CONFRONTO

Maré humana em funeral de opositor tunisiano

A polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo contra vândalos que incendiaram carros diante do cemitério

France Press
08/02/2013 às 13:49.
Atualizado em 26/04/2022 às 05:23
Multidão acompanha funeral de opositor tunisiano assassinado (France Press)

Multidão acompanha funeral de opositor tunisiano assassinado (France Press)

Dezenas de milhares de pessoas participaram nesta sexta-feira do funeral do opositor assassinado Chokri Belaid, convertido em uma manifestação contra o poder islamita, e onde ocorreram confrontos, apesar do grande dispositivo policial e militar. O partido islamita no poder na Tunísia, Ennahda, foi acusado de estar por trás deste assassinato sem precedentes nos anais contemporâneos, e da crise política que o país vive há meses.

A polícia utilizou bombas de gás lacrimogêneo contra vândalos que incendiaram carros diante do cemitério, no sul de Túnis, onde o opositor foi enterrado. O incidente provocou um breve movimento de pânico, segundo a polícia.

Em outro ponto da capital, na avenida Habib Bourguiba, em pleno centro, a polícia perseguiu com cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo dezenas de jovens manifestantes hostis ao poder, que gritavam "Vão embora, vão embora!", o grito utilizado na revolução que em janeiro de 2011 terminou com o regime de Zine El Abidine Ben Ali.

Durante o funeral deste opositor assassinado com três tiros na frente de sua casa na quarta-feira em Túnis, o país estava paralisado por uma greve geral convocada por partidos políticos e pela União Geral Tunisiana do Trabalho (UGTT).

Belaid, de 48 anos, era um firme opositor aos islamitas e dirigia o Partido dos Patriotas Democratas, que se integrou na aliança "Frente Popular". Até o momento não se sabe quem foi o autor de seu assassinato.

"O povo quer a queda do regime", gritou a multidão na entrada do cemitério de El Jellaz.

"O povo quer uma nova revolução", "Ghannushi assassino", "Ghannushi, pegue seus cachorros e vá embora!", também gritava, referindo-se ao líder do partido Ennahda.

Ao redor do cemitério havia um impressionante dispositivo de segurança formado por militares, unidades antidistúrbios e homens à paisana encapuzados e armados com paus.

Os helicópteros do exército sobrevoavam a capital, onde caminhões militares estavam mobilizados na avenida Bourguiba, epicentro dos confrontos dos últimos dias, que custaram a vida de um policial. Outro agente estava nesta sexta-feira em coma depois de ter sido espancado durante a noite por manifestantes em Gafsa.

Os militares também foram mobilizados nas cidades de Zarzis (sul), Gafsa (centro) e Sidi Buzid, berço da revolução de 2011, diante dos principais prédios do governo.

Nestas cidades e em outros pontos do país centenas de pessoas protestaram com gritos de "Assassinos" e "Chokri descansa, continuaremos seu combate". Em Gafsa ocorreram breves confrontos entre policiais e manifestantes.

O funeral do opositor foi realizado em meio a uma greve geral, que se traduziu no cancelamento de todos os voos de partida e de chegada no aeroporto de Túnis-Cartago, o principal do país.

Os transportes funcionavam de forma precária, os supermercados, lojas e cafés estavam fechados em diversas cidades, e as ruas estavam quase vazias.

A greve, a primeira desta amplitude desde a queda de Ben Ali, ocorre em um contexto econômico e social muito tenso. As manifestações e os conflitos sociais, muitas vezes violentos, se multiplicaram devido ao desemprego e à miséria, dois fatores chave da revolução.

O assassinato também agravou a crise política no país, com o aparecimento de fissuras entre os moderados do Ennahda, liderados pelo primeiro-ministro islamita, Hamadi Jebali, e um grupo mais radical, alinhado com seu líder histórico, Rashed Ghannushi.

Jebali pediu na quarta-feira a criação de um governo de tecnocratas, o que seu próprio partido, o Ennahda, rejeitou.

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