INTERNACIONAL

Jovens gregos castigados pela crise em seu país culpam a Europa

Alexandra não acha que sua voz seja ouvida em Bruxelas. Assim como muitos jovens gregos, atingidos em cheio pela crise, a estudante não tem certeza se irá votar em 26 de maio por uma Europa à qual culpa pela complicada situação em que a Grécia se encontra

AFP
21/05/2019 às 07:40.
Atualizado em 03/04/2022 às 20:31

Alexandra não acha que sua voz seja ouvida em Bruxelas. Assim como muitos jovens gregos, atingidos em cheio pela crise, a estudante não tem certeza se irá votar em 26 de maio por uma Europa à qual culpa pela complicada situação em que a Grécia se encontra.Confrontada com as medidas de austeridade impostas por Bruxelas, a nova geração só se sente em parte europeia em um país onde o salário mínimo é de 650 euros brutos (cerca de R$ 3.000) e o desemprego entre os jovens beira os 40%."Gostaria de sentir que tenho as mesmas oportunidades que todos os cidadãos dos outros países da União Europeia, mas não é o caso", avalia Alexandra, recém-formada na Universidade de Agricultura de Atenas.A Europa, que considera "responsável pela situação crítica em que a Grécia se encontra", lhe oferece perspectivas profissionais e pessoais que são raras em seu país.Na Alemanha, aonde decidiu partir, a jovem espera ter "mais oportunidades para empreender e começar sua vida de adulta". "Por um lado, os vínculos [com a Europa] são objetivamente mais fortes, os intercâmbios e as amizades, maiores. Por outro, os jovens gregos vivem uma situação difícil que está diretamente relacionada com a Europa", explica Giannis Kouzis, decano da Faculdade de Ciência Política da Universidade Panteion de Atenas. Esta relação ambivalente com a Europa é reincidente na sociedade grega, onde apenas 54% da população considera que a Grécia seja beneficiada por pertencer à União Europeia (desde 1981), segundo estudo do Parlamento Europeu publicado em outubro de 2018. Isto se sente ainda mais na jovem geração, muito afetada pela crise.Segundo dados da OCDE, 39,9% dos jovens ativos gregos entre 15 e 24 anos estavam desempregados em 2018, enquanto a média para o conjunto dos países da UE se situava em 15,2%. Sem dúvida, uma razão para que os jovens gregos decidam ir embora.- Em busca de oportunidades na Europa -"Ao redor de 350.000 pessoas emigraram durante os anos de crise, sobretudo jovens que se deparavam com um mercado de trabalho grego que não lhes oferecia oportunidades adequadas", explicou o professor Kouzis. A Grécia, que no passado abandonou oficialmente o programa de ajuda internacional da UE e do FMI, esteve mergulhada durante quase uma década em uma recessão inédita destinada a purgar a dívida pública e evitar um Grexit forçado. Agora, embora considere que "a Grécia foi um laboratório das políticas de austeridade da União Europeia", Thanassis confia no projeto europeu, que "ainda tem muito a aportar". Filho de funcionários públicos e criado em Kozani, região do norte da Grécia particularmente afetada pela crise, o jovem de 20 anos viveu com sua família "as reduções de salário, à queda do poder aquisitivo". "Apesar dos erros", defende que haja "mais Europa e mais solidariedade para espantar o fantasma da ultradireita". Além disso, é em Bruxelas que este estudante do terceiro ano de Relações Internacionais e Ciências Políticas decidiu efetuar seu programa de intercâmbio universitário Erasmus, "o mais belo feito das políticas europeias". Eliana decidiu deixar Atenas em 2010, quando começou a crise, para continuar com seus estudos de arquitetura na Universidade de Artes de Londres. Mas na Inglaterra, Eliana se sentia "exótica", afetada pela imagem negativa que a Grécia tinha no exterior, ao ponto de "sofrer muito racismo". Depois de cinco anos, decidiu voltar ao seu país e lançar ali sua marca de design."Você tem a impressão de estar mais integrada porque viaja, fala várias línguas, mas acaba bombardeada por estereótipos sobre a indolência dos gregos", lamentou. Quando perguntada se se sente europeia, respondeu: "Por acaso os europeus nos consideram assim?". Apesar de ser o mais frágil da União Europeia, o sentimento de cidadania europeia na Grécia aumentou e hoje é majoritário (51%), segundo relatório da Comissão Europeia de junho de 2018.

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