O suíço veio passar férias no Brasil. Cansado do frio da Europa e das dores que lhe afetavam as articulações, principalmente quando a neve cobria os Alpes, resolveu ver outras plagas, como falavam os poetas antigos, tipo Castro Alves, desceu do avião no aeroporto do Galeão no Rio de Janeiro e logo procurou a Praia de Copacabana, lugar desconhecido para ele, mas conhecido pelo mundo. Deixou as malas no hotel, colocou o short vermelho que trazia na bagagem e correu para a praia.
Que sol maravilhoso! Que praia larga! Quantos vendedores ambulantes que transitavam de um lado para outro oferecendo guloseimas dos mais variados gostos! E a caipirinha! Como puderam inventar uma bebida doce-amarga com cheiro de céu! Como era gostosa! Estava no paraíso! E que paraíso! Paraíso terrestre com incontáveis Evas com mini-maiôs, menores do que a folha de parreira da Eva original! E como eram lindas as Evas brasileiras.
Eram loiras, morenas, mulatas, negras, olhos puxados, olhos castanhos, azuis, verdes, da cor do mar, da cor da esperança, da cor da saudade! Havia acabado de chegar e já estava sentindo a saudade prematura de quando fosse embora e se lembrasse dessa praia maravilhosa! Ainda não havia tido oportunidade de olhar com detalhes para o mar, tal as atrações que a praia lhe oferecia! Levou alguns minutos para que o seu olhar se perdesse na imensidão das águas serenas da Baía de Guanabara.
Quando a viu, entretanto, caiu de joelhos frente à beleza estonteante das ondas que pareciam desenhos de formas arredondadas e caprichadas em uma cartolina azul! Tomou uma caipirinha! Tomou a segunda e a terceira! Comeu um belisco salgado, um camarão no espeto, uma espiga de milho cozida e mais uma caipirinha! Sentiu-se no céu! Estava no céu! Como haviam criado um lugar tão maravilhoso e não lhe haviam ainda contado?
Como havia vivido 30 anos sem conhecer esse paraíso? Nunca vira lugar igual em sua vida! Nunca havia ficado tão extasiado!Passado o êxtase, foi banhar-se! Deixou debaixo da esteira a carteira e os documentos! Pensou que estava na Suíça, ou na Alemanha! Estava feliz demais para se lembrar desse pequeno detalhe, porque estava no paraíso! Queria agradecer aos céus por estar ali naquele momento!
Chegou a iniciar uma pequena prece, mas a onda derrubou-o e ele, ao invés de rezar, passou a rir! Era só felicidade! Olhou para o relógio: quatro horas da tarde! O sol, o sal e a areia começaram a incomodá-lo. Havia exagerado na caipirinha e no sol! Precisava de um banho completo! Saiu da água! Pegaria seus apetrechos e se dirigiria para o hotel! Que apetrechos? Onde estavam? Procurou-os embalde! Alguém os havia levado. Precisava avisar a polícia! Onde estava a polícia?
Por um minuto sentiu-se nu como Adão diante de Deus! Por alguns minutos ficou olhando para alguns moleques que saqueavam outros incautos. Caiu em si, não pensou mais, dirigiu-se ao hotel, fechou a mala e preparou-se para voltar para a sua terra natal! Como havia sido enganado! Lá estava o verdadeiro paraíso!