Os panamenhos elegem neste domingo (5) presidente e outras autoridades para os próximos cinco anos, com uma ampla participação, após uma campanha marcada pelo crescente repúdio da população aos partidos tradicionais e à corrupção
Os panamenhos elegem neste domingo (5) presidente e outras autoridades para os próximos cinco anos, com uma ampla participação, após uma campanha marcada pelo crescente repúdio da população aos partidos tradicionais e à corrupção."Tomara que o povo vote pelo menos pior porque para o meu conceito, todos (os políticos) são ruins. A cada cinco anos, (fazem) promessas e promessas e não cumprem. Todos vêm roubar", disse à AFP Florencio Ayarza, antes de votar em um centro nos arredores da capital."Eu espero menos corrupção", acrescentou o indígena kuna Prudencio González.As urnas foram abertas às 9h de Brasília para que os 2,7 milhões de eleitores habilitados escolham, em turno único, o sucessor do presidente Juan Carlos Varela. O processo transcorria em ordem e sem inconvenientes nas 2.798 seções de votação à tarde. O Tribunal Eleitoral informou que espera até 80% de participação.Sete candidatos aspiram à Presidência, mas as pesquisas de intenção de voto apontam como favoritos o empresário pecuarista Laurentino Cortizo (Partido Revolucionário Democrático, social-democrata) e o ex-chanceler e advogado Rómulo Roux (Mudança Democrática, direita).Em terceiro lugar, aparece o independente Ricardo Lombana, que capitalizou a insatisfação com a corrupção da classe política.Na pesquisa do instituto espanhol GAD3, publicada há algumas semanas pelo jornal La Prensa, Cortizo tinha intenção de voto de 27,9%, Roux de 16,9% e Lombana de 15,3% (com 2,9 pontos de margem de erro), enquanto indecisos somavam 15,2%."Acho que a poucos dias das eleições ainda há muita gente indecisa e, portanto, em 5 de maio qualquer coisa pode acontecer", disse à AFP Rita Vásquez, diretora do jornal La Prensa.Cortizo, de 66 anos, foi ministro do ex-presidente Martín Torrijos (2004-2009), mas renunciou por controvérsias com o Acordo de Livre-Comércio entre Panamá e Estados Unidos.Seu plano de governo é focado principalmente em melhorar a educação, reformar o Estado, impulsionar a economia, combater a pobreza e a desigualdade e melhorar a transparência governamental.Roux, de 54 anos, ex-chanceler e ex-ministro do Canal do governo do hoje preso ex-presidente Ricardo Martinelli (2009-2014), focou sua campanha na reativação econômica, na criação de empregos e na redução de impostos.O Panamá foi afetado nos últimos anos por escândalos como os chamados "Panama Papers", ou propinas da empreiteira brasileira Odebrecht, o que leva a população a um desinteresse total pela política. Esse tédio favorece um aumento nas chances de Lombana, que alcançou o terceiro lugar na corrida presidencial com um discurso feroz contra a corrupção e a liderança partidária. Advogado e jornalista de 45 anos, Lombana propõe convocar um referendo para uma nova Constituição que subtrai o poder do presidente, limita o uso de fundos públicos e reforma da justiça. Também quer aumentar as penalidades por corrupção e evitar a prescrição deste tipo de crime.- Campanha enfadonha -Após o golpe militar de 1968, que colocou no poder o general Omar Torrijos, e durante o governo de fato do ditador já falecido Manuel Antonio Noriega, o debate político no Panamá se concentrou em defender ou criticar o governo militar.Depois da invasão americana de 1989, que pôs fim à ditadura de Noriega, as eleições também foram protagonizadas por partidos representativos dessas antigas rivalidades, até a vitória do ex-presidente Ricardo Martinelli en 2009. Agora, a realidade é muito diferente, afirmam analistas."É a campanha mais enfadonha, mais sem graça, mais controlada e mais amarrada", disse à AFP o diretor do jornal Metro Libre, James Aparicio, que cobre as eleições panamenhas desde os anos 1980.Para o diretor dos serviços de informação da Rádio Panamá, Edwin Cabrera "esta campanha é absolutamente atípica em comparação a tudo o que vimos antes".