Ministro do STF, Luís Roberto Barroso, defendeu papel da imprensa (Fábio Pozzebom/Agência Brasil)
O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, também ministro do Supremo Tribunal Federal, teceu críticas contundentes ao presidente Jair Bolsonaro ao participar ontem de webinário sobre "Respostas Constitucionais a Retrocessos na Democracia", promovido pela Fundação Fernando Henrique Cardoso. Barroso destacou, em transmissão ao vivo, que a democracia do País vem sendo atacada pelo próprio presidente da República — sem citar o nome de Bolsonaro — e seu entorno, mas tem se mantido resiliente pela própria ação da imprensa, que é plural e crítica. "O que contribuiu para a resiliência da democracia brasileira é a imprensa." "Temos um presidente que defende a ditadura e a tortura e ninguém jamais considerou alguma solução diferente do respeito à igualdade constitucional", destacou Barroso. Ele afirmou que, apesar dos ‘tempos difíceis', a sociedade e as instituições têm sido capazes de preservar a integridade do regime democrático. "Em face de manifestações autoritárias, tanto pelo presidente ou por pessoas próximas a ele, inclusive evocando a época da ditadura militar, a sociedade civil reagiu a isto com vigor, condenando os ataques às instituições e levando os autores destes ataques a retirarem-nos. A reação brasileira àquilo que ela viu como ameaças, nem que apenas retóricas, levou a reações muito vigorosas", disse. O ministro também defendeu a importância de garantir liberdade e independência do trabalho da imprensa e do Supremo Tribunal Federal para, respectivamente, fiscalizar as políticas públicas do governo e limitar o poder do presidente. Ele lembrou os ataques dirigidos por Bolsonaro a jornalistas. O mais recente, no último domingo, veio em resposta a um repórter que perguntou sobre repasses de R$ 89 mil feitos por Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro, à primeira-dama Michelle Bolsonaro: "Vontade de encher tua boca de porrada", disse Bolsonaro. E um dia depois dessa agressão verbal, em evento no Palácio do Planalto, o mandatário voltou a atacar a imprensa, usando o termo "bundão" para se referir a jornalistas. "Embora frequentemente atacada pelo próprio presidente, a imprensa no Brasil é plural, independente e fortemente crítica do governo. Tanto este como dos governos anteriores. Portanto, uma coisa que acho que contribui com esta resiliência da democracia no Brasil é justamente a liberdade, independência e até o poder da imprensa brasileira", disse. O ministro destacou ainda o papel do STF no enfrentamento à crise imposta pela pandemia do novo coronavírus e lembrou decisões recentes que garantiram autonomia a Estados e Municípios para estabelecerem política de quarentena e isolamento social ou determinaram medidas a serem adotadas pelo governo federal, a contragosto do presidente, para conter o contágio e a mortandade por Covid-19 entre a população indígena. Presidente chama repórter de otário e não responde pergunta Durante cerimônia de reativação do alto-forno da Usiminas, em Ipatinga, o presidente Jair Bolsonaro voltou a se irritar e xingar repórteres ao ser questionado sobre os depósitos feitos na conta bancária da primeira-dama, Michelle Bolsonaro, pelo ex-assessor de Flávio Bolsonaro Fabrício Queiroz e sua mulher, Marcia Aguiar. Por três vezes, chamou o jornalista de O Globo, que cobria a viagem, de "otário". Outros jornalistas também fizeram a pergunta, que não foi respondida. Os valores na conta da primeira-dama somaram R$ 89 mil. Bolsonaro retrucou fazendo perguntas sobre movimentações financeiras da família Marinho, dona do jornal. A pergunta de um repórter do jornal Estado de Minas, que questionou se Bolsonaro havia se arrependido de ataques anteriores a repórteres, foi classificada de "indecente". Antes dos novos ataques a jornalistas, feitos durante entrevista, o presidente abriu o discurso da cerimônia na Usiminas também criticando os meios de comunicação. "O dia em que eu for elogiado pela imprensa, podem saber que o Brasil está indo mal", disse. Sem máscara, ele voltou a causar aglomeração ao posar para fotos com funcionários dentro do empreendimento. Ipatinga é a terceira cidade de Minas em número de casos de Covid-19, com 7.031 diagnósticos para a doença; No evento, Bolsonaro também admitiu haver relação entre o auxílio emergencial dado à população de baixa renda e o aumento de sua popularidade nos últimos meses.