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'Anonymous' hackeia Jair Bolsonaro

O Ministério da Justiça determinou a instauração de inquérito para apurar o vazamento de dados do presidente, seus filhos, ministros e aliados

Estadão Conteudo
Estadão Conteúdo
03/06/2020 às 08:07.
Atualizado em 29/03/2022 às 10:25

O Ministério da Justiça determinou a instauração de inquérito para apurar o vazamento de dados do presidente Jair Bolsonaro, seus filhos, ministros e aliados. O pedido da investigação pela Polícia Federal foi confirmado ontem pelo ministro da Justiça, André Mendonça. A divulgação dos dados ocorreu na noite de segunda-feira em perfis no Twitter que dizem ser ligados ao grupo hacker Anonymous Brasil. Além de Bolsonaro, foram expostos dados de seus filhos, Carlos, Eduardo e Flávio, dos ministros da Cidadania, Damares Alves, e da Educação, Abraham Weintraub, além do deputado estadual Douglas Garcia e do dono da Havan, Luciano Hang, aliados do presidente. Uma das contas que vazou os dados foi suspensa no início da madrugada, mas logo depois, porém, voltou ao ar. O Anonymous atua em outros países e ressurgiu no último domingo após desdobramentos do caso de George Floyd, homem negro assassinado durante abordagem policial nos Estados Unidos. A conta estava sem publicar no Twitter desde outubro de 2018. No domingo, anunciou a volta. "Chamado #AnonymousBrazilNeedsHelp. Estamos preparando nosso barco! Logo teremos vazamentos de dados, estamos preparando. #Anonymous #AntiFascista #Antifa. Ajude com RT", diz uma publicação. No Twitter, as hashtags (palavras-chaves) #Anomymous e #anonymousbrasil estavam entre as mais comentadas da madrugada. O perfil afirma ainda que outras contas de hacker estão sendo reativadas na rede social. Além disso, em vídeo, a organização ameaçou expor "muitos crimes" cometidos pela polícia em todo o mundo. Investigações da PF O ministro da Justiça, André Mendonça, explicou que "as investigações sobre o vazamento de informações devem apurar crimes previstos no Código Penal, na Lei de Segurança Nacional e nas Lei das Organizações Criminosas". O Palácio do Planalto e o Gabinete de Segurança Institucional (GSI) não se manifestaram oficialmente sobre o vazamento envolvendo o presidente e seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo. Em reservado, auxiliares, porém, confirmam que os dados são mesmo de Bolsonaro, mas que estão desatualizados. Pelo Twitter, o presidente Bolsonaro disse que a ação dos hackers foi uma medida de intimidação e não passará impune. "Em clara medida de intimidação, o movimento hacktivista Anonymous Brasil divulgou, em conta do Twitter, dados do presidente da República e familiares. Medidas legais estão em andamento, para que tais crimes, não passem impunes", escreveu em sua conta pessoal no Facebook. Logo após, internautas ironizaram essa postagem do presidente, escrevendo que “nem o FBI e nem a CIA acharam os responsáveis pelo Anonymous até hoje”. O filho do presidente e vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) confirmou que os dados são verdadeiros. "A turma 'pró-democracia' vazou meus dados pessoais e de outros na internet. Após termos violações do direito à livre expressão, agora ferem a privacidade. Sob a desculpa de 'combater o mal', justificam seus crimes e fazem aquilo que nos acusam, mas nunca provam", disse Carlos, fazendo referência ao inquérito do Supremo Tribunal Federal que apura ameaça e fake News. Ontem à tarde, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) divulgou que vai à Polícia Federal registrar queixa sobre a divulgação dos dados. Flávio atribuiu o vazamento a "marginais 'pró-democracia'" e disse que PF já começou a identificar os responsáveis. Entre os dados vazados estão e-mails, telefones, endereços, perfil de crédito, renda, nomes de familiares e bens declarados. O deputado Douglas Garcia também confirmou o vazamento de seus dados pelo grupo e afirmou que irá fazer um boletim de ocorrência. "Anonymous Brasil, de forma criminosa, acaba de divulgar todos os meus dados nas redes sociais. Para que colocar os meus familiares em risco? Para que divulgar o endereço de minha casa? Os lugares em que trabalhei? Estou indo agora mesmo na delegacia fazer um boletim de ocorrência", escreveu o deputado. O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos divulgou nota repudiando "a divulgação criminosa de dados, em clara violação aos direitos fundamentais à intimidade, à vida privada, à honra e à imagem". "A divergência de ideias jamais deveria ser justificativa para a prática de ação totalitária e antidemocrática como esta. Que os responsáveis sejam devidamente identificados e processados, nos termos da lei", diz. Lista de bens, CPF, endereços, telefones são expostos Um dos perfis no Twitter denominado Anonymous Brasil divulgou imagens que alega ser a lista de bens declarados pelo presidente Jair Bolsonaro, com valor idêntico à declaração apresentada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de R$ 2.286.779,48. A lista de bens relaciona cinco imóveis no Estado do Rio de janeiro, dois microônibus, um automóvel, ações e quatro contas no Banco do Brasil. O número do CPF do presidente também foi exposto. A conta no Twitter também mostra uma suposta fatura de posto de gasolina em nome do presidente no valor de R$ 56.160,00, com data de fevereiro deste ano e endereço de cobrança em seu endereço residencial na Barra da Tijuca, no Rio. Na postagem, Anonymous Brasil questiona: "Quantos carros dá pra abastecer com 12 mil litros de gasolina?" Sob a hashtag "#vazaram", usuários do Twitter compartilharam capturas de tela em que dizem ter feito compras no valor de dezenas de milhares de reais com o cartão corporativo de Bolsonaro, cujos dados também teriam sido divulgados, e até filiado o mandatário ao PT. No domingo, o perfil postou: "Olá, Brasil! Irei me denominar como Carlos, faço parte da anonymous e sou um dos quatro brasileiros. O supervisor autorizou a criação dessa conta, por aqui falaremos com mais detalhes as injustiças cometidas no Brasil. Em breve, Bolsonar,. Marielle, Silvio Santos. Por volta das 23 horas, postou: "Bolsonaro deve se desculpar publicamente por todas as vezes que o preconceito tomou conta dele, caso contrário iremos vazar informações pessoais da vida dele desde 2.012, ano que foi cometido algo". À 1h da manhã de ontem, a conta foi suspensa, mas logo depois voltou, com a mensagem: "Caímos, mas voltamos. Acho que esqueceram quem somos. A gente volta na hora!". Outro perfil, denominado Anonymous Brazil, iniciou as postagens, também no domingo, com a frase "O povo não deve temer seu governo, o governo que deve temer seu povo. Nos aguarde..." QUEM SÃO A conta americana do Anonymous, que hoje acumula mais de 4,9 milhões de seguidores, é composta por grupo de hackers que se formou em 2003. Eles ficaram conhecidos por usarem a máscara de Guy Fawkes, personagem anarquista da história em quadrinhos "V de Vingança", que deu origem ao filme homônimo. Durante os protestos de junho de 2013 no Brasil, as máscaras eram um acessório recorrente entre os manifestantes. Eles se tornaram famosos em 2008, quando conseguiram derrubar vários sites de Cientologia, igreja da qual o ator Tom Cruise faz parte. Logo, o grupo adotou o lema: "Nós somos Anonymous. Nós somos Legião. Nós não perdoamos. Nós não esquecemos. Espere por nós". Desde então, o grupo orquestrou ações como a derrubada de sites dos governos da Tunísia e do Egito em 2011, durante a chamada Primavera Árabe, atacou sites do governo americano e empresas de entretenimento, como a Universal Music Group. Durante os protestos de junho de 2013, o braço Anonymous Brasil reivindicou a autoria da invasão ao Instagram da presidente Dilma Rousseff e, em 2014, ano da Copa do Mundo no Brasil, afirmou ter derrubado o site da Abin (Agência Brasileira de Inteligência Nacional).

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