SÍRIA

Assad diz que queda de regime criaria efeito dominó

O presidente advertiu que o Oriente Médio e região ficaria desestabilizado "por longos anos"

France Press
06/04/2013 às 08:33.
Atualizado em 25/04/2022 às 21:39
Bashar al-Assad enfrenta uma rebelião contra seu mandato há dois anos (France Press)

Bashar al-Assad enfrenta uma rebelião contra seu mandato há dois anos (France Press)

O presidente sírio, Bashar al-Assad, que enfrenta uma rebelião há dois anos, advertiu que uma queda de seu regime teria um "efeito dominó" no Oriente Médio e desestabilizaria esta região "por longos anos", em uma entrevista concedida à imprensa turca divulgada nesta sexta-feira (5).

"Todos sabem que se houver uma divisão na Síria, ou se as forças terroristas tomarem o controle do país, haverá um contágio direto para os países vizinhos", disse à rede Ulusal e ao jornal Aydinlik, em uma entrevista divulgada na íntegra na página da Presidência no Facebook.

"Depois, haverá um efeito dominó até em países distantes do Oriente Médio, a oeste, a leste, ao norte, ao sul. Isso significa que haverá instabilidade durante longos anos, até décadas", alertou.

O presidente Obama receberá em abril e maio vários dirigentes de países do Oriente Médio aliados dos Estados Unidos, entre eles o primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan e o rei Abdullah II da Jordânia, para conversar em particular sobre a Síria, anunciou a Casa Branca na sexta-feira.

A Síria também estará na agenda de discussões entre Obama e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, na próxima quinta-feira em Washington.

A entrevista foi realizada na terça-feira e trechos foram divulgados durante vários dias na página da Presidência síria no Facebook.

Nos primeiros trechos divulgados esta semana, Assad acusou o primeiro-ministro turco Erdogan, que apoia a rebelião síria, de ter mentido sobre o conflito na Síria, que deixou, segundo a ONU, mais de 70.000 mortos em dois anos.

Assad criticou fortemente Erdogan, chamando-o de "idiota" e de "imaturo".

"O incêndio na Síria vai se propagar para a Turquia. Infelizmente (Erdogan) não vê esta realidade", afirmou o presidente Assad. "Erdogan trabalha com Israel para destruir a Síria (...), mas o Estado sírio não caiu e os sírios resistiram".

"O governo turco contribui de maneira direta para matar o povo sírio (...) Erdogan tenta reproduzir o passado negro entre árabes e turcos", acrescentou Assad, referindo-se ao Império Otomano, que dominou vastas regiões árabes durante quatro séculos.

"Não devemos permitir que líderes idiotas e imaturos destruam esta relação" entre turcos e árabes, disse, ainda em alusão a Erdogan.

Ele também afirmou que a Liga Árabe "não tem legitimidade", reagindo à decisão da organização pan-árabe de atribuir o assento da Síria à oposição.

"A verdadeira legitimidade não é concedida por organizações ou por autoridades no exterior ou por outros países... A legitimidade é aquela que você confere ao povo", disse Assad, que se recusa a deixar o poder e identifica os rebeldes que querem a queda de seu regime como "terroristas".

Ele condicionou a abertura de um diálogo com a oposição à não ingerência externa. "Deve ser um diálogo entre os sírios, sem ingerência externa. É a única linha vermelha. Este país pertence a todos os sírios, eles podem discutir o que quiserem", afirmou.

O líder da Coalizão opositora, Ahmed Moaz al-Khatib, se disse preparado no fim de janeiro para realizar negociações diretas com representantes do regime tendo como único objetivo a saída Assad. Ele afirmou depois que o regime tinha fechado a porta a essas negociações ao manter os bombardeios em toda a Síria.

O presidente Assad também criticou a Irmandade Muçulmana da Síria, o mais influente integrante da oposição. "De nossa experiência com eles durante 30 anos, sabemos que são oportunistas que utilizam a religião para alcançar objetivos pessoais", disse.

A Irmandade Muçulmana lutou contra o regime de Hafez al-Assad, pai de Bashar, em um levante ocorrido nos anos 1980 que foi brutalmente reprimido, com dezenas de milhares de mortos em Hama (centro) em 1982.

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