FRÁGIL

Ex-general diz que se ocorrer um ataque o regime cai

Ex-general sírio acredita que o regime de Bashar al-Assad não resiste por 48 horas de ataques

France Press
29/08/2013 às 10:23.
Atualizado em 25/04/2022 às 03:57
Marinha norte-americana se posiciona na costa síria e aguarda ordens (France Press)

Marinha norte-americana se posiciona na costa síria e aguarda ordens (France Press)

Se uma ação militar dos ocidentais contra o poder sírio começar e durar pelo menos 48 horas, o regime cairá, declarou à AFP nesta quinta-feira (29), em Paris, Muhammad Hussein al-Haj Ali, um ex-general sírio que liderou a Academia Nacional de Defesa em Damasco. O ex-general, de 59 anos, formava oficiais militares na academia antes de desertar em agosto de 2012 e se juntar à oposição síria. AFP: Você é favorável aos ataques de países ocidentais contra o regime de Bachar al-Assad em represália ao suposto uso de armas químicas? Resposta: Meus sentimentos estão divididos: você gostaria que o seu povo fosse bombardeado? Mas, como soldado e oficial, desejo esta ação. Chegamos a um ponto em que não há retorno. O Irã, a Rússia, o Hezbollah apoiam esmagadoramente o regime. A oposição não pode competir em igualdade de condições. Uma catástrofe está acontecendo na Síria. Trezentas mil pessoas foram mortas nesta guerra. A ONU registrou 100 mil, mas, infelizmente, não tem os meios para registrar todas as mortes. Os túmulos são incontáveis agora. Todos os dias, mais de 100 pessoas morrem nas prisões. (...) O regime está louco, é preciso parar o massacre. Sem o apoio internacional, somos impotentes. É uma batalha desigual. (...) O regime dispõe de um arsenal de armas químicas muito perigoso e muito grande graças a programas desenvolvidos em estreita colaboração com o Irã e a Coreia do Norte. Existem vários locais de fabrico e armazenamento. AFP: Nenhuma decisão de ataque foi tomada por enquanto. Quais os alvos que você acredita que devam ser prioritários? R: Os principais alvos devem ser as rampas de lançamento de mísseis de longo alcance, os radares, os sistemas de defesa anti-aérea, centros de comando, centros de informação, aeroportos, mas não acredito que o Ocidente atacará todos estas posições. Não será um ataque tão extenso. O cenário de contínuos ataques e de grandes proporções é improvável. Não há vontade internacional para isso, mas posso garantir que, se a intervenção durar pelo menos 48 horas sem interrupção, o regime vai cair. Estamos na presença de um regime decadente, que tem mobilizado suas forças militares em uma guerra civil de dois anos e meio. Os recursos humanos estão diminuindo, assim como as armas, os militares estão desmoralizados. Estou em contato diário com alguns. Como militar, eu escolheria como alvos prioritários os centros de comando e controle. Há quatro principais no país e entre eles três estão em Damasco, e o quarto em Homs. E em segundo lugar, os mísseis de longo alcance. Esta intervenção, eu considero muito provável. Toda a credibilidade do mundo livre depende disso (...) É tempo de se opor à ditadura e à posição vergonhosa da Rússia (o ex-general foi formado na Rússia). Estou surpreso com a procrastinação ocidental, um passo à frente, dois passos para trás. Quando Obama estabeleceu uma linha vermelha para o uso de armas químicas 12 meses atrás, isso também significou que as linhas são verdes para os outros tipos de armas. AFP: Por que você desertou? R: Desertei em agosto de 2012 quando vi que o regime utilizava armas pesadas contra a população civil. Não podia continuar a ser um oficial patriota e ver aviões bombardeiros e artilharia pesada utilizadas contra o povo. Esse recurso (às armas pesadas) começou no início de 2012. Em agosto me juntei à rebelião na fronteira entre a Turquia e a Síria. Eu agi junto à Unidade de Forças Revolucionárias da Síria, que tem combatentes em todo o país. Segundo meus cálculos, cerca de 3.000 oficiais sírios desertaram, 3.000 outros estão na prisão e muitos outros foram executados pelo regime por desobediência.

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