Em visita a Sergipe para participar de inauguração de usina hidrelétrica, presidente Jair Bolsonaro, sem usar máscara, foi carregado por apoiadores (Reprodução/Redes Sociais)
O presidente Jair Bolsonaro afirmou ontem que há uma "briga muito grande" entre ministros do governo por um orçamento maior em suas pastas. A declaração foi feita na inauguração de uma usina termoelétrica em Sergipe, em referência às críticas de que o governo prevê reservar R$ 5,8 bilhões a mais no Orçamento de 2021 para despesas com militares do que com a educação no País. Caso confirmada, será a primeira vez em 10 anos que o Ministério da Defesa terá um valor superior ao da pasta da Educação. Na cerimônia, o presidente declarou que o País deve "em grande parte" ao Exército as obras de infraestrutura. Dirigindo-se a deputados federais presentes no evento, Bolsonaro ressaltou que o orçamento é "completamente comprometido" com despesas obrigatórias — aquelas em que o governo é obrigado a gastar por força da lei. "Sobra muito pouco e a briga é muito grande para que cada ministro consiga puxar um pouco mais desse orçamento para si para fazer alguma coisa." Egresso do Exército, Bolsonaro foi eleito tendo os militares em sua base de apoio. Na quinta-feira passada, na transmissão ao vivo nas redes sociais, o presidente disse sofrer pressão para aumentar os recursos destinados às Forças Armadas, mas reclamou que "o cobertor está curto". "Alguns chegam: 'Pô, você é militar e esse Ministério vai ser tratado dessa maneira?' Aí tem de explicar. Para aumentar para o Fernando (ministro da Defesa) tem de tirar de outro lugar. A ideia de furar o teto de gastos existe, o pessoal debate, qual o problema?", disse, em referência à regra que limita aumentar despesas acima da inflação. Ele disse que a Defesa pode ter "o menor orçamento da história". Não é o que está na proposta atual em discussão no governo, à qual o Estadão teve acesso. Segundo a previsão, a Defesa terá um acréscimo de 48,8% sobre o orçamento deste ano, passando de R$ 73 bilhões para R$ 108,56 bilhões em 2021. Enquanto isso, a verba do Ministério da Educação (MEC) deve cair de R$ 103,1 bilhões para R$ 102,9 bilhões. Os valores, não corrigidos pela inflação, consideram todos os gastos das duas pastas, desde o pagamento de salários, compra de equipamentos, o que inclui, no caso dos militares, a construção de submarinos nucleares e compra de aviões. O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, minimizou o fato de o governo prever mais recursos em 2021 para o Ministério da Defesa do que para o da Educação. Segundo ele, essa diferença se deve ao "pagamento de pessoal" da pasta a qual as Forças Armadas são vinculadas. Em Sergipe, o clima era de campanha O presidente Jair Bolsonaro repetiu ontem as cenas de campanha eleitoral que têm marcado suas mais recentes viagens. Ao desembarcar no aeroporto de Aracaju, em Sergipe, foi recebido por apoiadores, que também realizaram carreata pela cidade. Sem máscara, obrigatória em Sergipe para prevenção à Covid-19, Bolsonaro cumprimentou apoiadores, tirou fotos e colocou um chapéu de vaqueiro, como fez em viagens anteriores na região. Chegou a ser carregado pelas pessoas, sempre acenando para a multidão. "Isso que está acontecendo comigo em Sergipe desde o aeroporto até aqui, graças a Deus, vem acontecendo em todos os locais do Brasil", disse Bolsonaro na inauguração da usina hidrelétrica. Ele confirmou viagens esta semana para Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Norte. A investida na região ocorre após a distribuição do auxílio emergencial de R$ 600,00 a trabalhadores informais. O movimento faz parte da estratégia do presidente para aumentar a popularidade no Nordeste e outras regiões.
