Primeiro-ministro fez dez trocas em sua equipe para substituir membros do ministério que votaram contra o pacote de reformas
O primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, anunciou nesta sexta-feira (17) à noite alterações em seu governo, após a dissidência de uma parte de sua maioria durante a votação no Parlamento do primeiro pacote de reformas exigidas pelos credores em troca de nova ajuda financeira ao país.Tsipras realizou dez trocas em sua equipe para substituir os ministros e, sobretudo, vice-ministros, que votaram contra as medidas, rejeitadas na quinta-feira por menos de um quarto de seu partido, o Syriza.Foram substituídos três ministros dissidentes, incluindo o da Energia e Infraestrutura, Panagiotis Lafazanis, e a vice-ministra das Finanças, Nadia Valanis, que já havia apresentado sua renúncia.Ontem, o chefe de governo criticou os 32 parlamentares de seu partido que votaram contra o acordo imposto à Grécia pelos credores em troca de um novo resgate financeiro e disse que o partido sai "ferido", dependendo, agora, da oposição.Trata-se da primeira remodelação do gabinete desde a chegada de Tsipras ao poder há seis meses.Sinal verde da Alemanha Os deputados do Parlamento alemão, o Bundestag, deram sinal verde nesta sexta-feira, por ampla maioria, às negociações do terceiro plano de ajuda à Grécia, que chega a mais de 80 bilhões de euros.No total, 439 dos 598 deputados presentes (dos 631 da assembleia) votaram em favor do pedido do governo para poder negociar esta nova ajuda, anunciou o presidente do Bundestag, Norbert Lammert. Outros 119 votaram contra e 40 se abstiveram.Essa decisão do Parlamento alemão, que se soma à aprovação do parlamento austríaco e sueco, era a última condição para iniciar as negociações dos detalhes do novo resgate de 86 bilhões de euros.Em seu discurso ao Parlamento, Merkel reconheceu que "não há qualquer dúvida" de que o acordo alcançado na segunda-feira "é duro para o povo na Grécia, mas também para os demais".Para a chanceler, que completou 61 anos nesta sexta-feira, essa "última tentativa" exige uma "solidariedade sem precedentes" para alguns "exigências sem precedentes" para os gregos.Ela destaca, porém, que a alternativa - deixar a Grécia quebrar - geraria o "caos" e teria sido "irresponsável".O ministro alemão da Economia, Wolfgang Schäuble, que tem defendido a saída temporária da Grécia da zona do euro, a temida "Grexit", também defendeu diante dos deputados de seu partido o voto em favor do mandato negociador."Farei tudo para que essa última tentativa seja um sucesso", prometeu. Merkel, cujo país é a maior economia da União Europeia e principal contribuinte dos programas de ajuda, liderou as intensas negociações de Bruxelas no último fim de semana.Essas discussões concluíram com a decisão de conceder à Grécia um novo respiro, depois dos 240 bilhões de euros injetados no país desde 2010.Paralelamente, o Mecanismo Europeu de Estabilidade Financeira (Meef), que aportará liquidez à Grécia, também aprovou formalmente a decisão de dar apoio à Grécia sob a forma de um programa de créditos acordado na segunda-feira. Custo alto para os gregos O premiê Tsipras se comprometeu a reformar o sistema de aposentadorias, de impostos e do mercado de trabalho. São reformas muito mais duras do que as que os gregos rejeitaram, por ampla maioria, no referendo de 5 de julho.Essa nova dose de austeridade, que se soma às medidas adotadas nos últimos cinco anos, voltou a levar os gregos às ruas e suscita rumores de eleições antecipadas.Já sem maioria no Congresso, Tsipras reconheceu que não concorda com vários aspectos do programa, e o ministro grego da Economia, Euclides Tsakalotos, garantiu que ter aceitado as condições dos credores "lhe pesará por toda a vida".Em paralelo à nova ajuda, os ministros da Eurozona aprovaram ontem um financiamento ponte de 7 bilhões de euros para que a Grécia possa enfrentar seus compromissos mais urgentes. Entre eles, está o pagamento, na próxima segunda-feira, de aproximadamente 4,2 bilhões de euros ao Banco Central Europeu (BCE).No total, até meados de agosto, o país precisará de cerca de 12 bilhões de euros.Na quinta-feira, o presidente do BCE, Mario Draghi, também decidiu aumentar em 900 milhões de euros os empréstimos de emergência aos bancos gregos.Os bancos devem reabrir na próxima segunda-feira, depois de quase três semanas fechados. Reestruturação da dívidaMerkel e seu ministro da Economia foram fortemente criticados por serem tão rígidos com Atenas.Embora muitos analistas considerem que Merkel está sendo muito dura com a Grécia, os dissidentes alemães se queixam de que ela tem sido benevolente.Segundo uma pesquisa publicada nesta sexta-feira, os alemães também estão divididos. Pela pesquisa da DeutschlandTrend, 46% apoiam as negociações de um novo plano de resgate, enquanto 49% são contra.Mas, assim como o FMI, um dos credores da Grécia - ao lado do BCE e da UE -, cada vez mais se defende a reestruturação da dívida grega, que chega a aproximadamente 180% do PIB. O último foi o presidente do BCE, o qual reconheceu a necessidade de algum tipo de redução.Ao ser questionada nesta sexta-feira em uma rádio francesa se o novo plano funcionará sem reestruturação, a diretora-gerente do FMI, Christine Lagarde, respondeu: "categoricamente, não".