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Adversários, Lira e Rossi votam igual na Câmara

Em 10 dos principais projetos votados em 2019 e 2020, os dois deputados apoiaram propostas do governo federal

Estadão Conteudo
Estadão Conteúdo
07/01/2021 às 08:03.
Atualizado em 22/03/2022 às 13:45
Deputados estão hoje em campos opostos na disputa pela Câmara, mas têm votado do mesmo lado (Divulgação)

Deputados estão hoje em campos opostos na disputa pela Câmara, mas têm votado do mesmo lado (Divulgação)

Os deputados Arthur Lira (Progressistas-AL) e Baleia Rossi (MDB-SP) estão hoje em campos opostos na disputa pela presidência da Câmara, mas o histórico de votações mostra que eles costumam ficar do mesmo lado no plenário. Em dez das principais votações dos últimos dois anos, ambos votaram a favor de projetos do governo Jair Bolsonaro em oito oportunidades, como a reforma da Previdência e a medida provisória da liberdade econômica.

Embora seja o candidato avalizado pelo atual presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e tenha chancela da oposição, Baleia tem índice de apoio ao governo federal maior que Lira. Segundo estudo da consultoria de análise política Arko Advice, o parlamentar paulista votou com o governo em 90,24% das proposições de 2019 e em 77,82% das pautas do ano passado. Lira acompanhou o governo em 86,29% das votações em plenário ocorridas há dois anos e em 70,59% das pautas do governo em 2020.

"Se você olhar as matérias mais relevantes, os dois votaram de modo muito parecido", disse Cristiano Noronha, vice-presidente da Arko Advice. "Não vejo grande diferença entre os dois na pauta econômica e regulatória". Assim como a maioria dos deputados, Baleia e Lira votaram a favor da Reforma da Previdência, que mudou regras da aposentadoria e cuja aprovação, em parte, é creditada ao esforço de Maia; da ajuda de R$ 60 bilhões para Estados e Municípios; e do novo marco do saneamento básico, que facilita a participação de empresas privadas na exploração do serviço de água e esgoto.

"Nós dois somos base. Ser oposição na hora de fazer manifesto é uma coisa, na prática, é outra", disse Lira. "Perdemos muito nos últimos dois anos com falta de previsibilidade e a falta de cumprimento dos acordos." Procurado pela reportagem, Baleia não se manifestou até a conclusão desta edição.

Economia

Uma das responsabilidades do próximo presidente da Câmara dos Deputados será dar continuidade à agenda de reformas e à pauta econômica, pressionada pela pandemia. Existe a expectativa entre parlamentares de que as reformas tributária e administrativa sejam discutidas até 2022.

Para Adriano Laureno, economista sênior da Prospectiva Consultoria, os dois candidatos são menos fiéis à agenda liberal do que Maia e mais propensos à concessão de benefícios setoriais, como isenções de impostos que atingem apenas uma área da economia. "A grande diferença entre eles é na reforma tributária", afirmou.

Baleia é o autor da proposta de emenda à Constituição (PEC) 45, que prevê a extinção de cinco tributos que incidem sobre o consumo: IPI, PIS, Cofins, ICMS e ISS. Eles seriam substituídos pelo Imposto sobre Operações com Bens e Serviços (IBS). O relator da proposta é o deputado Aguinaldo Ribeiro (Progressistas-PB), do mesmo partido de Lira.

Preocupado com o discurso das reformas, o deputado alagoano já se encontrou com o ministro da Economia, Paulo Guedes, algumas vezes. Rompido com Maia, Guedes vê Lira mais "alinhado" à agenda econômica, dizem interlocutores.

Costumes

Segundo analistas, o apoio do Planalto a Lira indica que o candidato pode ter mais chances de colocar em votação a chamada pauta de costumes. Cabe ao presidente da Câmara escolher o que será votado. Nos últimos anos, Maia evitou pautar propostas como Escola Sem Partido, criminalização da "ideologia de gênero" e a flexibilização da educação domiciliar. 

Os parlamentares tiveram a oportunidade de votar projetos ligados à área de segurança e armamentos. Tanto Lira quanto Baleia foram a favor do pacote anticrime, apresentado inicialmente pelo ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro. Ambos concordaram com a criação do juiz de garantias, um magistrado que não acompanharia a fase de produção de provas e só faria a instrução e julgamento.

Os dois candidatos foram a favor, também, da regulamentação de posse e porte de armas para colecionadores, atiradores e caçadores - Lira chegou a apresentar uma emenda. A oposição, que hoje apoia Baleia, foi contra a proposta.

Cúpula do Legislativo avalia fazer eleição virtual

A cúpula da Câmara dos Deputados avalia a possibilidade de promover votação virtual na eleição que vai escolher o sucessor do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em 1° de fevereiro. Embora ainda não haja decisão sobre o assunto, o deputado Arthur Lira (Progressistas-AL), candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, já se articula para barrar eventual mudança no sistema de votação e seus aliados falam até em risco de ataques hackers.

A mobilização de 513 deputados para eleger quem comandará a Câmara no biênio 2021-2022 impõe um desafio logístico ao Legislativo por causa da pandemia do novo coronavírus. O candidato de Maia, deputado Baleia Rossi (MDB-SP), atraiu o apoio do PTe de outros partidos de oposição, formando um bloco com maior número de deputados do que o de Lira.

Nos bastidores, adeptos da campanha de Lira dizem que ele tem mais chances de vencer a disputa se a eleição for presencial, porque pode virar votos no corpo a corpo, e há até mesmo quem aponte o receio de fraude na votação. Em documento enviado a Maia em 22 de dezembro, o senador Ciro Nogueira (PI), presidente do Progressistas, disse que o regimento da Câmara dos Deputados prevê apenas votações presenciais “Como garantir que o processo de escolha daquele que ocupará a 3ª posição constitucional na linha sucessória da Presidência da República não seja contaminado por ataques de hackers?.”

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