorções na economia.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por