O príncipe Charles e sua esposa Camila iniciam a primeira visita oficial de um membro da família real britânica a Cuba no domingo, uma ilha sedenta por investimentos estrangeiros e enfrentando sanções mais duras por parte dos Estados Unidos
O príncipe Charles e sua esposa Camila iniciam a primeira visita oficial de um membro da família real britânica a Cuba no domingo, uma ilha sedenta por investimentos estrangeiros e enfrentando sanções mais duras por parte dos Estados Unidos.Essa é a primeira etapa do casal em sua agenda pelo Caribe e os dois permanecerão na ilha até quarta-feira, para depois viajar para as Ilhas Caimã."É simbolicamente importante porque nenhum membro da família real esteve em Cuba desde a revolução de 1959", afirmou à AFP Paul Webster Hare, ex-embajador britânico e professor da Universidade de Boston."O duque de Windsor fez uma visita particular em meados da década de 1950 e visitas reais (oficiais) são usadas como parte da diplomacia no sistema britânico: é uma maneira útil de enviar mensagens, fazer contatos e avançar nas negociações diplomáticas ", explicou.E que mensagem Londres quer enviar para Havana? Ao anunciar a viagem, Clarence House, a residência oficial do príncipe Charles, disse que esta escala na ilha socialista, "a pedido do governo britânico, aumentaria (seu) relacionamento bilateral crescente e seus laços culturais" com a ilha."A visita faz parte do nosso relacionamento de longa data com Cuba", disse um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Grã-Bretanha, reconhecendo que há "um diálogo aberto e franco sobre questões que os dividem, como os direitos humanos".Charles e Camila serão convidados de honra na segunda-feira em um jantar oficial oferecido pelo presidente Miguel Díaz-Canel, que sucedeu a Raúl Castro em abril de 2018. Nenhuma entrevista é planejada com o presidente, atualmente o primeiro secretário do Partido Comunista de Cuba.O encontro poderá ser uma possibilidade para o príncipe discutir em particular a questão dos direitos humanos ou a crise política na Venezuela, o maior aliado de Cuba."Duvido que seja apropriado que ele faça uma declaração pública dessa natureza, porque não é uma figura política nesse sentido", declarou Chris Bennett, diretor-gerente da empresa de consultoria de investimentos The Caribbean Council.- Beatlemania, turismo e energia -A visita também terá um cunho cultural, com um provável encontro com os músicos do Buena Vista Social Club, uma visita a uma escola de salsa e um show de balé.Entre Cuba e o Reino Unido, há uma longa história, diz Webster Hare, lembrando que os britânicos ocuparam Havana em 1762 antes de trocá-la com os espanhóis pela Flórida.Ele cita o amor pelos charutos cubanos de Winston Churchill, que viajou várias vezes à ilha (até mesmo um charuto tem seu nome), ou a "Beatlemania" cubana - da qual o próprio Miguel Díaz-Canel faz parte - com um bar na capital dedicada ao grupo, o "Yellow Submarine", e uma estátua de John Lennon.Mas o Reino Unido também quer fortalecer seus vínculos comerciais com Cuba.Empresários britânicos, dos quais 35 se reúnem na associação Cuba Initiative, "vêem Miguel Diaz-Canel de uma maneira positiva e apreciam seu discurso sobre a abertura do país ao investimento estrangeiro", que em breve será reconhecido na nova Constituição, a ser proclamada em 10 de abril, comentou Chris Bennett.Havana, sujeita a um embargo dos Estados Unidos 1962, precisa de parceiros estrangeiros, enquanto Washington ameaça aplicar o Capítulo III da Lei Helms-Burton de 1996, em meados de abril.Essa norma, teoricamente, permitirá especialmente aos exilados cubanos processar nas cortes federais dos Estados Unidos empresas que obtiverem lucros através de empresas nacionalizadas após a revolução.A União Europeia tornou-se o primeiro parceiro comercial de Cuba, e o Reino Unido, mesmo em pleno Brexit, quer entrar na onda e aponta para dois setores: o turismo - quase 200.000 britânicos chegam à ilha a cada ano - e a energia.Grande defensor das causas ambientais, o príncipe Charles visitará uma estação de energia solar financiada, entre outros, por fundos britânicos, que devem começar a operar em dezembro e se tornarão os maiores no Caribe.ka/mav/ll/cn