Milhares de delegados não governamentais estão reunidos em San Francisco nesta quarta-feira (12) para mostrar que as cidades e as regiões podem compensar o atraso dos estados na luta contra as mudanças climáticas, especialmente nos Estados Unidos após as políticas retrógradas anunciadas por Donald Trump
Milhares de delegados não governamentais estão reunidos em San Francisco nesta quarta-feira (12) para mostrar que as cidades e as regiões podem compensar o atraso dos estados na luta contra as mudanças climáticas, especialmente nos Estados Unidos após as políticas retrógradas anunciadas por Donald Trump.A Cúpula Mundial de Ação Climática, a primeira de seu tipo com mais de 4.000 delegados, começou em San Francisco (costa oeste) com a publicação de um relatório sobre as emissões de gases de efeito estufa nos Estados Unidos. O estudo mostra que o país cumprirá apenas dois terços do objetivo estabelecido por Barack Obama, e abandonado por Donald Trump após assumir o cargo no início de 2017, ou -17% de emissões em 2025 em comparação com 2005, contra um objetivo original de ao menos -26%. O país está hoje em -12%. Mas o relatório aponta que muitos estados dos Estados Unidos, principalmente os que são governados por democratas, e centenas de cidades intensificaram seus compromissos de "descarbonizar" suas economias desde o anúncio de Trump de que retiraria os EUA do Acordo de Paris sobre o clima, e conseguiram efeitos reais. Em comparação, a China hoje emite pouco menos do dobro de gases de efeito estufa que os Estados Unidos, e deveria continuar reduzindo-os cada vez mais ao longo da década de 2020, até alcançar um ponto de inflexão em 2030. A União Europeia estabeleceu um objetivo de redução de gases de efeito estufa mais ambicioso que os Estados Unidos, e cumpriu mais. Tomando os mesmos anos de referência, as emissões europeias caíram 21% em comparação com 2005, e deveriam seguir diminuindo até chegar a 28% em 2025, segundo a empresa Climate Action Tracker. O objetivo europeu original para o Acordo de Paris foi reduzir 40% de 1990 até 2030. A energia "limpa" teve um aumento significativo nos Estados Unidos, o carvão está diminuindo e a indústria dos carros elétricos cresce apesar da hostilidade do governo Trump em relação à transição ecológica. Se todos os atores não federais, não apenas cidades e estados "ecológicos", intensificassem esta dinâmica, "poderíamos nos aproximar muito da meta estabelecida pelas Nações Unidas", afirmou Mary Nichols, copresidente da America's Pledge, a coalizão que fez o relatório. - Grande delegação chinesa -As cidades de Paris, Bonn, Pequim, Cidade do Cabo, Dubai, Tóquio, Cidade do México, assim como outras latino-americanas e indianas, estão representadas na cúpula em diversos níveis, incluindo dezenas de prefeitos. Também há chefes de multinacionais que estão na vanguarda da transição ecológica e que se comprometeram a gerar, em alguns anos, energia elétrica 100% limpa. Representantes de diversas regiões e estados também estão presentes. Mais de 70 emissários de governos regionais e de ministros se reuniram nesta quarta-feira de manhã, na maior reunião desse tipo já convocada, segundo os organizadores da Coalizão "Under2" ("Abaixo de 2°C"): ministros brasileiros e indianos, governadores indonésios e mexicanos, um secretário de Estado japonês, delegados regionais espanhóis, italianos, alemães... Cada vez mais jurisdições mundiais se unem a estes esforços, como fez recentemente a província de Chungnam, da Coreia do Sul. "Somos os primeiros na Coreia a nos unirmos à coalizão", disse seu vice-governador, Nam-gung Young. "Este tipo de cúpula precipita os eventos" e atrai "a atenção limitada dos líderes políticos", estima Frances Seymour, da ONG World Resources Institute. A China enviou uma delegação de 120 pessoas, incluindo Xie Zhenhua, seu negociador sobre o clima. Canadá e Reino Unido estão representados em nível ministerial, a França por Segolene Royal, embaixadora dos polos, e a União Europeia por um grande número de comissários. Dezenas de cidades, províncias, estados e multinacionais defendem o uso exclusivo de energias limpas - especialmente solar e eólica - em poucas décadas.À frente deste grupo surge o estado da Califórnia, cujo governador Jerry Brown firmou na segunda-feira uma lei que prevê a eliminação dos gases de efeito estufa em sua geração de energia até 2045. "Todos têm a oportunidade e a obrigação de fazer a sua parte para combater a mudança climática", disse Brown à AFP.O encontro começa em um momento em que o furacão Florence ameaça a costa leste do país e depois de um verão muito quente na Europa, eventos meteorológicos raros mas cuja frequência aumentará, segundo os especialistas, devido às mudanças climáticas. O mundo continua lançando na atmosfera gases de efeito estufa demais para limitar o aumento médio da temperatura global abaixo de 2°C em relação ao período pré-industrial, que é o objetivo do Acordo de Paris. A Terra já aqueceu cerca de 1°C e, se esse ritmo for mantido, o aumento chegará a +3,2°C em 2100.