5 dias no governo

Decotelli deixa MEC antes da posse

O presidente Jair Bolsonaro aceitou ontem a carta de demissão de Carlos Alberto Decotelli, nomeado ministro da Educação na semana passada

Estadão Conteudo
Estadão Conteúdo
01/07/2020 às 10:22.
Atualizado em 28/03/2022 às 23:32
Decotelli deixa MEC antes da posse (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Decotelli deixa MEC antes da posse (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

O presidente Jair Bolsonaro aceitou ontem a carta de demissão de Carlos Alberto Decotelli, nomeado ministro da Educação na semana passada. Depois de seu currículo ter sido questionado por universidades estrangeiras e pela Fundação Getulio Vargas, o governo pediu que o economista deixasse o cargo para qual nem chegou a ser empossado. Ele ficou cinco dias como ministro da Educação, o terceiro de Bolsonaro em 1 ano e meio de governo. Apesar de a nomeação ter sido publicada em Diário Oficial da União na quinta-feira, Decotelli não tinha poder para despachar. Ele já frequentava o MEC e preparava mudanças na pasta, mas, oficialmente, os atos só teriam validade após a assinatura do termo de posse. A cerimônia estava prevista para ontem, mas foi cancelada após a revelação de inconsistências no currículo do ministro. A gota d'água foi a nota da Fundação Getulio Vargas (FGV) informando que Decotelli não foi pesquisador ou professor da instituição. O presidente Bolsonaro ficou irritado ao saber de mais uma incoerência no currículo do indicado. O governo passou a pressioná-lo a apresentar uma carta de demissão. Incoerências do currículo A primeira suspeita de incoerências no currículo foi de que Decotelli não teria o título de doutor pela Universidade Nacional de Rosário, na Argentina, o que foi confirmado pelo reitor da instituição, Franco Bartollacci. Segundo o reitor, porém, Decotelli não fez a defesa oral da tese porque ela seria reprovada pelos examinadores. A segunda acusação foi de que a dissertação que Decotelli apresentou no término de seu curso de mestrado na Fundação Getúlio Vargas (FGV) seria um plágio. Submetida a um programa de informática que detecta plágios, verificou-se que trechos inteiros da dissertação são cópias - sem os devidos créditos - de relatórios de órgãos governamentais e de trabalhos acadêmicos. Decotelli também incluiu no currículo Lattes a informação de que teria feito pós-doutorado na Universidade de Wuppertal, na Alemanha. Mas o reitor contestou a informação, afirmando que Decotelli passou três meses na Alemanha como pesquisador e que não adquiriu título algum nesse período Como gota d'água, a FGV emitiu nota informando que Donatelli não faz parte do copor docente da instituição e que foi apenas professor colaborador. "Prof. Decotelli atuou apenas nos cursos de educação continuada, nos programas de formação de executivos e não como professor de qualquer uma das escolas da Fundação", completa o texto. Bolsonaro é aconselhado a trocar outros dois ministros O presidente Jair Bolsonaro tem sido aconselhado por auxiliares e parlamentares a substituir os ministros Ricardo Salles, do Meio Ambiente, e Ernesto Araújo, das Relações Exteriores. Embora contem com o apreço do presidente e do núcleo ideológico, os dois são considerados problemáticos por integrantes do governo e vistos como entraves para acordos comerciais internacionais. A condução da política ambiental de Salles é apontada como um empecilho para acordos comerciais bilaterais e, até mesmo, para que o País receba investimentos externos. Na semana passada, um grupo formado por quase 30 fundos de investimento com US$ 3,7 trilhões exigiu que o Brasil freie o crescente desmatamento no País. Já o caso de Ernesto Araújo, alinhado ao guru ideológico Olavo de Carvalho, é mais delicado e o motivo é a necessidade de alguém mais pragmático à frente do Itamaraty. Nesta segunda-feira, em reunião no gabinete da Vice-Presidência, o governo discutiu a estratégia de reação às cobranças internacionais. Está prevista para a próxima semana uma reunião com integrantes de signatários da carta que pediram um freio no desmatamento. Um grupo defendeu que Salles ficasse de fora da conversa com investidores, mas a reunião definiu que o ministro do Meio Ambiente participará. As queixas de parlamentares sobre Salles e Araújo têm chegado a Mourão. O deputado Rodrigo Agostinho (PSB-SP), da Frente Ambientalista, tem sido um porta-voz da insatisfação. "Ele (Salles) perdeu credibilidade para estar à frente do Ministério do Meio Ambiente. Foram vários pedidos de impeachment protocolados, inclusive da sociedade civil. Já fez o Brasil passar vergonha demais. Está na contramão da história, infelizmente", afirmou. Também integrante da bancada ruralista e líder do Solidariedade na Câmara, o deputado Zé Silva (MG) é outro que levou ao governo a preocupação com o atual cenário. "Os sinais dos compradores do agro brasileiro e do mercado financeiro acedem um sinal amarelo em relação à administração das políticas ambientais do País", disse.

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