VENTOS DE ATÉ 180 KM/H

Forte vendaval atinge Águas de Lindoia e mata uma pessoa

Os ventos chegaram a 180 quilômetros por hora, segundo estimativa da Defesa Civil. O coordenador do órgão, Edson Dias, classificou o evento como "tufão"

Gustavo Abdel e Estadão Conteúdo
22/08/2016 às 17:40.
Atualizado em 22/04/2022 às 22:49

Uma rajada de vento de até 180km/h abriu um corredor de destruição na zona rural de Águas de Lindoia e provocou a morte de uma mulher de 36 anos, atingida pela parede do próprio quarto. O fenômeno percorreu aproximadamente 10km de extensão, na madrugada de domingo, e em menos de cinco minutos deixou construções e árvores destruídos em dois bairros. O encontro da massa de ar polar, vinda do Sul, e de ar quente estacionada na região provocou um “turbilhão de vento”, segundo especialistas. Apesar da alta velocidade, que na média teria passado em alguns trechos a uma velocidade de 160 km/h, a ocorrência de um tornado foi descartada. O evento climático teve seu ápice na divisa entre Minas Gerais e São Paulo por volta das 2h. De acordo com o pesquisador Jurandir Zullo, do Centro de Pesquisas Meteorológicas e Climáticas Aplicadas à Agricultura (Cepagri/Unicamp), o radar meteorológico mostrou às 1h30 duas grandes formações de chuvas “moderadas fortes” na região onde ocorreram as destruições. No entanto, os fortes ventos foram mais intensos do que a própria chuva daquela madrugada, confirmou a Defesa Civil do município. O lavrador José Jucelino Alves, de 40 anos, com um dos pés enfaixados e escoriações nos braços, era confortado por parentes na manhã desta segunda, após o enterro da sua mulher, Claudinéia Antunes. Ela morreu a caminho do hospital após ser atingida por uma das paredes do quarto onde o casal dormia no momento do vendaval. Claudinéia foi levada para o hospital de Monte Sião e transferida para Pouso Alegre, mas morreu antes de chegar no hospital. “Foi muito rápido. Escutamos o barulho e de repente acabou a força. Eu me levantei de um lado e ela do outro. Foi quando o muro desabou em cima dela”, contou Alves. “Não durou mais de 10 segundos o vento.”     Na casa estavam os dois filhos, uma garota de 17 anos e um menino de 10. Ninguém ficou ferido. A construção fica no Sítio Marcela, no bairro dos Pimentéis, e além dela mais outros três imóveis na mesma propriedade sofreram danos principalmente nos telhados. Pedaços da laje de concreto da casa de Alves foram parar a uma distância de 20 metros, assim como um fogão e duas janelas de ferro caíram no córrego, em frente à construção onde vivia o casal há quase 20 anos. “Minha tia era muito legal. Ela gostava de fazer bolo e café e me chamar para comer na casa dela”, disse Vinícius de Matos Bertoline, de 10 anos, enquanto olhava quieto o que restou do quarto e da casa dos parentes. Alves disse que agora morará com o cunhado, no mesmo sítio. “Perdi esposa e minha casa. Mas tenho graças A Deus meus filhos e a vida, que eu preciso tocar daqui em diante”, disse. Destruição Árvores de até 15 metros de altura foram arrancadas do solo em diversos pontos daquela região montanhosa. Ao lado de um posto de combustível próximo à entrada de Monte Sião, no bairro Jardim Europa, uma cerca de madeira foi tombada com a força do vento. No posto, parte do telhado foi danificado. No bairro dos Francos, um dos primeiros a ser atingidos, segundo a Defesa Civil, a residência da família de Satiro Godoi, de 68 anos, teve seis cômodos destelhados pela ventania e queda de galhos de árvores. “Começou a fazer um barulho forte e veio se aproximando. Quando o vento chegou balançava a estrutura do telhado.” Sua esposa, Elisângela Godoi, conta que todos foram para a sala enquanto as telhas dos quartos iam abaixo. “Foi muito rápido, e por sorte não feriu ninguém. Mas precisamos avisar os parentes para poder acolher a gente”, relatou. Pelo menos 12 árvores caíram na propriedade da família, e Satiro e filhos passaram a segunda-feira limpando os estragos. Balanço O coordenador de situações de emergências da Defesa Civil de Águas de Lindoia, Edson Dias, informou que foram registradas, ainda de maneira parcial, a queda de 70 árvores. A faixa de destruição teve 100 metros de extensão e atingiu ao menos 10 imóveis, a maioria no bairro dos Pimentéis. “O que chamou a atenção foi o fato da direção do vento seguir no sentido contrário, e em uma intensidade jamais vista naquela região”, pontuou Dias. “Já tínhamos analisado os gráficos do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e constatado mudança brusca na temperatura. No entanto, os ventos chegaram a aproximadamente 160 km/h.”   O pesquisador do Cepagri Jurandir Zullo analisou algumas imagens encaminhadas pela reportagem e em um primeiro momento descartou a passagem de um tornado. “Pelos relatos a ventania foi rápida, diferentemente de um tornado, que passa lentamente sobre uma região e movimentos circulares. Pelas imagens não há árvores retorcidas que pudessem indicar a passagem de algo circular.” O encontro das massas quente e polar pode provocar canais de ventos que se potencializam diante da topografia do terreno. “Como é um local descampado os estragos são mais expressivos.” Chuva provoca estragos no Rio e ressaca toma avenida em Santos Ventos de até 122,8km/h e chuvas fortes provocaram, na noite de sábado e na madrugada de ontem, queda de árvores e corte no fornecimento de energia elétrica em bairros da zona sul, norte e oeste do Rio de Janeiro. Alguns locais, como parte do bairro do Grajaú, na zona norte, só tiveram o abastecimento de energia restabelecido ontem à noite. O registro de vento de 122,8 km/h aconteceu às 20h do domingo, no Forte de Copacabana, segundo o Instituto Nacional de Meteorologia. De acordo com os parâmetros do Sistema Alerta Rio, ventos acima de 76 km/h são de intensidade muito forte. A queda de árvores provocou a interdição no trânsito em pelo menos 14 ruas da cidade. As fortes chuvas levaram também ao corte no abastecimento de energia no estádio no Maracanã no domingo, antes da festa de encerramento dos Jogos Olímpicos. Para enfrentar o problema, foi necessário acionar geradores. De acordo com nota enviada pela Light, concessionária fornecedora de energia elétrica, na manhã de ontem a empresa ainda trabalhava para restabelecer a energia em trechos nos bairros da Tijuca, na zona norte, e em Laranjeiras, zona sul. Em Santos, as autoridades contabilizavam prejuízos de uma forte ressaca do mar, provocado pela frente fria, na tarde de domingo e na madrugada. As ondas chegaram a 2,6 metros na região da Ponta da Praia, onde garagens de prédios que ficam na Avenida Bartolomeu de Gusmão foram inundadas. A Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) bloqueou os dois sentidos da via. Árvores foram derrubadas e a travessia de balsas entre Santos e Guarujá chegou a ser interrompida duas vezes. Ao menos 60 carros ficaram submersos e trailers foram arrastados. (Estadão Conteúdo)  

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