BALANÇO

Decepção se estende entre os países da Primavera Árabe

Tudo começou no dia 17 de dezembro de 2010 com a imolação de um jovem vendedor ambulante

France Press
18/12/2012 às 15:06.
Atualizado em 26/04/2022 às 11:28

A euforia deu lugar à decepção na Tunísia, Egito e Líbia dois anos depois do começo da Primavera Árabe devido às tumultuadas transições políticas, aos problemas econômicos e as ameaças extremistas.

No dia 17 de dezembro de 2010 Mohamed Bouazizi, um jovem vendedor ambulante desesperado se imolou em Sidi Buzid, uma cidade do centro-oeste da Tunísia, desatando a revolta tunisiana. Agora os preparativos para comemorar este ato estão envoltos em polêmica.

Uma parte do comitê organizador que renunciou para denunciar que os islamitas do Ennahda, no poder, tentam controlar as comemorações. Além disso, a oposição aproveitará para se manifestar contra o governo, ao que acusa de ser incapaz de colocar o país em um bom caminho.

Muitos dos habitantes desta cidade consideram que nada mudou desde 2010, sobretudo no desemprego, que continua crescendo.

"De que revolução você fala? Nada mudou aqui", protesta Ezzedine Nasri, um vendedor ambulante cuja esposa não encontra trabalho apesar de ter um diploma universitário.

A Tunísia evitou ao máximo uma greve geral convocada pelo sindicato majoritário, a União Geral Tunisiana do Trabalho (UGTT), que queria protestar contra um ataque de milicianos próximos ao Ennahda.

No último momento foi alcançado um acordo com o governo que permitiu anular a greve, o que não dissipou o medo dos laicos de que o Ennahda tente islamizar o país, por meio da força, se necessário.

O ataque à UGTT faz parte "do plano de revanche de Rached Ghannouchi (o chefe do Ennahda) e seus partidários salafistas contra qualquer instituição tunisiana que tenha contribuído para a construção da Tunísia moderna e racional", escreveu um ativista do campo laico Omar S'habou no jornal Le Maghreb.

"Insegurança, violência e economia a meio mastro"

Em um ano, o governo vencedor das eleições de outubro de 2011 não conseguiu orientar a economia e é acusado de abrir espaço para os salafistas, que multiplicam as operações, como o ataque à embaixada norte-americana no dia 14 de setembro.

A Assembleia Constituinte não avançou muito na elaboração de uma nova Constituição e considera essa ação difícil por numerosas polêmicas entre islamitas e laicos.

As eleições previstas em 2013 poderiam ser adiadas, o que aumenta a incerteza.

Na quarta-feira, a agência de classificação financeira Fitch rebaixou em um escalão a nota da dívida a longo prazo da Tunísia, de "BBB-" a "BB+", ou seja, ao grau especulativo, devido à "transição econômica e política do país que resulta mais longa e mais difícil que o previsto".

O Egito nunca esteve tão dividido como desde que o presidente islamita Mohamed Mursi tentou atribuir a si mesmo novos poderes.

Pressionado por uma parte da população, Mursi renunciou a isso, mas manteve um referendo sobre a Constituição redigida por islamitas e impugnada pela oposição.

As manifestações de protesto contra as intenções do presidente foram violentas, com derramamento de sangue, o que agrava a tensão no país.

Por causa dos problemas políticos, o pedido de ajuda de 4,8 bilhões de dólares que o Egito fez ao Fundo Monetário Internacional (FMI) está congelada pela decisão do Cairo.

Na Líbia, as autoridades conseguiram realizar eleições gerais em julho e restabelecer a produção petrolífera, mas a insegurança e as ameaças extremistas prevalecem.

Os oito meses do conflito armado que acabou com o regime de Muamar Kadhafi deixou sequelas: a proliferação das milícias armadas, o tráfico de armas e a emergência de ameaças terroristas ilustradas pelo ataque de 11 de setembro em que morreram quatro norte-americana, entre eles o embaixador Christopher Stevens.

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