INTERNACIONAL

Atentados no Sri Lanka despertam lembranças dos anos obscuros da guerra civil

Para muitos cidadãos do Sri Lanka, os atentados do Domingo de Páscoa despertaram a terrível lembrança da violência do período obscuro da guerra civil, que chegou a seu fim há dez anos

AFP
22/04/2019 às 13:40.
Atualizado em 04/04/2022 às 09:12

Para muitos cidadãos do Sri Lanka, os atentados do Domingo de Páscoa despertaram a terrível lembrança da violência do período obscuro da guerra civil, que chegou a seu fim há dez anos."Agora temos medo de tocar os sacos de lixo pretos. A série de explosões de ontem nos trouxe à memória a época em que tínhamos medo de pegar ônibus, ou trem, por causa dos pacotes-bomba", declarou a gari Malathi Wickrama, que trabalha na capital, Colombo.O conflito, que durante mais de 30 anos colocou em lados opostos a maioria cingalesa e a rebelião separatista tâmil, custou a vida de mais de 100.000 pessoas entre 1972 e 2009, segundo estimativas das Nações Unidas.Nessa época, os atentados a bomba eram comuns. A população vivia com medo de ser atingida apenas andando pela rua, ou em algum transporte público.Arrasada no domingo por uma série de atentados suicidas em hotéis de luxo e igrejas, o país não vivia esse tipo de violência desde então. Nesta segunda-feira, o balanço atualizado de vítimas era de 290 mortos e 500 feridos."Ontem transportei umas oito crianças feridas", contou à AFP Shantha Prasad, que ajudou a levar macas para um hospital de Colombo."Havia duas meninas de seis e oito anos, a mesma idade das minhas filhas", lembra ele, emocionado."Suas roupas estavam rasgadas e manchadas de sangue. É insuportável voltar a ver este tipo de violência", desabafou.- Aparência de normalidade -Embora tenha sido decretado estado de emergência a partir da meia-noite local (15h30 em Brasília), por questões de segurança, os moradores de Colombo, abalados, começavam pouco a pouco a voltar a andar pelas ruas da capital. A segurança foi reforçada em Colombo.As escolas e a Bolsa permaneceram fechadas, mas algumas lojas abriram suas portas. O transporte público funcionava de novo.Imtiaz Ali, um condutor de tuk-tuk - os típicos triciclos motorizados do Sudeste Asiático -, perdeu o sobrinho na explosão ocorrida no Cinnamon Grand Hotel."O garoto tinha apenas 23 anos. Era gerente no hotel e ia se casar na próxima semana", contou à AFP."Tínhamos feito todos os preparativos para a celebração do casamento em casa, mas hoje é um lugar de luto", lamentou.Outros, decididos a aparentar normalidade apesar da tragédia, seguiam para o trabalho, como de costume."Somos um povo resistente", resume Nuwan Samarweera, na faixa dos 50 anos."Vimos tanta violência durante a guerra civil. Para o restante do mundo isso pode parecer enorme, mas, para nós, a vida continua", afirma. "Precisamos nos recompor e continuar", insistiu.Ranjan Christopher Fernand, um motorista de táxi de 55 anos, que tem um amigo que perdeu o filho de 11 anos, comenta que "é a primeira vez que os cristãos são atacados desta maneira no Sri Lanka"."Esta noite, vamos à igreja rezar pelas vítimas. Tenho medo, é claro [...], Mas temos de ir à igreja. Temos de rezar para que os feridos se recuperem rapidamente", conta.- 'Sem palavras' -Em um necrotério de Colombo, as famílias das vítimas enfrentam a difícil tarefa de identificá-las através de fotos mostradas em um telão. Alguns, incapazes de suportar a cena, cobrem os olhos, ou desmaiam.Em um canto do pátio, dois religiosos, um católico e um budista, esperam para se aproximar e poder consolar, depois que a pessoa faz o reconhecimento de um ente querido.Muitos restos mortais estão amputados, de tal modo que apenas um teste de DNA pode confirmar sua identidade, disseram as autoridades."É uma situação sem precedentes. Fazemos o que podemos", resigna-se um funcionário do necrotério, assoberbado pelos acontecimentos.Janaka Shaktivel, de 28 e pai de um menino de 18 meses, perdeu a esposa no atentado à igreja de Santo Antônio. Ele se salvou, porque foi para a escadaria para consolar o bebê que chorava."Reconheci seu corpo pela aliança que ainda levava", disse ele, pálido e abatido."Não tenho palavras para expressar o que sinto", desabafou.pdh-abh-prw/ahe/amd/jlb/bc/mb/tt

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