Dinheiro digital é uma realidade no mercado financeiro, mas continua cercado de incertezas
Bruno Castello. de Valinhos, abriu uma empresa em agosto do ano passado para auxiliar pessoas que querem aplicar nessa nova classe de ativos e ainda não têm conhecimento necessário (Leandro Torres/AAN)
As criptomoedas já são uma realidade no mercado financeiro, ainda que continuem cercadas por dúvidas e incertezas. O bitcoin, mais famosa dessas moedas virtuais, é um dinheiro como o real ou o dólar, mas sem nenhum Banco Central ou governo ligados a ele, e sim um complexo sistema de computadores mantido por milhares de usuários. O software usa criptografia avançada para garantir a segurança e é 100% virtual. Para comprar, vender ou transferir, só se for pela internet. E todas transações ficam salvas num banco de dados imutável e público chamado blockchain, uma espécie de “cartório digital” que pode ser consultado por qualquer pessoa. Em 2017, as criptomoedas valorizaram mais de 2.000%, o que provocou uma avalanche de interessados pelo dinheiro on-line nos últimos meses. Bruno Castello, de Valinhos, resolveu surfar na onda e até abriu uma empresa em agosto do ano passado para auxiliar as pessoas que querem aplicar nessa nova classe de ativos e ainda não têm conhecimento deste mercado ainda novo — a era da economia digital só teve início em 2009, com a criação do bitcoin. “As criptomoedas inovaram o modelo financeiro atual, principalmente entre empresas, proporcionando transações mais rápidas, baratas e seguras. É nítido você ver as pessoas querendo investir nisso porque viram notícias de gente que ganhou muito dinheiro, mas querem entrar sem nem mesmo saber o que são bitcoins" , diz Castello, que garante tentar controlar o ânimo de clientes que acreditam que vão ficar milionários da noite para o dia se comprarem moedas virtuais. “O meu conselho é não jogar todo o seu dinheiro numa tacada só, não só no bitcoin, mas em qualquer tipo de investimento. É um mercado volátil, de risco altíssimo. O conceito de investimento premia quem corre risco e abre mão de retornos seguros, mas o dinheiro que se coloca nas criptomoedas você não pode contar com ele para o mês que vem”, orienta. A cautela tem uma razão. As mesmas criptomoedas que supervalorizaram em 2017 passam por uma queda proporcional nos primeiros meses de 2018. O valor de mercado do bitcoin, por exemplo, despencou de US$ 14.575 em 31 de dezembro para US$ 8.633,00 sexta passada. “O mercado das criptomoedas pode proporcionar altas de valores expressivos, ou passar por grandes correções. O investidor deve estar ciente disso. Toda euforia do final de 2017, com muita gente investindo, e a grande queda no início de 2018, foram necessários para a correção dos valores que estavam exorbitantes e para a maturidade dos investidores que acarretará numa maturidade do mercado como um todo”, prevê o entusiasta. O professor de Economia da Unicamp (FCA/Limeira) Paulo Van Noije alerta que interessados em aplicar seus recursos em criptomoedas devem investir no máximo entre 5% a 10% de seu capital com as moedas virtuais. “Algumas pessoas estão ganhando dinheiro, e outras estão perdendo tudo que têm. A recomendação é colocar de 5% a 10% do que tem no máximo. A criptomoeda está tentando tirar o papel do Estado da economia. Pode ser bom por não ter o Estado controlando, mas tem o lado ruim de não tê-lo como garantia de segurança. Enquanto não houver uma regulação, a incerteza permanecerá elevada e vai seguir muito arriscado aplicar dinheiro nisso”, explica. Há um projeto de lei que tramita na Câmara dos Deputados, de número 2.303/2015, que trata sobre a regulamentação dos bitcoins, classificando-os como arranjos de pagamento sob a supervisão do Banco Central. Mas a resistência ainda é forte. Em janeiro, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que regula o mercado de capitais no Brasil, decidiu proibir a compra direta de moedas virtuais por fundos de investimento regulados e registrados no País. O ofício direcionado aos administradores e gestores de fundos afirma que as criptomoedas “não podem ser qualificadas como ativos financeiros” e que, por isso, sua aquisição direta pelos fundos de investimento não é permitida.