Plantio

Agricultores debatem valor da semente crioula

Plantio da semente é feito sempre da mesma forma, sem interferência

Agência Brasil
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14/02/2019 às 11:01.
Atualizado em 04/04/2022 às 23:57

Ao todo, estima-se que estejam ativos, em todo o semiárido brasileiro, mais de 1 mil casas e bancos comunitários de sementes. Desse total, calcula a ASA, 460 receberam apoio do Programa Sementes do Semiárido, estruturado em 2015, pelo então Ministério do Desenvolvimento Social. O perímetro do Cariri da Paraíba abrange 29 municípios e é considerado o mais seco do estado. Como destacou o geógrafo Bartolomeu Israel de Souza, em sua tese de doutorado Cariri paraibano: Do silêncio do lugar à desertificação, apresentada na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), não obstante os solos da região sejam originários de rochas cristalinas, sendo predominantemente rasos e argilosos, têm uma fertilidade variada, que facilita atividades agrícolas. "Tive a oportunidade de trabalhar com eles [agricultores] três demandas específicas. Uma era dar visibilidade à qualidade das sementes crioulas. No caso, com as Sementes da Paixão. Para isso, fizemos ensaios, testes, comparando variedades crioulas e convencionais - somente convencionais, não transgênicas. Na oportunidade, houve uma política do governo de destruição de sementes. Só que eram sementes de uma variedade única, que é distribuída em todo o semiárido", explicou Amaury Santos, quanto à pesquisa da Embrapa. Segundo o agrônomo, que trabalha na Embrapa Tabuleiros Costeiros, em Aracaju (SE), a destruição das sementes prejudicava os agricultores paraibanos, já que ignorava a diversidade da região. "A outra demanda seria em relação a melhorar o processo de produção das sementes, com algumas tecnologias. E, finalmente, a questão de armazenamento e conservação de sementes em um período maior", disse. Santos afirmou que as sementes crioulas têm valor para as comunidades de agricultores familiares porque fazem com que eles tenham autonomia. O incentivo vai ao encontro de dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO/ONU), que indicam que mais de 80% dos alimentos do mundo são produzidos por núcleos da agricultura familiar. "A Embrapa atua como parceira deles, juntando nosso conhecimento acadêmico com o conhecimento popular dos agricultores, mas é importante frisar que o protagonismo é deles", enfatizou. Preconceito Ele alertou que a semente crioula nem sempre tem tido a atenção que merece. "Às vezes, quando você pergunta para o agricultor familiar se ele tem semente crioula e ele fala que não tem. Ele tem, mas diz que não, porque tem vergonha. Porque, em muitos momentos, diziam que isso era um atraso. Então, muitas vezes, ficava com vergonha e até jogava fora, perdia essa semente, que é um grande patrimônio, reconhecido no mundo todo, como patrimônio para toda a humanidade". Residente de um assentamento rural na Paraíba, Euzebio Cavalcanti, um dos produtores que integraram o grupo da pesquisa da Embrapa, diz que a iniciativa colaborou para o fortalecimento de sua atuação. "A comunidade passou a perceber com mais carinho o instrumento que tinha. A gente teve essa vitória de fazer com que as pessoas se sentissem mais guardiãs da terra." "A Embrapa considerou o diálogo com a comunidade. Antes era só o pesquisador. Com o projeto, pensou-se também em olhar para quem se vai pesquisar, se é só para o agronegócio ou também para a agricultura familiar", afirmou. De acordo com Amaury Santos, este ano, a Embrapa deve manter três projetos relacionados às sementes crioulas, sendo um na Região Sul, outro em Goiás e um terceiro no semiárido. Todos contarão com o apoio do BNDES.

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