Circularam nas redes sociais, semana passada, fotos realçando uma criação escandinava. As imagens mostravam aperfeiçoada figura feminina, construída em silicone, sugerindo mulher esteticamente bela, jovem (20 a 25 anos) e eroticamente forte. A boneca traz vários sensores que respondem a toques e carícias, especialmente genitais. A atualidade é pródiga em chances de relacionamentos virtuais e artificiais, mergulhando as pessoas em esquemas ilusórios e oníricos. As drogas, tão combatidas pela sociedade, mas tão disponíveis no mercado, e o álcool, perigosíssimo mas legalizado, também promovem delírios, com seus efeitos tóxicos e alucinógenos. Sonhar não faz mal a ninguém, é até necessário, fundamental para o equilíbrio mental e o controle emocional, mas, quando a tecnologia extrapola o limite racional, o risco pode levar a perdas irreparáveis. A jornalista e escritora Marina Collasanti comentou, em seu blog, que máquinas escritoras fazem textos e poesias. O exercício cerebral, tão importante e saudável para alguém que se dedica a escrever uma crônica, compor um poema, é dispensado por aqueles que preferem a acomodação da cópia ou do artifício faccioso. A substituição robótica dos nossos dias é extraordinária, "transumana", dando a impressão de que o futuro é antecipado em todos os momentos do presente. No entanto, podemos respeitar e reciclar as virtudes do passado, readaptando-as ao contexto ambivalente do "presente/futuro". Há aproximadamente um século, os moços iniciavam a vida sexual com meretrizes. Seria ruim chegar aos 20 anos sem experimentar o sexo. As moças, preocupadas em preservar a virgindade, evitavam o contato genital. Hoje, a mulher que se aproxima dos vinte anos e continua virgem se questiona, preocupada em não atrasar a iniciação. Por seu lado, os homens têm várias parceiras à disposição para transar, bem como ainda há muitas prostitutas no mercado. Na situação atual, então, como imaginar que ainda existam homens que recorrem a uma boneca inflável ou a essa androide de silicone? Quando se serve de um acessório erótico, a mulher se limita ao "dildo", vibrador que equivale a um dedo ou a um pênis, não há interesse pelo corpo inteiro. Ela usa a imaginação, ativa suas fantasias sexuais e afetivas e o instrumento a ajuda mecanicamente a excitar-se, masturbar-se e ter orgasmo(s). Muitos homens, entretanto, devido à estreiteza espiritual das suas personalidades, são capazes de consumir o sexo com corpos artificiais. A limitação anímica já se caracteriza quando o homem contrata a prostituta. Trata-se de relação muito pobre e enganosa. A moça faz seu trabalho, um teatro mambembe, e o sujeito se acha grande macho, capaz de satisfazê-la... O cérebro masculino fica ainda mais murcho, mesmo que o pênis reaja com boa ereção, quando o sujeito se encanta com uma armação de silicone, uma boneca inflável. É realmente uma pobreza de espírito insuportável.