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MUDAR PARA MELHOR

Coaching: Uma das missões do coache, que pode ser entendido como treinador, é despertar o espírito de liderança no aprendiz.

Érica Araium
19/10/2012 às 19:37.
Atualizado em 26/04/2022 às 20:21

O termo coaching é conjugado nos Estados Unidos desde a década de 70 e, aos poucos, vem cativando executivos e líderes inatos mundo afora. Inclui-se aí o Brasil, que já conta com instituições reconhecidas internacionalmente, voltadas, também, à formação de novos experts, caso do Instituto Brasileiro de Coaching (IBC).

Recentemente, a editora Ser Mais lançou Master Coaches! - Técnicas e Relatos de Mestres do Coaching. Trata-se de uma compilação de artigos de 49 especialistas brasileiros no assunto, entre eles uma campineira. À Metrópole, Svenja Kalteich, alemã radicada no Brasil desde 1994, historiadora da arte e etnóloga por formação, explica como o coaching se diferencia de outras técnicas de aprimoramento pessoal e como a metodologia pode ser aplicada na prática, tanto na vida pessoal quanto empresarial.

Entre tantas metodologias disponíveis como ferramentas ao aprimoramento do indivíduo na atualidade, destaca esse que é um “processo”: “De autoconhecimento, auto-avaliação, aprendizagem, retomada de equilíbrio, redefinição de valores e questionamento de velhas crenças. Um amadurecimento em vários aspectos.”

Metrópole -O que é coaching, afinal?

Svenja Kalteich - Existem muitas definições. Na maioria das vezes, o termo é definido como uma parceria entre coach e coachee. É assim que se chama o cliente no coaching. O coach tem por objetivo apoiar o coachee a alcançar metas e objetivos específicos num tempo determinado. Se pudéssemos definir o coaching em poucas palavras, eu diria que o coaching é um processo de mudança para o melhor.

A metodologia de treinamento remonta à década de 70?

Sim. O coaching surgiu nos Estados Unidos, fez sucesso na Europa e está conquistando agora o mundo. O termo deriva de “coach”, carruagem. Como um carro que o leva de um ponto ao outro, o coach motiva o coachee a sair de um estado atual para o estado desejado. Essa viagem é feita em conjunto. No Brasil, essa proposta é muito recente. Até hoje muitas empresas não usam o coaching no desenvolvimento dos líderes e equipes, muitas pessoas aqui nem sabem o que é coaching. Mas isso vai mudar.

O objetivo do coaching é provocar mudanças duradouras no indivíduo, segundo afirma. Isso se aplica de que maneira no contexto pessoal e empresarial?

Não existem empresas saudáveis com pessoas insatisfeitas e infelizes. O bem-estar humano é fundamental, e as empresas já perceberam isso. O coaching estimula as pessoas a identificar e a solucionar problemas, a desenvolver novas habilidades, a olhar para a situação existente por meio de outros ângulos e, assim, ir percebendo novos caminhos e soluções, que pareciam inatingíveis. É um processo de autoconhecimento, auto-avaliação, aprendizagem, retomada de equilíbrio, redefinição de valores e questionamento de velhas crenças. Um amadurecimento em vários aspectos.

O que não é coaching?

Bem, coaching é um processo, usando ferramentas específicas aplicadas com o objetivo de aprimoramento pessoal ou coletivo, no caso de grupos empresariais, por exemplo. De qualquer maneira, é um processo personalizado, sempre. Mentoring (um profissional sênior servindo de modelo a outro), counseling (aconselhamento), terapia (voltada à saúde mental do indivíduo), treinamento (um para muitos), consultoria (desenvolvimento de um negócio, de maneira global, ou solução de um problema do negócio) e ensino (transmissão de conhecimento de um professor a um aluno). Todos esses termos não definem o coaching.

Pode-se concluir que, neste processo, olha-se para o futuro, para o resultado?

Sim, sempre. O foco do coaching é o resultado específico num prazo definido. O processo é focado e curto, dura entre dez e quinze sessões no máximo, com duração de 90 minutos, normalmente. No intervalo entre as sessões, o próprio coachee define “exercícios” ou “tarefas”, que devem ser cumpridas e são analisadas na sessão seguinte. Por quê? Essa é uma maneira de o coachee se sentir comprometido, experimentando que só um novo comportamento vai criar um novo resultado.

Por que resolveu tornar-se coach?

Na Alemanha, estudei História da Arte e Etnologia. Quando vim morar no Brasil, em 1994, atuei durante mais de 12 anos profissionalmente como artista plástica e me realizei. O coaching ficou como que adormecido durante esse período, mas na minha empresa continuei desenvolvendo diversas das minhas habilidades para o coaching. Já lia inúmeros livros em inglês e alemão sobre coaching, PNL (programação neurolinguística) e neurociências. Depois, conclui toda formação acadêmica possível para tornar-me Master Coach Sênior, reconhecido por 7 órgãos mundiais de coaching. Há alguns anos me dedico ao coaching integralmente. Hoje, estou trabalhando no Brasil inteiro, oferecendo o coaching em 3 línguas: português, inglês e alemão. Também sou facilitadora e parceira do IBC (Instituto Brasileiro de Coaching) e continuo amando o que faço. Poder ajudar as pessoas a atingirem seus objetivos é simplesmente recompensador.

Como funciona o coaching intercultural, uma das áreas em que é especializada?

Como uma alemã residente no Brasil, convivendo com novos hábitos, há anos, senti o choque cultural na própria pele. Conheci muito bem os desafios. Cada cultura define os próprios valores e a compreensão do outro é uma nova forma de aprendizado. As empresas multinacionais, por exemplo, costumam fazer treinamentos culturais para a adaptação de seus executivos estrangeiros. Mas, ser informado, não significa automaticamente saber respeitar e viver em harmonia. Por isso o “etnocentrismo” de atitudes referenciadas só pela própria cultura precisa ser substituído pelo “etnorelativismo”, que nada mais é que relativização do comportamento, dadas as novas circunstâncias e valores do meio em que vivemos. Esse aprendizado torna-nos mais tolerantes e respeitosos com a outra sociedade e muda por completo nossa visão de mundo, ajudando-nos a redefinir nosso próprio comportamento.

Você vislumbra que o coaching intercultural pode ser chave, por exemplo, ao desenvolvimento de empresas ou, até mesmo, metrópoles?

Sem dúvida. A Copa do Mundo está chegando, o Brasil vai receber muitas pessoas de fora. Empresas multinacionais abrem escritórios e fábricas aqui, investindo, gerando renda e emprego. E, ao mesmo tempo em que muitos estrangeiros têm vindo para a região de Campinas, por exemplo, as pessoas, de maneira geral, estão viajando mais. O mundo está ficando pequeno com tantas trocas. E os processos de adaptação são intrínsecos à convivência. A comunicação, o entendimento entre representantes de diferentes culturas, a curiosidade sobre os hábitos do outro, tudo isso é muito instigante. Quando se descobre uma nova visão de mundo e se aprende com aquele que lhe é diferente, tomando emprestado dele o que há de positivo, melhora-se.

Como foi sua partipação no livro Master Coaches! - Técnicas e Relatos de Mestres do Coaching?

Essa obra foi elaborada a partir de um convite da editora Ser Mais e eu agradeço muito ter sido convidada. Nele, estão reunidos artigos de 49 Master Coaches, todos representantes da elite brasileira nesta área. Escrevi sobre coaching intercultural, tema que me atrai, que é diferente e ainda não muito explorado no Brasil. Abordo os necessários processos de adaptação, a questão da personalidade, caráter e temperamento de cada indivíduo e os três níveis de desenvolvimento da competência intercultural: afetivo, cognitivo e comportamental.

Que vantagem leva o Coaching em relação a outros treinamentos ou plataformas motivacionais, de desenvolvimento de habilidades e liderança?

O coaching faz o coachee refletir, analisando pontos de melhoramento, pontos fortes, oportunidades e ameaças. A meta é um aprimoramento constante e duradouro, ao contrário da maioria das palestras ou treinamentos motivacionais, que fornecem uma motivação momentânea e que, depois de não muito tempo, faz com que tudo pareça “voltar ao normal”. O que considero também é que, cada indivíduo tem seus próprios objetivos e, por isso, não necessariamente um treinamento generalizado serve da mesma forma para todos. No coaching o coachee trabalha na forma individual em busca do equilíbrio e do que é importante para si, sabendo que o sucesso depende de si mesmo. O coaching se transforma em muito mais do que um processo. Vira uma filosofia de vida, fica para sempre. Uma vez que tenha entrado no coaching, certamente você perceberá isso.

É possível tornar-se um líder, tomar uma decisão acertada em relação à carreira ou emagrecer com ajuda de um coach?

Acredito que a mudança é sempre possível. Substituir uma rotina com uma outra melhor não é fácil, e eu sei. Mas é possível se realmente quisermos. Todos merecemos a melhor vida possível, felicidade, realização e sucesso. Para isso, precisamos conhecer a nós mesmos. O coaching pode ajudar nessa mudança.

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