Ação ilegal ocorreu durante o mandato de Jair Bolsonaro e tinha o objetivo de acompanhar ações de personalidades tidas como opositoras do governo
De acordo com as investigações da Polícia Federal, a Abin teria monitorado ilegalmente autoridades e jornalistas por determinação do governo de Jair Bolsonaro (Antonio Cruz/Agência Brasil)
A Agência Brasileira de Inteligência (Abin) no governo Jair Bolsonaro monitorou ilegalmente, segundo a Polícia Federal, ao menos quatro ministros do Supremo Tribunal Federal, quatro deputados federais, quatro senadores, um ex-governador, dois servidores do Ibama, três auditores da Receita e quatro jornalistas. A lista foi descoberta pelos investigadores da Operação Última Milha, que teve sua quarta fase aberta ontem. Foram presos quatro auxiliares do ex-chefe da Abin, Alexandre Ramagem, e integrantes do chamado 'gabinete do ódio'.
Segundo a PF foram monitorados, no âmbito do Poder Judiciário, os ministros Alexandre de Moraes, Dias Toffoli, Luís Roberto Barroso e Luiz Fux, todos do Supremo Tribunal Federal. No Legislativo, os alvos foram os deputados Arthur Lira, atual presidente da Câmara; Rodrigo Maia (então presidente da Câmara), Kim Kataguiri e Joice Hasselmann, além dos senadores Alessandro Vieira, Omar Aziz, Renan Calheiros e Randolfe Rodrigues.
Os membros do Poder Executivo atingidos pela arapongagem ilegal foram o ex-governador de São Paulo, João Dória; os servidores do Ibama Hugo Ferreira Netto Loss e Roberto Cabral Borges; os auditores da Receita Christiano José Paes Leme Botelho, Cleber Homen da Silva e José Pereira de Barros Neto. O monitoramento alcançou, ainda, os jornalistas Mônica Bergamo, Vera Magalhães, Luiza Alves Bandeira e Pedro Cesar Batista.
Na ação de ontem, a PF cumpriu cinco mandados de prisão preventiva, dois deles contra influenciadores digitais que trabalhavam para o "gabinete do ódio", investigados pela suposta "criação de perfis falsos e a divulgação de informações sabidamente falsas", que teriam sido usadas contra membros dos Três Poderes e jornalistas.
Principal alvo do inquérito que apura as supostas espionagens na Abin, o exchefe da Agência, hoje deputado federal e pré-candidato a prefeito no Rio, Alexandre Ramagem (PL-RJ), é investigado no caso por supostamente ter autorizado investigações paralelas, sem autorização judicial e sem indícios mínimos de materialidade que justificassem as apurações. Segundo a PF, algumas das apurações tentavam confirmar fake news que circulavam em grupos bolsonaristas.
No bojo da investigação, a PF apura não só a espionagem ilegal de desafetos do governo Bolsonaro, mas também o eventual uso da agência em benefício dos aliados do ex-presidente, com a produção de informações em linha com a "narrativa política" do ex-chefe do Executivo. Uma vez produzidos com o aparato estatal da agência, os conteúdos seriam repassados para o "gabinete do ódio" promover a divulgação.
O filho "02" do ex-presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ), já foi alvo em outra fase da operação, a Vigilância Aproximada, sendo apontado como principal nome de um suposto "núcleo político" da espionagem na Abin. O nome dele também apareceu na delação premiada do exajudante de ordens do governo Bolsonaro, tenentecoronel Mauro Cid, que apontou Carlos como o líder do grupo de assessores do Palácio do Planalto que atuava nas redes sociais disseminando notícias falsas.
O início da investigação que apura os supostos crimes na Abin foi decorrente de dois inquéritos, o das fake news e o das milícias digitais, ambos que levaram a PF ao nome de Carlos. O "gabinete do ódio" veio à tona por ser motivo de uma dissidência na família do expresidente. O filho mais velho do ex-chefe do Executivo, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), não concordava com a estratégia de ataques e acreditava que as ações atrapalhavam as articulações do governo.
Os influenciadores presos ontem são Richards Pozzer, artista gráfico indiciado na CPI da Covid por suposta disseminação de desinformação; e Mateus de Carvalho Spósito, ex-assessor da Coordenação-Geral de Conteúdo e Gestão de Canais da Secretaria de Comunicação Institucional, também investigado na CPI da Covid.
A investigação apura supostos crimes de organização criminosa, tentativa de abolição do Estado Democrático de Direito, interceptação clandestina de comunicações e invasão de dispositivo informático alheio.
DEFESA
Pelas redes sociais, o senador Flávio Bolsonaro disse que a divulgação do relatório de investigação foi feita para prejudicar a candidatura de Ramagem à prefeitura do Rio de Janeiro.
"Simplesmente não existia nenhuma relação minha com Abin. Minha defesa atacava questões processuais, portanto, nenhuma utilidade que a Abin pudesse ter. A divulgação desse tipo de documento, às vésperas das eleições, apenas tem o objetivo de prejudicar a candidatura do delegado Ramagem à prefeitura do Rio de Janeiro", afirmou o senador. Até o fechamento desta matéria, os demais citados ainda não haviam comentado o caso.
*Com trechos da Agência Brasil.
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