INTERNACIONAL

ELN dá por terminada sua primeira trégua bilateral na Colômbia

A guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) anunciou o fim de sua primeira trégua bilateral na Colômbia a partir da meia-noite desta terça-feira (9), embora vá evitar escalar o conflito enquanto negocia com o governo, em Quito, um novo cessar-fogo

Estadão Conteúdo
09/01/2018 às 16:00.
Atualizado em 22/04/2022 às 10:34

A guerrilha do Exército de Libertação Nacional (ELN) anunciou o fim de sua primeira trégua bilateral na Colômbia a partir da meia-noite desta terça-feira (9), embora vá evitar escalar o conflito enquanto negocia com o governo, em Quito, um novo cessar-fogo.Em entrevista à AFP nos arredores da capital equatoriana, o chefe de negociações do grupo rebelde, Pablo Beltrán, descartou uma prorrogação do atual acordo, vigente desde 1º de outubro."Hoje, terça-feira, às 24 horas termina o cessar-fogo, que teve duração de 101 dias", declarou o comandante rebelde Beltrán, na véspera da retomada dos diálogos de paz em Quito, sede do processo que busca por fim a um confronto de 53 anos.O cessar-fogo acaba com queixas mútuas de descumprimento, mas com um fato indiscutível: nos últimos três meses não houve confrontos entre os militares e as tropas rebeldes pela primeira vez em mais de meio século de conflito. E isto incentiva as partes a discutirem uma nova suspensão de hostilidades."Chegamos a um estágio importante que é desenvolver as conversações em meio ao cessar-fogo bilateral. Vamos tentar com que se mantenha, enquanto isso esperamos que não haja uma escalada de ofensivas", afirmou o líder rebelde.No entanto, Beltrán assegurou que "o governo está enviando tropas adicionais" às zonas de influência do Exército de Libertação Nacional (ELN).O governo de Juan Manuel Santos, por sua vez, não anunciou uma retomada imediata da perseguição aos rebeldes, e destacou sua disposição em acordar uma nova trégua."Esse é o ideal, logicamente", assegurou o máximo encarregado da delegação de paz do governo, Gustavo Bell, ao chegar à capital equatoriana na segunda-feira. As equipes de negociadores anunciaram que iniciarão na quarta-feira as discussões sobre uma nova trégua.- Temores de guerra -Com menos de dois mil combatentes, o ELN é a última guerrilha ativa na Colômbia reconhecida pelo governo, após o desarmamento e a transformação em partido político da ex-insurgência das Farc, no fim de 2016.Ainda quando as duas partes estão empenhadas em seguir adiante com as negociações sem o ruído da guerra, o ELN se prepara para uma eventual arremetida oficial.O comandante Uriel, da Frente de Guerra Ocidental Ómar Gómez, que opera no departamento (estado) do Chocó, em plena selva, afirmou em mensagem enviada aos veículos de comunicação na segunda-feira que seus homens já tomaram suas posições.Beltrán insistiu em que espera que "haja calma", embora tenha admitido que em Quito alertaram todo o ELN "para que esteja pendente porque se há anúncio de operações ofensivas, quer dizer que é preciso elevar as medidas de segurança". - Um pacto melhor -Durante a trégua, iniciada em 1º de outubro, as partes se acusaram de descumprimentos de acordos mútuos.Além da interrupção do confronto, o ELN tinha se comprometido a suspender sequestros e ataques à infraestrutura petroleira, enquanto o governo melhoraria as condições dos guerrilheiros presos e a segurança dos líderes sociais, alvos de ataques que deixaram 105 mortos entre janeiro e 20 de dezembro de 2017, segundo a ONU.O ELN foi acusado, por exemplo, de violar o acordo ao assassinar um governador indígena, um fato pelo qual o grupo pediu perdão.O grupo rebelde, por sua vez, considerou como descumprimento a morte de sete camponeses cocaleiros em um ataque que envolveu a força pública e as operações militares em suas zonas de influência.Para Jorge Restrepo, diretor do Centro de Recurso para a Análise de Conflitos, é preferível negociar um novo cessar-fogo a prorrogar o atual."Este cessar-fogo como está tem muitas falhas, não tem regras claras, não são públicas, o mecanismo de monitoramento tampouco tem como fazer essa monitoração precisamente porque não existem regras claras e transparentes", afirmou à AFP.Santos espera avançar com as negociações com vistas a extinguir o último conflito armado do continente que, em mais de meio século, deixou oito milhões de vítimas entre mortos, desaparecidos e deslocados.Estimulado pelo acordo com as outrora Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o presidente e ganhador do Nobel da Paz pretende sustentar a mesa de Quito ante o panorama eleitoral, que confronta partidários e críticos de uma saída negociada com as guerrilhas.

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