O papa Francisco chegará ao Panamá nesta quarta-feira (23) para se encontrar com os jovens católicos, em meio à maior onda migratória na América Latina forçada pela violência e pelas crises políticas e econômicas
O papa Francisco chegará ao Panamá nesta quarta-feira (23) para se encontrar com os jovens católicos, em meio à maior onda migratória na América Latina forçada pela violência e pelas crises políticas e econômicas.O pontífice abrirá um parênteses na chuva de escândalos de abusos sexuais que sacodem a Igreja Católica para liderar a Jornada Mundial da Juventude (JMJ).Antes de embarcar no avião, o pontífice argentino de 82 anos se reuniu com oito jovens refugiados."É o medo que nos enlouquece", comentou Francisco, respondendo a um jornalista que qualificou de "loucura" a promessa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de construir um muro na fronteira com o México.Milhares de peregrinos, cobertos por bandeiras de seus respectivos países, invadiram a Cidade do Panamá. "Queríamos (...) que existissem mais fronteiras de amor, paz, amizade. O papa Francisco" quer "que, ao invés de criar muros, abramos caminhos", declarou à AFP Carlos Gil, um jovem salvadorenho que aguarda o papa."O Santo Padre sempre está apoiando os países em crise (...) Não estamos sozinhos", expressou a nicaraguense Wendy Florez.A viagem de Francisco, que chegará no Aeroporto Internacional de Tocumen nesta quarta-feira às 16h30 locais (19h30 de Brasília), coincide com a maior onda migratória já registrada na América Latina.Hondurenhos, guatemaltecos, salvadorenhos, nicaraguenses e venezuelanos atravessam fronteiras diariamente em busca de oportunidades.Da América Central, enormes caravanas que fogem da violência de gangues e dos conflitos políticos se dirigem aos Estados Unidos. E os venezuelanos escapam de uma destrutiva crise econômica, com hiperinflação e escassez de alimentos e remédios. A ONU teme que, no final do ano, haja 5,3 milhões de "refugiados" deste país.No Panamá, o frei venezuelano Edwin Fernández espera que a mensagem do papa ajude "na situação terrível pela qual estamos passando".Francisco, que anunciou que em novembro irá ao Japão, permanecerá cinco dias no Panamá.- 'Um bálsamo' -O arcebispo do Panamá, José Domingo Ulloa, também chamou a atenção sobre a "resposta nula" dos governos diante dos problemas sociais que envolvem os jovens: "Lançam-nos a colocar suas esperanças em outros países, expondo-os ao narcotráfico, ao tráfico de pessoas, ao crime e tanto outros males".Por isso, "ansiamos" que esta visita "seja um bálsamo para a difícil situação com a qual convivem" muitos jovens, expressou Ulloa diante da multidão no Campo Santa María la Antigua do passeio marítimo da Cidade do Panamá.A mensagem de alívio não será exclusivamente para os jovens, mas também para a própria Igreja.Francisco retorna à América Latina um ano depois de sua visita ao Chile, marcada por protestos e escândalos de abusos sexuais de padres a menores de idade e seu acobertamento pela cúpula eclesiástica.O tema "gera muita atenção na Igreja", afirmou o diretor de imprensa do Vaticano, Alessandro Gisotti, apesar de ter assegurado que o papa "não programou um encontro com vítimas" de abusos no istmo.Milhares lhe receberão em um percurso de 29 quilômetros em um automóvel entre o aeroporto e a nunciatura apostólica, onde ficará hospedado. Embarcará no papamóvel em um conhecido hospital.Durante a sua estadia, Francisco visitará um centro de detenção juvenil e tem previsto um encontro com pessoas com aids em um centro de assistência.Além disso, prevê se reunir com outros 70 bispos da América Central."O papa quer levar consolo e esperança onde houver dor e sofrimento", assinalou Gisotti. - Contra a xenofobia -Ao menos sete presidentes irão no domingo à última missa do papa na JMJ: Jimmy Morales (Guatemala), Juan Orlando Hernández (Honduras), Salvador Sánchez Cerén (El Salvador), Carlos Alvarado (Costa Rica), Iván Duque (Colômbia) e Marcelo Rebelo de Sousa (Portugal), além do anfitrião Juan Carlos Varela.E sobressaem as ausências dos presidentes de Nicarágua, Daniel Ortega, e Venezuela, Nicolás Maduro, com os quais a Igreja Católica mantém relações tensas.A missa final ocorrerá nos arredores da capital panamenha, onde foi erguido um grande palanque para que, ao longo de quase três quilômetros, os presentes possam acompanhar a intervenção do pontífice.Um enorme mural contra a xenofobia e o racismo, em forma de vitral, irá decorar o altar.A grande festa da juventude católica latino-americana custará 54 milhões de dólares, em parte dado por patrocinadores e doadores. O governo assegura, por sua vez, que terá um impacto direto de 388 milhões de dólares sobre a economia.