A chanceler da Alemanha defendeu a cooperação dos serviços secretos alemães (BND) com a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos
Aprovação do plano apoiado pela chanceler Angela Merkel não estava em risco (France Press)
As revelações da espionagem praticada pelos serviços de inteligência alemães a pedido dos Estados Unidos levaram, nesta terça-feira (5), os sociais-democratas, aliados na coalizão no poder, a questionar pela primeira vez a chanceler conservadora Angela Merkel.Merkel defendeu na segunda-feira (4) a cooperação dos serviços secretos alemães (BND) com a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos Estados Unidos, apesar das revelações sobre uma suposta espionagem da França, da União Europeia (UE) e de empresas europeias.O ministro da Economia, Sigmar Gabriel, do Partido Social-Democrata (SPD), que não havia feito declarações a respeito até este momento, indicou, também na segunda, que havia interrogado Merkel em duas oportunidades."O que vivemos atualmente é (...) um escândalo que envolve os serviços secretos, o que pode ter um impacto muito importante", declarou, na segunda, na sede de seu partido, o SPD, o também vice-chanceler social-democrata.Segundo Gabriel, Merkel disse que o BND não havia realizado nenhum tipo de espionagem econômica para os serviços secretos americanos."Não há a menor dúvida de que a chanceler respondeu corretamente as minhas perguntas", disse Gabriel, mas acrescentou: "Caso contrário, se o BND tivesse participado de verdade da espionagem econômica (...), isso hipotecaria gravemente a confiança que a economia alemã tem na direção do Estado".A imprensa alemã considerou que estas declarações estavam dirigidas contra Merkel."O vice-chanceler Gabriel se distancia da chanceler Merkel", afirma em sua edição na internet a Der Spiegel. "O conflito entre a CDU/CSU e o SPD é cada vez mais claro", afirma o jornal, apontando a irritação de vários dirigentes conservadores da CDU/CSU de Merkel.Para o Bild, que havia previsto há alguns dias que Gabriel começaria a criticar a chefe de Governo diante da aproximação das eleições legislativas de 2017, o líder social-democrata "se enfurece com Merkel"."Crise perigosa" para MerkelPara o cientista político da Universidade de Dusseldorf, Jens Walther, esta é "certamente a maior crise" da coalizão que governa a Alemanha e "também provavelmente, para Merkel, da crise mais grave e perigosa em 10 anos de exercício do poder".Seu colega da Universidade Livre de Berlim, Carsten Koshmieder, disse que "nos últimos anos, o SPD colocou em aplicação todas as medidas que desejava", como a instauração de um salário mínimo."No entanto, nas pesquisas, continua abaixo de Merkel", declarou."O SPD procura se distanciar e talvez também enfraquecer um pouco a chanceler", acrescentou.Na segunda, Merkel disse que os serviços de inteligência alemães estavam "sob controle" e afirmou que informariam sobre suas atividades com a agência americana se a comissão de investigação parlamentar solicitasse."Dito isso, o BND deve continuar cooperando no âmbito internacional e o fará", reiterou a chanceler alemã, para quem a luta "contra as ameaças terroristas internacionais" passa por colaborar com outras agências, entre elas a NSA.Merkel, no entanto, ressaltou há alguns dias a necessidade de esclarecer as relações entre a NSA e o BND.Nessa terça, a chanceler foi um pouco mais longe. Em uma entrevista à Rádio Bremen, Merkel disse que ela mesma dará explicações "caso seja solicitada"."Ante a comissão de investigação [do Bundestag sobre as atividades da NSA], se assim for desejado", acrescentouAs acusações das últimas semanas contra o BND se endureceram na semana passada depois que o jornal alemão Süddeutsche Zeitung afirmou que estes serviços espionaram funcionários do ministério francês das Relações Exteriores, da Presidência francesa e da Comissão Europeia.Estas acusações se unem à suposta espionagem desde 2005 por parte do BND das empresas EADS (que se converteu em Airbus) e Eurocopter (atualmente Airbus Helicopters) a pedido da NSA.