CONFLITO SEM FIM

Bombardeio contra Farc na Colômbia abala processo de paz

Um acampamento do grupo rebelde, no município de Guapí, foi alvo de uma operação militar que causou a morte de 26 guerrilheiros

France Press
22/05/2015 às 23:06.
Atualizado em 23/04/2022 às 12:48
O presidente colombiano Juan Manuel Santos disse que o ataque contra a Farc foi uma ação legítima do Estado, em defesa e proteção dos cidadãos (France Press)

O presidente colombiano Juan Manuel Santos disse que o ataque contra a Farc foi uma ação legítima do Estado, em defesa e proteção dos cidadãos (France Press)

A morte de 26 guerrilheiros das Farc em um bombardeio militar na Colômbia abalou o processo de paz realizado em Havana, de onde a guerrilha anunciou o fim do cessar-fogo unilateral em meio às negociações.A operação militar contra um acampamento das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) ocorreu na quinta-feira (21) no município de Guapí, Cauca, 480 km a sudoeste de Bogotá, um reduto deste grupo rebelde."Os resultados preliminares desta operação são 26 baixas e um menor de idade recuperado", além de 37 fuzis e uma metralhadora apreendidos, disse Santos em um pronunciamento feito no palácio de Nariño, sede da Presidência, cercado pela cúpula militar.Para o presidente, esta foi uma "ação legítima do Estado, em defesa e proteção dos cidadãos".A guerrilha comunista reagiu em Havana, onde na quinta teve início a trigésima sétima rodada de negociações de paz, com o anúncio da suspensão da trégua unilateral decretada por ela em dezembro.O governo de Santos e as Farc celebram desde novembro de 2012 um processo de paz com uma mesa de diálogo em Havana, sem que na Colômbia tenha sido decretado um cessar-fogo bilateral."Não estava em nossa perspectiva a suspensão da determinação do cessar-fogo unilateral e indefinido proclamado (...), mas a incoerência do governo Santos conseguiu isso, depois de 5 meses de ofensivas terrestres e aéreas contra nossas estruturas em todo o país", indicou a guerrilha em seu blog.Na mesma região, há pouco mais de um mês, uma emboscada guerrilheira deixou 11 militares mortos, um ataque que abalou a sociedade colombiana, cada vez mais desconfiada do êxito do processo de paz.As Farc classificaram esta emboscada de "defensiva" e Santos autorizou na época o reinício dos bombardeios contra a guerrilha, que haviam sido suspensos em março em sinal de boa vontade no âmbito do processo de paz. Paz, o único caminho A tentativa de diminuir as tensões pelo conflito sem alcançar um cessar-fogo definitivo durante os diálogos de paz não deu os frutos esperados, segundo Jorge Restrepo, diretor do Centro de Recursos para Análises de Conflitos (Cerac).Os fatos demonstram que "a violência afeta o processo e não permite que as partes avancem", encalhadas na negociação e atualmente em uma "crise muito séria", disse Restrepo à AFP.Nesta sexta-feira (22) foi suspensa, de última hora, a reunião conjunta em Havana entre as delegações do governo e das Farc, na qual deveria ser anunciado o início da remoção de minas acertado em março, disse à AFP um responsável da chancelaria cubana.Além disso, foi cancelado "de comum acordo" o encontro das delegações que estava previsto para  sábado (23), mas a sessão de negociações de segunda-feira (25) está de pé, segundo fontes ligadas ao processo.O negociador das Farc, Iván Márquez, anunciou no Twitter que sua delegação dedicará o sábado "à análise da situação" após o bombardeio, e pediu um "armistício" para pavimentar o caminho da paz.Segundo o analista, é o momento de "entrar em acordo muito rapidamente sobre um cessar-fogo definitivo" e, para isso, seria útil "a pressão internacional".Santos se negou até o momento a declarar uma trégua para evitar um fortalecimento da guerrilha durante os diálogos de paz."Desde o dia em que as negociações de Havana começaram fui muito claro que as operações de nossas Forças Armadas contra a subversão não se deteriam e não se deterão", insistiu o presidente.Nesta sexta foi suspensa no último minuto uma reunião conjunta em Havana das delegações do governo e das Farc, na qual eram esperadas informações sobre o início do processo de retirada das minas acordado em março, informou à AFP um funcionário da chancelaria cubana.No entanto, as duas delegações voltarão a dialogar no sábado, como estava previsto."Desde o dia em que começaram as negociações em Havana, tenho sido muito claro em que as operações das nossas Forças Armadas contra a subversão não se deteriam e não se deterão", insistiu o presidente, esclarecendo que os militares "estão preparados" ante possíveis novos ataques da guerrilha.O Ministério Público advertiu que podem ocorrer ações armadas iminentes em pelo menos 10 departamentos (estados) por "possíveis ataques contra a Força Pública, com eventuais efeitos indiscriminados para a população civil".Santos, promotor das negociações que ocorrem desde novembro de 2012 em Cuba para terminar com mais de 50 anos de conflito armado, fez um apelo buscando acelerar as negociações.Até agora as partes alcançaram acordos parciais em reforma agrária, participação política e drogas ilícitas, mas ainda precisam entrar em consenso sobre o tema das vítimas, o desarmamento e o fim do conflito, assim como o mecanismo para endossar um eventual pacto final.O conflito armado colombiano, no qual além das guerrilhas contou com a participação de paramilitares, deixou ao menos 220 mil mortos e mais de seis milhões de deslocados, segundo números oficiais.

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