tecnologia

Filho e celular: dilema para os pais

Especialistas afirmam que uso do aparelho por crianças e adolescente, ainda imaturos, preocupa

Henrique Hein
21/07/2018 às 18:32.
Atualizado em 27/04/2022 às 13:28
A nutricionista Ana Júlia Flório acredita que as novas tecnologias estão criando um ?sedentarismo tecnológico' (Thomaz Marostegan/Especial para a AAN)

A nutricionista Ana Júlia Flório acredita que as novas tecnologias estão criando um ?sedentarismo tecnológico' (Thomaz Marostegan/Especial para a AAN)

Se até pouco tempo muitos pais encontravam dificuldades para determinar qual deveria ser a dose certa de tempo de televisão e videogame que seus filhos deveriam usufruir durante o dia, atualmente o dilema ficou ainda mais complexo. Isso porque os avanços tecnológicos e o fácil acesso à informação - promovido por tablets, computadores e celulares -, vêm tornando ainda mais difícil a seleção e filtragem dos pais sobre a grande quantidade de conteúdo que são transmitidos às crianças e adolescentes. Segundo especialistas ouvidos pelo Correio, a situação é preocupante. A especialista em Educação Infantil Maricélia Saragiotto, de 66 anos, explica que o contato abusivo com celulares e tablets logo na infância aumenta drasticamente as chances de crianças e adolescentes desenvolverem problemas crônicos na idade adulta, como depressão, ansiedade generalizada, e até conduta suicida. “Nós, seres humanos, dependemos muito da interação com o outro para nos desenvolver, crescer e aprender. Precisamos das frustrações e quando somos estimulados desde pequenos a só ficar no celular, tendemos a nos tornar inibidos, tímidos, alienados ao que está acontecendo e a crescer sem saber como lidar com nossos problemas”, argumenta. Outro ponto que chama a atenção com relação ao excesso do uso de celulares no dia a dia é a falta de uma boa alimentação nos primeiros anos de vida. Tanto que em 2017, a Organização Mundial da Saúde lançou um programa com novas diretrizes para enfrentar o que ela considera uma epidemia global - 41 milhões de crianças menores de cinco anos já são obesas ou estão acima do peso no mundo. Para a nutricionista Ana Júlia Flório, de 25 anos, as novas tecnologias estão criando um ‘sedentarismo tecnológico’. “As crianças estão passando muito tempo em frente a celulares e isso interfere bastante em relação à alimentação, pois elas deixam de prestar atenção no que estão comendo e acabam ingerindo uma grande quantidade de calorias desnecessárias para aquele momento”, comentou. Segundo ela, o tempo perdido em frente ao celular está deixando de ser utilizado pelas crianças para brincar, correr e praticar outras atividades físicas. "Isso, além de atrapalhar o desenvolvimento mental delas, ainda aumenta a probabilidade de obesidade na idade adulta", explica Flório. Anuência dos pais Para Saragiotto, as crianças só se tornam viciadas em aparelhos eletrônicos com a anuência dos próprios pais. “Muitos deles deixam seus filhos ficarem com o aparelho por mera comodidade - eles não reclamam, não fazem birra e não enchem o saco. Entretanto, esse tipo de escolha é um grande erro. Eles estão se livrando de um problema momentâneo e incentivando a criança a manter o contado com uma tecnologia que, em excesso, faz mal para a idade dela”, alerta a especialista, que ressalta ainda que os pais precisam saber colocar um limite e, principalmente, dar o exemplo. “Não adianta nada eu tirar o telefone das mãos do meu filho por algumas horas e ficar usando o aparelho na frente dele. Que exemplo que eu estou passando? Nenhum!” A opinião da especialista em educação é a mesma de Flório, que afirma que os pais precisam mostrar para as crianças quais são os momentos em que o celular não deve ser utilizado. "Na hora da refeição, os pais precisam deixar claro que é hora de comer e não de ficar mexendo no celular. Porém, eles precisam também dar o exemplo e comer sem o celular à mesa. Caso contrário, não adianta nada", ressaltou a nutricionista. Questionada sobre qual é a idade correta para iniciar o uso do primeiro celular, Saragiotto ponderou que isso varia muito de caso para caso. "Uma criança tem que ter um celular a partir do momento em que ela precisa, de fato, se comunicar com a família. Antes disso, não há necessidade. Por exemplo, uma criança, de 13 anos, que pega van escolar ou que sai na rua com os amigos constantemente, precisa se comunicar com a família. Agora uma criança, de seis ou sete anos, dificilmente precisa disso", esclareceu a especialista.

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2025Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por