INTERNACIONAL

Mais de mil maneiras de perder o Prêmio Nobel

É mais fácil perder um Prêmio Nobel do que ganhá-lo. Emprestada para impressionar norueguesas em um bar ou dissolvida para escapar dos nazistas, a preciosa medalha sofreu todo tipo de vicissitudes na centenária história do Nobel

AFP
28/09/2018 às 17:00.
Atualizado em 22/04/2022 às 00:29

É mais fácil perder um Prêmio Nobel do que ganhá-lo. Emprestada para impressionar norueguesas em um bar ou dissolvida para escapar dos nazistas, a preciosa medalha sofreu todo tipo de vicissitudes na centenária história do Nobel.Embora não possa ser retirada do premiado em nenhuma circunstância, às vezes desaparece em circunstâncias bizarras, trágicas ou espetaculares.- Nobel de alquimia -Quando os nazistas invadiram a Dinamarca em abril de 1940, o Instituto Niels Bohr se preocupou com o destino das medalhas que os cientistas alemães Max von Laue e James Frank, ganhadores do Prêmio Nobel de Física em 1914 e 1925, respectivamente, haviam guardado lá para evitar que fossem confiscadas."No império de Hitler, era quase um pecado capital tirar ouro do país, e como o nome de Laue estava gravado na medalha, se as forças invasoras a tivessem descoberto teria havido consequências muito sérias para ele", escreveu em 1962 o químico húngaro George de Hevesy, que trabalhava no Instituto.Ao invés de enterrá-las, De Hevesy dissolveu as duas medalhas de ouro 23 quilates com água régia, um dos poucos reagentes capazes de atacar o nobre metal.Armazenada em uma prateleira do seu laboratório, a solução laranja passou despercebida para os nazistas.Uma vez terminada a guerra, George de Hevesy - que ganhou o Nobel em 1943 - provocou a precipitação do ouro em 1950, o que permitiu de novo à Fundação Nobel entregar as medalhas aos dois laureados alemães em 1952. Em um episódio menos glorioso, Knut Hamsun deu de presente o seu prêmio de Literatura ao ministro da propaganda nazista Joseph Goebbels em 1943. O escritor norueguês e simpatizante nazista foi condenado por traição em 1947 e passou o resto de sua vida em instituições mentais. Não se sabe o que aconteceu com sua medalha.- Leilão francês -Pelas vicissitudes da vida, doações ou heranças, em alguns casos as medalhas mudaram de mãos e foram leiloadas... com resultados desiguais.O Prêmio Nobel da Paz (1926) do francês Aristide Briand foi vendido de forma póstuma pela quantia módica de 12.200 euros em 2008.Seis anos depois, o bilionário russo Alisher Usmanov adquiriu por 4,1 milhões de dólares, sem contar as comissões, a medalha de James Watson, um dos descobridores da estrutura do DNA e autor de declarações polêmicas sobre a inteligência dos africanos.Um negócio próspero para o biólogo americano, porque o comprador decidiu devolver a medalha.- Ouros perdidos -Houve também desaparecimentos involuntários.O Ecomuseu da cidade francesa de Saint-Nazaire não pôde desfrutar durante muito tempo da medalha de Aristide Briand que comprou por pouco dinheiro: foi roubada em 2015 e desde então não se soube nada dela.Na Índia, ladrões se apoderaram em 2017 da medalha do Prêmio Nobel da Paz Kailash Satyarthi em seu domicílio. Era uma cópia - a verdadeira estava exposta em um museu - e foi rapidamente recuperada.Menos sorte teve o premiado de Literatura de 1913, Rabindranath Tagore, cuja medalha foi roubada em 2004 e continua em paradeiro desconhecido.- Do ouro à ira -A advogada e defensora dos direitos humanos Shirin Ebadi acusou em 2009 às autoridades iranianas de terem confiscado seus ativos alegando impostos não pagos.Um cofre onde havia depositado sua medalha do Nobel e sua Legião de Honra foi confiscado para pagar 410.000 dólares de impostos atrasados, afirma ela, embora as autoridades o neguem.Após um escândalo internacional, Shirin Ebadi acabou recuperando seu prêmio.- 'Gold' War -O nome dos laureados está gravado no verso da medalha, exceto nos prêmios da Paz e de Economia, que o carregam no canto. Isto aumenta as possibilidades de erro.Os premiados com o Nobel de Economia em 1975, o russo Leonid Kantorovish e o americano Tjalling Koopmans, voltaram aos seus países com as medalhas "erradas", relata o site dos prêmios (www.nobelprize.org).Como os dois países estavam em plena Guerra Fria, foram necessários quatro anos de esforços diplomáticos para que as medalhas chegassem às mãos de seus verdadeiros proprietários.- Ouro para conquistar -Pânico em uma noite de dezembro de 1999 na suíte do Grande Hotel em Oslo! A recompensa recém-entregue a Médicos Sem Fronteiras (MSF) desapareceu.Todas as buscas foram infrutíferas e finalmente a polícia foi chamada.Os agentes a recuperaram no dia seguinte com seu estojo. Acredita-se que alguns membros da delegação francesa de MSF a pegaram emprestada para impressionar as norueguesas nos bares."Podia-se ver as marcas de dentes de todos os que quiseram comprovar que a medalha era realmente de ouro puro", escreveu Morten Rostrup, membro da delegação norueguesa, em um livro publicado em 2006."Mas teriam precisado de mais do que uma medalha Nobel para conquistá-las...", detalhou em um email à AFP.phy/gab/ra/es/db

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