perigo nuclear

Irã começa a enriquecer urânio em nível proibido

Londres, França e Berlim pediram que seja interrompida todas as atividades que não estejam em conformidade com o acordo de Viena

France Press
07/07/2019 às 14:24.
Atualizado em 30/03/2022 às 19:39

O Irã confirmou neste domingo (7) que começaria nas próximas horas a enriquecer urânio em um nível proibido pelo acordo de 2015 sobre seu programa nuclear, e ameaçou se liberar de outras obrigações "em 60 dias". Em comunicados separados, Londres e Berlim pediram a Teerã que voltasse atrás em sua decisão. Os dois países indicaram estar em contato "com as outras partes" envolvidas para definir uma resposta à decisão iraniana. Já a França pediu "firmemente" ao Irã que interrompa todas as suas atividades que não estejam em conformidade com o acordo de Viena. "Dentro de algumas horas", o Irã irá retomar o enriquecimento de urânio 235 em um nível de pureza superior a 3,67%, declarou pouco antes o porta-voz da organização iraniana de energia atômica, Behruz Kamalvandi, sem revelar o novo nível. Um assessor do guia supremo iraniano assinalou ontem que as necessidades do país para suas "atividades pacíficas" correspondem ao urânio enriquecido em 5%, um nível distante dos 90% necessários para a fabricação da bomba atômica. Apesar das críticas, Teerã afirma que sua decisão de se liberar paulatinamente de alguns compromissos busca apenas salvar o acordo nuclear iraniano assinado em Viena em julho de 2015. É parte da resposta iraniana à decisão dos Estados Unidos de abandonar unilateralmente o pacto em maio de 2018 e restabelecer sanções contra o Irã. Este novo giro acontece em um momento de escalada militar entre Washington e Teerã no Golfo. - Sobrevivência do acordo - O vice-chanceler iraniano, Abbas Araghchi, ameaçou ontem se liberar de outras obrigações em matéria nuclear, sem revelar quais, "em 60 dias", a menos que se encontre "uma solução" com seus sócios para responder aos seus pedidos, que se trataram, principalmente, da possibilidade de o Irã seguir vendendo seu petróleo e comercializar com outros países, referindo-se às sanções americanas. Já o chanceler do Irã, Mohammad Javad Zarif, assinalou que a sobrevivência do acordo de Viena depende dos europeus. Segundo ele, "cada uma destas medidas só poderá ser anulada se Berlim, Londres e Paris reagirem conforme o texto". O retorno das sanções americanas afastou as empresas estrangeiras que haviam começado a retornar ao Irã e derrubou a economia do país. Em maio passado, Teerã anunciou que renunciaria a dois dos compromissos assumidos em Viena: o respeito ao limite de seus estoques de água pesada (1,3 tonelada) e o imposto às suas reservas de urânio levemente enriquecido (330 kg). - 'Grande preocupação' - O Irã completou o anúncio com um prazo de 60 dias a seus sócios para que o ajudem a burlar o bloqueio americano. Do contrário, o Irã enriqueceria mais de 3,67% e retomaria o projeto de construção de um reator de água pesada em Arak. Sobre este segundo ponto, Abbas Araghchi indicou hoje que o Irã não iria executar sua ameaça e privilegiava, no momento, o projeto de conversão do sítio acordado em Viena, citando "avanços" nos últimos dois meses. Ao desrespeitar seus compromissos, o Irã corre o risco de a questão de seu programa nuclear ser levada ao Conselho de Segurança da ONU, que poderia restabelecer sanções levantadas. Os países europeus, China e Rússia tentam solucionar o impasse sem recorrer ao Conselho, uma vez que Teerã assinalou que isto implicaria a morte do acordo. O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, afirmou neste domingo que o anúncio do Irã de que irá superar os níveis de enriquecimento de urânio permitidos no acordo nuclear de 2015 é um "passo muito perigoso". "Faço um apelo a meus amigos, líderes de França, Reino Unido, Alemanha", que assinaram este acordo para que imponham "duras sanções" à República Islâmica. A pedido dos Estados Unidos, a Agência Internacional de Energia Atômica terá uma reunião extraordinária no próximo dia 10 para analisar os anúncios feitos pelo Irã.

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