A Hungria cedeu e reverteu a decisão anunciada na véspera de suspender a aplicação da convenção sobre o asilo
A crise da migração na União Europeia ganhou um novo capítulo nesta quarta-feira (24), depois que a Hungria cedeu e reverteu a decisão anunciada na véspera de suspender a aplicação da convenção sobre o asilo."O barco está lotado", afirmou na terça-feira o porta-voz do governo húngaro, Zoltan Kovacs, ao anunciara que o país suspenderia a aplicação da convenção conhecida como "Dublin III", uma das peças vitais da política migratória da UE. Mas sob a pressão da UE e da vizinha Áustria, a Hungria cedeu e anunciou que reverterá a decisão de suspender a aplicação do regulamentação europeia sobre as demandas de asilo. Budapeste fez o anúncio ante o crescente fluxo de imigrantes que passam pela Europa central para chegar aos países do norte.Depois de recuar, o governo húngaro pediu aos sócios paciência e reiterou que o país não tem locais suficientes para abrigar os refugiados que entram na UE através de seu território.Depois que a Itália fez um apelo por mais solidariedade europeia a respeito dos migrantes, a decisão da Hungria mostrou um aprofundamento das contradições entre os sócios da UE a respeito da política migratória conjunta, às vésperas de uma reunião de cúpula sobre o tema.A convenção "Dublin III" estipula que os pedidos de asilo devem ser examinados pelo primeiro Estado no qual entra o migrante. A mudança de rumo da Hungria teria sido motivada pela ideia de evitar a abertura do processo estipulado por Bruxelas para as infrações contra os tratados comuns. A decisão acontece uma semana depois do primeiro-ministro Viktor Orban ter anunciado a construção de um muro de 175 km de comprimento na fronteira com a Sérvia. A Hungria se transformou no principal território de passagem dos migrantes que percorrem a "rota dos Bálcãs ocidentais" para chegar ao norte do continente, segundo os dados da agência europeia Frontex. O itinerário é um dos três caminhos escolhidos pelas pessoas em fuga de conflitos armados e que buscam refúgio na Europa, ao lado das rotas pelo Mediterrâneo para chegar à Itália e Grécia.A Frontex considera que a rota dos Bálcãs é a que registra o aumento mais expressivo no fluxo de migrantes desde o início do ano. Entre janeiro e maio, pelo menos 50.000 pessoas usaram o caminho, uma aumento de 880% na comparação com 2014.De acordo com a agência, a Hungria é a rota principal de trânsito dos migrantes que entram na UE através da Bulgária e da Grécia. Os refugiados que deixam a Ásia Central e o Oriente Médio consideram que este itinerário é mais seguro que os outros, com preços menos extorsivos cobrados pelos traficantes. Apesar dos números, todos olham apenas para o Mediterrâneo, acusou Kovacs. O chanceler húngaro Peter Szijjarto insistiu que o país está sobrecarregado com o fluxo. O governo de Budapeste informou que o Parlamento deve aumentar a capacidade do país para receber outros refugiados. O Reino Unido anunciou que reforçará os controles, depois que um grupo de migrantes tentou aproveitar uma greve da empresa MyFerryLink em Calais, na França, para chegar a seu território.