"Só tenho um juiz que é o Senhor", afirmou recentemente o cardeal francês Philippe Barbarin. Na segunda-feira (7), o arcebispo de Lyon (centro-leste) comparecerá perante a Justiça dos homens, acusado de esconder os crimes de pedofilia de um padre
"Só tenho um juiz que é o Senhor", afirmou recentemente o cardeal francês Philippe Barbarin. Na segunda-feira (7), o arcebispo de Lyon (centro-leste) comparecerá perante a Justiça dos homens, acusado de esconder os crimes de pedofilia de um padre.Com ele, cinco ex-membros desta diocese - incluindo o atual arcebispo de Auch (sudoeste) Maurice Gardès e o bispo de Nevers (centro) Thierry Brac de la Perrière - são convocados perante o tribunal penal até quarta-feira (9), por não denunciarem as agressões sexuais cometidas contra jovens escoteiros antes de 1991.Até o momento, dois bispos foram condenados na França em casos semelhantes: o bispo de Bayeux-Lisieux, em 2001, e o ex-bispo de Orleans, em 2018.O cardeal Barbarin, de 68 anos, radicado em Lyon desde 2002, encarna na França a crise de uma Igreja confrontada em todo mundo aos crimes de uns e ao silêncio de outros.O escândalo veio à tona em 2015 com o indiciamento do padre Bernard Preynat por abusos cometidos um quarto de século antes. Como ele estava ciente dessas ações passadas, as vítimas também denunciaram o bispo Barbarin, considerando que ele próprio deveria ter denunciado o padre à Justiça.Após seis meses de investigação e dez horas de interrogatório do cardeal pela polícia francesa, o Ministério Público de Lyon rejeitou o caso no verão de 2016.Mas as vítimas apresentaram um procedimento de citação direta, o que permite, na França, que uma vítima acione diretamente o tribunal penal."Esperamos, desta vez, uma decisão que seja clara para todos", disse François Devaux, cofundador da associação La Parole Libérée, fonte das revelações.A defesa confia, por sua vez, no julgamento para "restaurar um certo número de verdades, porque não se repara uma injustiça com outra", segundo um advogado do cardeal, Jean-Félix Luciani.Além de Philippe Barbarin, Maurice Gardes e Thierry Brac de la Perrière, foram convocados o ex-responsável de um grupo de escoteiros vítimas do padre, bem como o ex-diretor de gabinete do cardeal e um vigário que foi o superior do padre Preynat.O cardeal espanhol Luis Ladaria Ferrer, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé em Roma, também foi indiciado, mas o Vaticano pediu imunidade. As vítimas o acusam de cumplicidade uma vez que, consultado por Barnarin sobre o caso do padre em 2015, ele o aconselhou a abafar a situação discretamente: "todos sabiam, e ninguém denunciou".No auge do escândalo, Barbarin reconheceu erros e pediu perdão às vítimas de padres pedófilos. Mas com a proximidade do julgamento, parece querer se proteger, evocando instruções recebidas do Vaticano em 2015: "Eu implementei o que me foi dito por Roma. Depois, todos caíram em cima de mim", disse ele à margem da última assembleia de bispos em Lourdes (sudoeste), entrevistado pela Rádio Notre-Dame.ppy/ag/lp/phv/mr/tt