DROGA

Indústria de bebidas vai apostar na maconha

Empresas estudam criar produtos com cannabis na composição

France Press
21/10/2018 às 11:32.
Atualizado em 06/04/2022 às 01:16

As principais produtoras de bebidas alcoólicas do mundo já não podem mais ignorar o fenômeno em torno da legalização da maconha para fins recreativos, um movimento que vem se multiplicando pelo mundo. No caso das bebidas, o efeito é claro e imediato: um número crescente de consumidores jovens cada vez mais tendendo a trocar a cerveja e os drinques por bebidas que contenham cannabis.  Alguns aproveitaram o momento sem hesitar. A Constellation Brands, fabricante da cerveja Corona e da vodca Svedka, investiu US$ 4 bilhões na empresa canadense de maconha Canopy Growth.  “O mercado que se abre é potencialmente uma das mais importantes oportunidades de crescimento global da próxima década”, disse o presidente-executivo da Constellation, Robert Sands. “As vendas de maconha legalizada e produtos relacionados devem chegar a US$ 200 bilhões em 15 anos, e o mercado está se abrindo muito mais rápido do que se pensava”, acrescentou.  Seguindo os passos do Uruguai, o Canadá se tornou na semana passada o segundo país do mundo a legalizar a maconha recreativa. A cannabis ainda é proibida pela lei federal americana para qualquer uso, mas nove estados já a legalizaram para fins recreativos sob suas próprias leis, enquanto outros suavizaram sua proibição nos últimos anos. Como resultado, proliferam novas formas de consumo: comestível, em doces e sorvetes, vaporizadores e cremes - e, claro, bebidas.   A Diageo, maior produtora mundial de bebidas alcoólicas, que fabrica a vodca Smirnoff e o uísque Johnny Walker, já está dialogando com produtores canadenses, enquanto “observa atentamente o mercado”.  Mas há companhias ainda relutantes. Alexandre Ricard, CEO da Pernod Ricard, explicou no final de agosto que sua empresa também estava monitorando o mercado, especialmente para determinar a probabilidade de um movimento em direção à cannabis no consumo de bebidas alcoólicas “premium”. Por enquanto, disse ele, os sinais não são claros. Pesquisadores da Universidade de Connecticut e da Universidade Estadual da Geórgia descobriram no ano passado que as vendas de álcool caíram 12,4% nos condados dos EUA onde a maconha medicinal foi legalizada. Sem ressaca Mas outros fabricantes, inclusive o Distilled Spirits Council, um grupo da indústria que representa produtores de bebidas nos Estados Unidos, dizem que as vendas não foram afetadas. “Ainda é muito afirmar para dizer isso”, disse Keith Villa, um mestre cervejeiro do Colorado.  Criador da popular cerveja de trigo “Blue Moon”, Villa planeja comercializar uma cerveja sem álcool, mas com THC - o ingrediente psicoativo da maconha.  “Assim como uma cerveja normal, ela causará aquela leve tontura, semelhante à provocada pelo álcool. Só que na manhã seguinte não vai ser preciso enfrentar uma ressaca”.  Embora seja possível misturar álcool e cannabis, ele não quer seguir esse caminho. “Fazer isso é ilegal. As duas substâncias podem agravar os efeitos uma da outra, e ninguém quer isso”, explicou.  Enquanto isso, as cervejas que contêm canabidiol, um dos componentes da cannabis que não é psicoativo, já estão disponíveis. E há também bebidas com THC adicionado. Neste ano, na Califórnia, a cervejaria Lagunitas, de propriedade da holandesa Heineken, começou a comercializar o “Hi-Fi Hops”, uma mistura sem álcool que faz os consumidores se sentirem sob efeito de drogas.  A Southern Glazer, a maior distribuidora de vinhos e bebidas da América do Norte, criou uma subsidiária dedicada especificamente à distribuição de cannabis no Canadá.  Refrigerantes E os fabricantes de refrigerantes, que viram suas vendas sofrerem com os consumidores se afastando das bebidas com alto teor de açúcar, também não podem se dar ao luxo de ignorar essa demanda crescente.  Há relatos de que a Coca-Cola estaria discutindo a produção de bebidas de cannabis em parceria com a canadense Aurora Cannabis. E embora a PepsiCo tenha dito no início deste mês que não tinha planos de desenvolver uma bebida similar, seu CFO Hugh Johnston recuou e afirmou que a empresa “ainda vai avaliar criticamente o assunto”. Mas são os fabricantes de cerveja que têm mais motivos para se envolver, já que as vendas de cervejas artesanais não crescem mais vigorosamente como antes. O Distilled Spirits Council evitou tomar uma posição fechada sobre a legalização da maconha recreativa, mas diz que os regulamentos sobre cannabis (impostos, limites de idade e consumo antes da dirigir) deverão ser tão rigorosos quanto os do álcool.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por