VOTAÇÃO

Bate-boca marca começo de julgamento do impeachment

A sessão do Senado que iniciou nesta quinta o julgamento final do impeachment de Dilma Rousseff foi marcada por discussões acaloradas entre parlamentares. A governista Gleisi Hoffmann (PT-PR) disse que metade da Casa "não tem moral" para julgar Dilma.

Agências
25/08/2016 às 22:50.
Atualizado em 22/04/2022 às 22:44
Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa extraordinária para votar a Denúncia 1/2016, que trata do julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Roussefff por suposto crime de responsabilidade.  (Edilson Rodrigues)

Plenário do Senado Federal durante sessão deliberativa extraordinária para votar a Denúncia 1/2016, que trata do julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Roussefff por suposto crime de responsabilidade. (Edilson Rodrigues)

Um duro bate-boca, principalmente entre Ronaldo Caiado (DEM-GO), Lindbergh Farias (PT-RJ) e Gleisi Hoffmann (PT-PR), marcou nesta quinta-feira (25) a abertura do julgamento final do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Durante a sessão no plenário do Senado, presidida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, o procurador Júlio Marcelo de Oliveira, representante do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), chamou as “pedaladas fiscais” e outras ações do governo Dilma de um “grande plano de fraude fiscal”. A SESSÃO SEGUIU PELA MADRUGADA CLIQUE AQUI Oliveira foi convocado como testemunha de acusação, mas, por ter participado de ato pela rejeição das contas de Dilma, Lewandowski decidiu que ele deveria falar como informante. O julgamento prosseguirá nesta sexta-feira (26) no Senado e deve durar até sete dias. Lindbergh Farias disse que vai processar Ronaldo Caiado, além de representar contra ele no Conselho de Ética do Senado, por causa das ofensas na manhã desta quinta, durante as primeiras horas do julgamento do impeachment. “O senador Caiado não tem moral alguma para falar. Vou processar. Quem sabe da vida do Caiado é o senador Demóstenes Torres”, afirmou Lindbergh ao deixar o plenário para o intervalo de almoço, referindo-se ao senador cassado Demóstenes Torres, aliado de Caiado. “Tem que fazer antidoping. Fica aqui cheirando não”, disse Caiado a Lindbergh, mais cedo, durante bate-boca. A confusão começou quando a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) questionou a moral dos colegas para julgar Dilma. “Eu não sou ladrão de aposentadoria”, disse Caiado, citando indiretamente as acusações que pesam contra o ex-ministro Paulo Bernardo, marido de Gleisi, sobre fraude em empréstimos consignados. Gleisi rebateu, fazendo referência ao fato de Caiado ser produtor rural em Goiás: “É (assaltante) de trabalhador escravo.” Lindbergh entrou na discussão e acusou Caiado de ter ligação com o contraventor goiano Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Histórico Caiado e Lindbergh já discutiram outras vezes. A confusão desta quinta, por exemplo, foi praticamente um repeteco do bate-boca travado por eles no mês passado. Na ocasião, após ser provocado pelo petista quando criticava o reajuste salarial para diversas categorias do funcionalismo público, Caiado bateu pesado do adversário político: “Eu não me dirijo a ele como senador, mas como médico, porque tenho notado que ele está salivando muito ultimamente e está com as pupilas muito dilatadas.” Lindbergh respondeu aos brados e, a exemplo desta quinta, sugeriu uma suposta ligação de Caiado com Cachoeira. “Quem sabe da vida do Caiado é o ex-senador Demóstenes Torres.” O democrata emplacou na sequência o mesmo ataque desferido na sessão desta quinta, novamente sugerindo o uso de drogas pelo petista. “Deveriam fazer exame antidoping aqui”. Em 2014, durante campanha ao governo do Rio, Lindbergh admitiu que chegou a usar drogas na juventude, “em um período difícil” da morte de seu pai.  Fase de depoimentos deve se alongar até sábado A decisão do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, de impedir que o procurador do Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) Júlio Marcelo de Oliveira depusesse nesta quinta como testemunha de acusação fez a base aliada e a oposição ao governo do presidente em exercício Michel Temer reverem as estratégias logo no primeiro dia de julgamento do processo de impeachment de Dilma Rousseff. Com isso, a fase de depoimento de testemunhas deve atrasar e se alongar ao menos até sábado. Oliveira prestou depoimento e foi questionado pelos senadores na condição de informante — quando não pode gerar prova no processo. Nesta condição, ele também não tem obrigação de dizer a verdade. Após uma manhã de debates acalorados, Lewandowski rejeitou no início da tarde os dez questionamentos feitos por senadores aliados a Dilma para tentar, entre outras coisas, anular o julgamento. O presidente do STF, contudo, aceitou um pedido feito pelo advogado pessoal de Dilma, o ex-ministro José Eduardo Cardozo, de barrar o depoimento do procurador do TCU, apontado como o principal da acusação. Na sessão, Cardozo argumentou que o procurador é “militante”, pois compartilhou no Facebook convocação para uma manifestação pela rejeição das contas de 2014, apresentadas pelo governo Dilma. O objetivo do protesto era pressionar ministros do tribunal a dar parecer pela reprovação do balanço, como, de fato, ocorreu. “Ele é mais parte do que testemunha”, afirmou o defensor de Dilma. Comemoração A exclusão do procurador do TCU como testemunha chegou a ser comemorada por aliados de Dilma por enfraquecer a acusação. Eles vão avaliar a retirada dos autos de manifestações de Oliveira, que já havia falado durante a Comissão Especial do Impeachment. O rigor do presidente do STF, entretanto, fez com que senadores que apoiam a petista desistissem de participar de um treinamento com Dilma antes de seu depoimento, marcado para segunda-feira. O receio é que eles próprios possam ser considerados impedidos de votar por assumirem, no julgamento, o papel de juízes. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve ir ao Senado prestigiar Dilma na segunda. ENTENDA Dilma - que foi afastada da Presidência em maio, após a primeira votação na Casa -, será condenada se ao menos 54 dos 81 senadores considerarem que ela é culpada por ter editado três decretos de suplementação orçamentária sem o aval do Congresso e por ter cometido as chamadas pedaladas fiscais ao atrasar o pagamento de repasses pela União ao Plano Safra, do Banco do Brasil. O pedido de impeachment de Dilma foi aceito pelo então presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no início de dezembro do ano passado. Na quarta-feira, 24, porém, quase nove meses depois, a sessão do Senado girou em torno da concessão de reajustes salariais para o funcionalismo, deixando em segundo plano o julgamento de Dilma. A maior dificuldade do governo do presidente em exercício Michel Temer atualmente está em debelar a crise entre parte de sua legenda, o PMDB, favorável à aprovação dessas propostas, e o PSDB, contrário ao aumento. O governo ainda precisa afinar a base para levar a votação as principais matérias do ajuste fiscal: a PEC do teto dos gastos e a reforma da Previdência, ainda não apresentada. Desde que assumiu interinamente o Palácio do Planalto, há 104 dias, Temer atuou para cabalar votos e consolidar apoios. E acenou - também se valendo de distribuição de cargos e liberação de recursos para obras - com reformas econômicas impopulares, como as mudanças na Previdência, a fim de recuperar a economia do País. A maioria dos senadores, em especial o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), começou a avalizar a agenda econômica de Temer ainda antes do início do julgamento da presidente afastada. Sessões Senadores e interlocutores de Temer esperam um placar favorável a ele de 58 a 62 votos. Na quarta-feira, 25, durante uma reunião no gabinete do líder do governo no Senado, Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), ficou acertada uma estratégia para encurtar as sessões de quinta e sexta-feira, 25 e 26, destinadas a ouvir as testemunhas - a ideia é não inquirir aquelas que são da acusação e que somente os líderes partidários ou indicados por eles farão os questionamentos. Os governistas querem obter mais votos do que os 59 alcançados na sessão do último dia 10, quando a presidente afastada se tornou ré no processo. Contam até com o voto de Renan, que no processo de impeachment passou de aliado de Dilma - por ser desafeto histórico de Temer dentro do PMDB - a um dos principais parlamentares que endossaram a agenda do presidente em exercício. Renan articulou, no Congresso, a votação de matérias consideradas de interesse do Planalto. O presidente do Senado já decidiu que viajará para a primeira reunião internacional de Temer se ele virar presidente efetivo: o encontro do G-20 na China, no início de setembro. Já a aposta dos poucos aliados de Dilma é que a petista conquiste apoios de última hora, uma vez que ela fará sua defesa pessoalmente no Senado, na próxima segunda-feira. Dilma tem classificado o impeachment como "golpe parlamentar" e chegou a dizer que Temer e Cunha - que, nesse período, renunciou à presidência da Câmara depois de ter sido afastado do cargo e do mandato de deputado pelo Supremo - eram os chefes da "conspiração".

Assuntos Relacionados
Compartilhar
Correio Popular© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por