Astrócito ( Divulgação)
Que o cérebro é constituído por neurônios, todo mundo sabe. Mas o que nem todos desconfiam é que a maior parte das células cerebrais – entre 90 e 98% – é de células gliais, ou glia. Por décadas, os cientistas acreditaram que os neurônios eram os responsáveis por toda a comunicação no cérebro e sistema nervoso, e que as células gliais, embora nove vezes mais numerosas que os neurônios, apenas os alimentavam. Pesquisas recentes mostram que a glia tem importância maior. Elas cumprem funções de cercar os neurônios e mantê-los no seu lugar, fornecer nutrientes e oxigênio, isolar um neurônio do outro, destruir patógenos e remover neurônios mortos. Atualmente, acredita-se que a glia contribua para a atividade encefálica, dando suporte às funções neurais. Sem elas, o encéfalo não funciona direito. Mas o que são elas? As células gliais mais numerosas no encéfalo são os astrócitos, que ocupam a maior parte do espaço que não está ocupado por neurônios ou vasos sanguíneos. Têm o formato de estrela, de onde vem o seu nome (astro= estrela, cito= célula). Como preenchem o espaço entre os neurônios, os astrócitos provavelmente influenciam a possibilidade de um neurito (axônio ou dendrito do neurônio) crescer ou retrair-se. Foto: Divulgação Astrócito Um papel dos astrócitos é a regulação do conteúdo químico desse espaço extracelular. Eles envolvem as sinapses, restringindo a difusão de moléculas neurotransmissoras que foram liberadas. Também apresentam, em suas membranas, proteínas especiais, que removem os neurotransmissores da fenda sináptica. Recentemente, descobriu-se que a membrana dos astrócitos,assim como os neurônios, também têm receptores para neurotransmissores, que podem desencadear eventos bioquímicos e elétricos no interior da célula glial. Além de regular os neurotransmissores, eles controlam as concentrações extracelulares de substâncias que possam interferir nas funções neuronais, como a concentração de íons de potássio, que pode causar problemas sistêmicos. Estudos recentes sugerem que podem ativar a maturação e a proliferação de células-tronco nervosas adultas e, ainda, que fatores de crescimento produzidos pelos astrócitos podem ser críticos na regeneração dos tecidos cerebrais ou espinhais danificados por traumas ou enfermidades. Pensava-se que a rede neuronal cerebral era a única importante para o pensamento e aprendizagem. Mas os resultados atuais sugerem que os astrócitos podem ser tão importantes para certas funções corticais quanto os neurônios. Como a proporção entre o número de células gliais e de neurônios aumenta à medida que se consideram animais evolucionariamente mais desenvolvidos, pensa-se que as ondas de cálcio propagadas por meio da rede de astrócitos podem contribuir para uma maior capacidade de aprendizagem. Formadores de mielina Foto: Divulgação Bainha de mielina Outros tipos de célula glia, diferente dos astrócitos, são os oligodendrócitos e as células de Shwann. Os oligodendrócitos (ou oligodendróglia) são as células responsáveis pela formação, e manutenção das bainhas de mielina dos axônios, no sistema nervoso central (encéfalo e medula). A mesma função no sistema nervoso periférico (partes fora do crânio e coluna vertebral) é executada pelas células de Schwann. Apenas um oligodendrócito contribui para formação de mielina em vários neurônios, ao contrário da célula de Schwann que mieliniza apenas um axônio.E qual é a importância da mielina? Sua função é acelerar a velocidade da condução do impulso nervoso ao longo do axônio. A célula envoltória forma dobras múltiplas e em espiral em torno do axônio. Ao conjunto dessas dobras múltiplas denomina-se bainha de mielina e as fibras são chamadas de fibras nervosas mielínicas. A perda da mielina provoca uma grande variedade de sintomas. Se a bainha de mielina que envolve a fibra nervosa for lesada ou destruída, os impulsos nervosos se tornam cada vez mais lentos ou não são transmitidos. A perda da bainha também pode provocar curtos-circuitos ou bloqueios da transmissão dos impulsos nervosos. Uma região que mostra claramente a mielina destruída é chamada lesão ou placa. Os sintomas de tal deficiência são, entre outros, deficiências sensitivas (como visão borrada), dificuldades de coordenaçãoe nas funções corpóreas (por exemplo, controle insuficiente da bexiga). A esclerose múltipla e a síndrome de Guillain-Barré A importância da mielina para a normal transferência de informação no sistema nervoso pode ser aferida por uma doença neurológica, conhecida como esclerose múltipla, é uma doença causada pela perda da bainha de mielina (desmielinização) dos neurônios. Os pacientes geralmente se queixam de fraqueza, falta de coordenação e dificuldades de visão ou fala. Embora a causa exata ainda seja desconhecida, a causa dos distúrbios está clara: a esclerose múltipla ataca as bainhas de mielina dos axônios do encéfalo, medula espinhal e nervos ópticos. O nome deriva da palavra grega para “endurecimento”, descrevendo lesões que atacam os axônios. O adjetivo “múltipla” é porque atinge diferentes locais do sistema nervoso. Outra doença desmielinizante é a síndrome de Guillan-Barré, que tem caráter autoimune. O indivíduo produz anticorpos contra sua própria mielina. Então os nervos acometidos não podem transmitir os sinais que vêm do sistema nervoso central com eficiência, levando a uma perda da habilidade de grupos musculares de responderem aos comandos cerebrais.Em muitas pessoas o início da doença é precedido por infecção de vias respiratórias altas, de gastroenterite aguda e antecedentes de infecções agudas por uma série de vírus. O que se pode concluir, portanto, é que a glia é fundamental para o funcionamento cerebral. Outras células gliais Além dos astrócitos e oligodendrócitos, ainda há outras células gliais no encéfalo. As células ependimais revestem os ventrículos cerebrais (cavidades existentes no cérebro), secretam o fluído cérebro espinhal (ou líquido cefalorraquidiano) e podem atuar como células tronco.Os microgliócitos ou microglias são as menores células do sistema nervoso e têm a função de remover fragmentos celulares gerados pela morte ou degeneração de neurônios e glias. Foto: Divulgação Célula ependimal Agora, que já traçamos um panorama sucinto das estruturas básicas do sistema nervoso em nível celular, estamos prontos para adentrar na estrutura macroscópica do sistema nervoso, para compreender a função encefálica. É o que veremos a partir de nosso próximo encontro. Até lá.