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Ainda sem vacina, País supera 200 mil mortes

Em quase 10 meses desde que ocorreu a primeira morte no Brasil, perdemos o equivalente às populações da cidade de Araçatuba ou de Angra dos Reis

Estadão Conteudo
Estadão Conteúdo
08/01/2021 às 07:46.
Atualizado em 22/03/2022 às 13:40
Covas abertas para vítimas da Covid-19, em 2020, no Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus (Michael Dantas/AFP)

Covas abertas para vítimas da Covid-19, em 2020, no Cemitério Nossa Senhora Aparecida, em Manaus (Michael Dantas/AFP)

O Brasil superou a marca de 200 mil mortos pela Covid-19, quando muitos já temem que possa ser o pior momento da pandemia no País. A curva de casos e mortes voltou a ser ascendente. Ao mesmo tempo, parte da população abandonou os cuidados e se aglomerou nas festas de fim de ano, novas variantes do vírus circulam e ainda não há clareza de quando começa a vacinação.

Em quase 10 meses desde que ocorreu a primeira morte no Brasil, perdemos o equivalente às populações da cidade de Araçatuba ou de Angra dos Reis. Até as 17h de ontem, foram registradas 200.011 mortes, conforme levantamento feito pelo consórcio de imprensa junto às Secretarias estaduais de Saúde.

E o cenário projetado para as próximas semanas é sombrio. Quando o País atingiu 100 mil mortos, em agosto, a média móvel de vítimas indicava início de queda e parecia que a situação começaria a melhorar. Mas ao contrário da Europa, que teve claramente a primeira e uma segunda onda, no Brasil o número de novas infecções e óbitos nunca arrefeceu.

A média móvel de mortes baixou da casa de mil, em agosto, para pouco mais de 300 na primeira dezena de novembro, mas logo depois voltou a subir. O epidemiologista Paulo Lotufo, da USP, compara esse movimento com o de um avião arremetendo ao tentar pousar. "Parecia que estávamos em declínio mesmo, mas não chegamos a zerar. Tivemos o impacto das eleições municipais. Os números de internações estavam claramente subindo, mas ninguém queria adotar medidas restritivas e impopulares. Aí veio o fim de ano. Vi casos de irresponsabilidade total, e vamos ver o resultado disso agora. A expectativa é péssima", alerta.

Para Deisy Ventura, professora de Ética da Faculdade de Saúde Pública da USP, o governo federal sempre atuou para que a doença seguisse seu ritmo natural, sem construir obstáculos, com a ideia de que quanto mais rapidamente se disseminasse, mais rapidamente passaria. “Isso é um absurdo por todos os aspectos. Mas havia a certeza de que os Estados fariam tudo para evitar o colapso do sistema de saúde. Em 2021, parece que esses freios podem não funcionar”, disse.

No fim do ano, o Amazonas fechou o comércio, mas recuou após protestos. O Estado só adotou restrições esta semana, por ordem da Justiça, para conter a alta de mortes — em Manaus o número de sepultamentos saltou 193% no último mês. Nas festas de fim de ano, o governo paulista determinou que cidades mantivessem só atividades essenciais, mas parte das cidades não cumpriu a medida.

O que se viu foram praias e comércio lotados, ausência de distanciamento social e do uso de máscaras. "Vejo a população respondendo diretamente ao estímulo dado pelo governo federal quando ataca as medidas de contenção do vírus", opina Deisy.

"Temos a tendência a responsabilizar as pessoas individualmente, mas elas estão respondendo a um movimento político escandaloso que preconiza que a doença não é grave ou só é grave para alguns, o que sabemos que é mentira. Ninguém está livre de um agravamento", diz.

"Em um outro ambiente institucional, esse comportamento seria repudiado. Mas quando a desobediência é encorajada pelo governo, temos um efeito de banalização de condutas que deveriam ser rechaçadas", ressalta.

2021 será pior

Deisy faz uma previsão dramática para as próximas semanas: "O ano novo pode ser o pior possível. Temo que cenas que não chegamos a ver em 2020, ou vimos pouco no Brasil, se tornem comuns. Vamos ter pessoas morrendo na rua, caminhões de cadáveres, cemitérios sobrecarregados e devemos ter a tão temida sobrecarga das unidades de saúde e de UTIs. E vamos ter, com mais intensidade, a perda de pessoas próximas".

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