REELEITO

América Latina quer mudanças no 2º mandato de Obama

A América Latina esteve praticamente ausente das campanhas de Obama

France Press
07/11/2012 às 17:01.
Atualizado em 26/04/2022 às 17:18

A América Latina, negligenciada na última década pelos Estados Unidos, espera mudanças em relação a Cuba e à fracassada guerra contra as drogas após a reeleição de Barack Obama, mas sem esperanças de conseguir sua antiga reivindicação de acesso ao mercado agrícola americano.

Especialistas consultados pela AFP acreditam que a vitória do presidente democrata pode levar a uma flexibilização com a ilha comunista e a uma política de combate às drogas menos focada na repressão, mas a região está ciente de que não é uma das prioridades de Washington.

A América Latina esteve praticamente ausente das campanhas de Obama e de seu rival republicano, Mitt Romney.

A região só apareceu na campanha, "como um mercado para resolver os problemas econômicos dos Estados Unidos, que impõem medidas protecionistas, principalmente na agricultura", lamentou recentemente Marco Aurélio Garcia, principal assessor sobre relações internacionais da presidente Dilma Rousseff, ao jornal Valor Econômico.

O vácuo deixado pelos Estados Unidos foi parcialmente ocupado pelo Brasil, que se estabeleceu como o líder de uma região que tem aumentado gradualmente a sua independência de Washington desde 1999, quando os presidentes sul-americanos convocados pelo Brasil se reuniram pela primeira sem os Estados Unidos.

A partir de então, a região ganhou autonomia e criou seus próprios órgãos de coordenação política regional sem a presença de Washington, como a União das Nações Sul-Americanas (Unasul) e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac).

"Para o Brasil este esquecimento foi bom. O Brasil continua a avançar economicamente na região, politicamente está muito bem" e as relações com o governo de Barack Obama são "excelentes", considerou o ex-embaixador do Brasil em Washigton, Rubens Barbosa, ressaltando, contudo, que os Estados Unidos "não vão abrir o setor agrícola que nos interessa".

"No caso brasileiro, a coisa mais importante é defender o fim do protecionismo. Queremos ter acesso ao mercado americano", mas "os Estados Unidos têm outras prioridades", afirmou Bruno Borges, especialista em Relações Internacionais da PUC-Rio.

-- Pequena margem de manobra --

Os especialistas não esperam mudanças em relação à Venezuela, de quem Washington compra um milhão de barris de petróleo por dia e que não é considerada uma ameaça, mas acreditam que Obama poderia abrir a porta para uma flexibilização em Cuba.

"Obama sabe que não pode ser reeleito para um terceiro mandato, por isso terá mais liberdade nestes quatro anos" do que em seu primeiro governo, declarou David Fleischer, da Universidade de Brasília, ao destacar a possibilidade de mudanças na política envolvendo Cuba.

No entanto, por não ter recuperado a maioria na Câmara de Representantes, sua margem de manobra será pequena, alertou.

O presidente americano já eliminou restrições ao envio de remessas a Cuba e ampliou as permissões para viajar à ilha. Havana anunciou, por sua vez, que a partir de janeiro os cubanos não vão precisar de permissão para viajar ao exterior.

Obama "já não tem nada a perder. Queria realizar uma abertura desde o início, não fez isso porque a comunidade cubana não permitiu", mas agora "será capaz de uma abertura maior", indicou Barbosa.

Mas para Oliver Stuenkel, da Fundação Getúlio Vargas, Cuba "não é uma prioridade para Obama", que deverá lidar com um Congresso mais radicalizado e coma a forte oposição do bloco anticastrista na Flórida. Obama fará uma aposta melhor "se esperar que Raúl Castro abra mais o país", considerou.

Assim mesmo, a reeleição de Obama desperta esperanças sobre novas maneiras de enfrentar a violência ligada ao narcotráfico, que apenas no México, que compartilha 3.200 km de fronteira com os Estados Unidos, causou 60.000 mortes nos últimos seis anos.

Obama terá "uma maior abertura para o debate sobre uma eventual mudança na estratégia repressiva contra a produção e comercialização da droga", acredita Mario Torrico, da Faculdade de Ciências Sociais do México.

Em sua última reunião com seus colegas latino-americanos, em Cartagena em abril, Obama aceitou estudar alternativas à guerra contra as drogas lançada pelos Estados Unidos em 1971 e centrada na interdição, que não diminuiu nem a produção nem o consumo.

"Não podemos analisar o tema da oferta sem considerar a questão da demanda dos Estados Unidos", devemos trabalhar com países como o México "não apenas em cima das drogas que chegam ao norte, mas também das armas e do dinheiro provenientes do sul", admitiu na ocasião.

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